O vírus de Schrödinger

©Rodrigo Barreiro

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Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

Schrödinger era um homem muito excêntrico e à frente de seu tempo. Um dia, seu amigo Dimitrii Ivanovski lhe contou que estava estudando o agente causador da doença de mosaico do tabaco e que ele não era retido pelos seus filtros. Schrödinger então, astuto como era, decidiu investigar melhor essa história e, para isso, pegou esse agente causador e o adotou, como se fosse um animal de estimação, e o estudou profundamente. Seus amigos então, ouvindo falar dessa história, foram um a um o visitar.

Primeiro chegou Fibonacci, curioso. Schrö (apelido carinhoso dado a ele) começou a lhe contar sobre a estrutura daquele ser que adotara. Contou que ele era envolto por uma cápsula que protegia um tesouro que lhe permitia sobreviver, e que tinha uma estrutura helicoidal. Fibonacci se interessou muito e, após alguns anos, descobriu o “número de ouro” presente em muitos padrões na natureza, e inspirou a perfeição na arte. O Louvre não estaria tão cheio hoje se não fosse da Vinci se baseando nesse conceito.

Shrö causou polêmica ao falar desse tal tesouro. Bateu então em sua porta outro amigo; como Schrö estava meio surdo, ele bateu mais. Baltimore foi finalmente recepcionado. Schrödinger mostrou a ele como aquele ser apenas conseguia se multiplicar quando tinha contato com outro ser vivo, liberando seu tesouro dentro da célula e deixando sua estrutura restante para fora. Baltimore resolveu estudar mais a fundo, e desvendou os mecanismos de como aquele ser se multiplicava. Nessa época já se conhecia os ácidos nucléicos e Baltimore definiu então que aquele ser deveria produzir RNAs mensageiros que pudessem ser traduzidos pelos ribossomos, e dividiu então como sendo DNA, RNA, cadeia simples ou dupla, e os mecanismos de replicação, estudando tudo com base na polaridade. O RNA mensageiro, por exemplo, é positivo, pois tem a informação que foi traduzida, e as fitas complementares são negativas.

Schrödinger já estava bem feliz com suas descobertas, mas alguns amigos ainda estavam por vir: Richard Dawkins e Douglas Adams. Ambos estavam sedentos para encontrar uma resposta para a vida. Até que Richard viu naquele ser uma pergunta milenar respondida. E Douglas viu que a resposta para a vida pode não ser 42. Tudo isso porque descobriram nele uma característica de replicador Darwiniano. Explicaram então que se acredita que no início da evolução, moléculas estáveis no oceano foram sendo selecionadas, até que aleatoriamente uma molécula replicadora surgiu, então várias delas foram criadas, com erros e diversidades surgindo, mais seleção e competição aconteceu, até que elas conseguiram fazer códigos para criarem envoltórios para se proteger, e assim tudo progrediu até que a competição se tornou muito grande e essas moléculas conseguiram potentes máquinas que tornaram sua replicação muito mais eficiente: os seres vivos, e ainda mais: os seres humanos. Porém, Schrö explicou que tudo era uma questão de se ter um meio onde o essencial, que é o código para a replicação, permanecer nas gerações. Antes, esse meio era o oceano, agora, ele é o pool genético que define muitas características não necessariamente replicativas, porém que melhoram as condições de replicação. Ora, após toda essa discussão, concluíram que aquele ser seguia esse modelo.

Restou então uma questão que Schrödinger queria responder: afinal, aquilo era um ser vivo, ou não? Ele chamou então seus amigos para um experimento. Colocou o ser numa caixa, onde ninguém o poderia ver, e dentro dessa caixa também havia uma estrutura mimetizando uma célula. Definiu então que se a célula recebesse o ser, ele seria considerado vivo, já que funcionaria dentro dessa célula; e assim como uma organela não funciona sozinha e só é considerada parte da vida quando atua em conjunto com a maquinaria celular, assim também era aquele ser. Porém a célula seria “envenenada” e morreria, enquanto mais seres iguais eram liberados na caixa. Se o ser ficasse para fora da célula e não conseguisse se multiplicar, não era considerado vivo. Acontece que, se a caixa fosse aberta, a célula morreria e liberaria seu material genético, e não seria possível distinguir as moléculas e descobrir se o ser estava a utilizando ou não, e se a célula sofreu lise pela abertura da caixa ou pelo parasitismo daquele ser. Ele poderia ser considerado então como os dois, vivo e não vivo, ele era uma superposição dos dois estados, enquanto não podia ser observado.

Schrödinger ficou eternizado por suas descobertas e suas questões levantadas, assim como seus amigos, e ao final de seu experimento finalmente deu um nome ao seu pequeno ser, baseado na ação nociva que causava na célula: vírus, o latim para veneno.

Quem sou

Gabriela AyubGabriella Ayub de Mendonça tem 19 anos de vida e 7 deles foram com a cabeça nas nuvens sonhando em ser cientista. Há 2 anos teve que por os pés no chão para isso. Graduanda em Ciências Biomédicas, passa seus dias entre aulas, laboratórios, livros, cuidando da casa, aprendendo a cozinhar (porque nem só de miojo vive um universitário), dando risada com as amigas que moram junto, viajando para outros mundos lendo romances policiais e voltando para sua cidade que não é interior e nem grande metrópole – Mogi das Cruzes, onde estão sua família e seu namorado Gabriel, seus grandes amores, e também terra do caqui, do Maurício de Sousa, da Dona Yayá, do Neymar, e dela, Gabriella Ayub de Mendonça.

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