Experimento Micro-ondas: Dia 03
Acompanhe o experimento desde o começo:
Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas
Dia 1: Experimento Micro-ondas: Dia 01
Dia 3: Experimento Micro-ondas: Dia 03
Dia 20: Mudou o pH, e agora?!
Dia 22: O resultado final
Agora que você já conhece um pouco mais do experimento que está sendo realizado ou o que, chegou a hora de saber o porquê.
Toda nova tecnologia, quando chega ao grande público, vira alvo de polêmicas e conspirações. Com o forno de micro-ondas não foi nada diferente. Criado por acidente em 1947 pela Raytheon, empresa estadunidense que desenvolve sistemas de radares ativos para fins militares e aeroespaciais, o aparelho até hoje é um verdadeiro mistério na cozinha de muitas pessoas. Exploraremos melhor a história e funcionamento do forno de micro-ondas em um futuro próximo.
Polêmicas em torno do micro-ondas ganham força com o alcance e a relativa facilidade de se criar e disseminar conteúdo (as vezes de péssima qualidade) pela Internet. Muitos blogs, quando não atrelados a uma rede que lhes ateste credibilidade (como o nosso querido ScienceBlogs) acabam divulgando conteúdo sensacionalista e por vezes completamente errado. Se é feito por ingenuidade ou com intenções perversas não é nosso foco aqui. O problema é que muitas dessas informações caem nas mãos (ou olhos) de muitas pessoas, que na base da confiança cega e falta de ceticismo acabam acreditando em tudo que leem ali.
Nesse sentido, há o excelente E-Farsas, uma iniciativa de Gilmar Lopes, um Analista de Sistemas que analisa as várias polêmicas e supostas notíciais que circulam na Internet, fazendo e incentivando o bom uso do ceticismo.
Recentemente voltou a circular um velho mito sobre o forno de micro-ondas: que ele teria a capacidade de “alterar a estrutura molecular de água e criar compostos tóxicos”. A alegação era evidenciada a partir de um “experimento” no qual durante 9 dias se molhou uma planta com água fervida no fogão e outra fervida no micro-ondas, e aquelas fervida no micro-ondas morria ao final dos 9 dias. Este suposta notícia foi requentada; surgiu em 2010 comentando sobre a experiência das plantinhas que supostamente havia sido feita em 2006 por uma jovem chamada Arielle Reynolds, para uma feira de ciências em Knoxville, Tennessee, EUA. [1][2]
Esbarrei com esta “notícia” há algumas semanas por um compartilhamento do Facebook. Li com atenção e fiquei um pouco incomodado com algumas coisas:
- Porque o texto não apresenta nenhuma indicação de quais seriam estes “compostos tóxicos” ou ao menos apontaria alguma fonte para consulta aprofundada?
- Porque o experimento foi realizando com apenas duas plantas? Uma amostragem dessas é minúscula para tirar uma conclusão de tal magnitude.
- Já que os resultados foram tão surpreendentes, porque não replicaram o experimento mais vezes e com outras plantas, para aumentar credibilidade?
- Porque justificavam a falta de artigos e publicações sobre o assunto como uma conspiração das fabricantes de eletrodomésticos?
O tom sensacionalista, alarmista e pouco técnico da maioria dos textos que encontrei falando sobre os perigos do uso de fornos de micro-ondas fez soar meu alerta cético interior. Me lembrou muito aqueles pseudodocumentários sobre alienígenas, 11 de setembro, Área 51 e afins. Mas dessa vez era um pouco diferente.
Uma coisa é um pseudodocumentário revisionista, que buscar “relativizar” e “reavaliar” fatos e evidências em busca de uma explicação alternativa para corroborar devaneios de conspiracionistas, onde existe um sentimento de impotência frente ao que está sendo exibido. Outra coisa completamente diferente é a exibição de um suposto experimento, malconduzido, que detalha um aparte da realidade. Isso nós podemos fazer, qualquer um de nós.
O simples experimento que criei utiliza elementos básicos do método científico. Não precisa de muito investimento (minhas estimativas iniciais colocam os custos do experimento em R$120-R$150) nem muito tempo dedicado. Apenas precisa de nossa iniciativa, da não conformação frente a uma notícia mal dada ou um experimento malconduzido.
Reconheço que o ônus da prova recai sobre quem afirma a hipótese, em conduzir um experimento decente, replicável, detalhado e devidamente documentado. Minha intenção aqui é tentar mostrar para o grande público não apenas se a água do micro-ondas faz mal ou não, mas também sobre os benefícios de duvidarmos de informações e explicações reconhecidamente ruins. Quero incentivar o maior número de pessoas possível de que é sim tangível você separar algumas horas por mês e conduzir um experimento científico simples de seu interesse. Não para necessariamente descobrir uma coisa nova ou almejando um Nobel e sim para entender um pouco melhor como o mundo ao nosso redor funciona.
Anseio o dia em que a prática científica amadora seja tão comum quanto tomar café-da-manhã ou assistir à novela das 8. Anseio o dia em que as pessoas não se contentem com as respostas deglutidas e tendenciosas, mas formem as suas próprias quando possível.
Chega de reflexões, vamos às plantinhas:
Todas as plantas estão se desenvolvendo, sobrevivendo e germinando. Umas mais, outras menos, o que será objetivamente avaliado por meio de comparação de biomassa e fotos ao final. Além de ser muito cedo para dizer quais plantinhas estão vivendo melhor, o que cada planta está recebendo está documentado e só será revelado ao final do experimento.
E devo confessar, é quase terapêutico acordar um pouco mais cedo e ir regar as plantinhas, acompanhar sua germinação e crescimento. Recomendo a todos, principalmente para os mais agitados e estressados, replicarem o experimento. Além do exercício científico e relaxamento, acompanhar o crescimento de rúculas e chicórias pode render uma boa salada no final do experimento. Ou você acha que minha mãe está ajudando de graça?
No próximo texto, vamos explorar um pouco melhor o que é verdade e o que não é nas alegações de efeitos dos fornos micro-ondas.
Até a próxima!
Ah, e aceito sugestões de preparo de saladas que envolvam grandes quantidades de Rúculas e Chicórias.
Tulio Baars – http://alexaradio.org/
Fontes:
[1]: “Alimentos preparados no micro-ondas fazem mal à saúde?” – http://www.e-farsas.com/alimentos-preparados-micro-ondas-saude.html
[2]: Tudo começou nesta página: “Microwaved Water – See What It Does to Plants” – http://www.rense.com/general70/microwaved.htm
LOGBOOK 06/02/2014 até 08/02/2014:
– Rúculas de modo geral germinam muito rápido, talvez não sejam adequadas para timelapse;
– Conseguir uma GoPro ou câmera automática para fotos da germinação das Chicórias;
– Há uma visível diferença de crescimento entre alguns grupos de feijão. Ansioso para saber que água recebem;
– Quantidade de água ótima encontrada: 100mL de água por planta. Necessita de mais observações para determinar as diferenças de quantidade de água para cada espécie;
– Ideia para experimento futuro: relacionar o desenvolvimento e germinação em função da diferença entre a temperatura da água regada em relação a temperatura ambiente: plantas preferem água gelada quando está mais quente?
– Borrifar folhas com água, é uma boa ideia? Algumas parecem levemente ressequidas quando vistas com uma lupa.
Acompanhe o experimento desde o começo:
Dia 0: Um garoto contra um mito: Tulio vs Micro-ondas
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Discussão - 4 comentários
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[…] Dia 3: Experimento Micro-ondas: Mudou o pH, e agora?! […]
[…] Experimento Microondas: Dia 03 | Tubo de Ensaios disse: 10 de fevereiro de 2014 às 20:05 […]
[…] Experimento Microondas: Dia 03 | Tubo de Ensaios disse: 10 de fevereiro de 2014 às 20:06 […]