VÍRUS SÃO VIVOS? UM DEBATE INCESSANTE

©Rodrigo Barreiro

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Este post é o resultado de uma prova aplicada à turma da disciplina de Virologia, da graduação em Ciências Biomédicas do ICB/USP. A prova foi uma redação sobre o tema “Vírus é vivo?” e as respostas seguem abaixo:

Em meados do século 19, observou-se o aparecimento de doenças causadas por partículas que, embora muito menores, se comportavam de maneira semelhante às bactérias: ao infectar um organismo, causavam modificações metabólicas e fisiológicas nele e podiam ser transmitidas de um indivíduo para outro. A essa partícula infecciosa foi dado o nome de VÍRUS (do latim, veneno).

Essa descoberta passou a intrigar médicos e pesquisadores, e em 1935, Wendell e seus colaboradores conseguiram cristalizar o vírus e com isso, descobriram que apesar de possuir complexas reações bioquímicas, esse novo agente infeccioso era ausente de reações metabólicas necessárias para viver. Ainda que por muito tempo a afirmação “vírus não são vivos” tenha sido considerada uma verdade, essa dúvida ainda assola as mentes da comunidade científica.

A ideia de que vírus não são vivos baseia-se na descoberta de que essas partículas dependem de uma célula denominada hospedeira para se multiplicarem e obter energia por meio de ATP. Ao infectar uma célula, o vírus torna-se capaz de exercer controle sobre seus genes e passa a utilizar a sua maquinaria (ribossomos) para transcrever os seus próprios genes que codificam proteínas estruturais necessárias para a montagem de novos vírus dentro do hospedeiro. Os vírus necessitam da maquinaria da célula, pois são constituídos apenas por material genético (DNA ou RNA) e proteínas virais necessárias para a infecção, que estão envoltos por um capsídeo protéico, sendo ausentes, portanto, de organelas e ribossomos. Contudo, essa relação de dependência não é restrita a esse caso. Na natureza, fungos e algas, organismos vivos, se associam formando liquens em uma relação de mútua obrigatoriedade denominada simbiose. Quando dissociados, estes organismos não conseguem sobreviver, porém juntos exercem a vida. Algo parecido ocorre com os vírus: sozinhos não possuem capacidade de multiplicação já que são ausentes das estruturas necessárias para a produção de proteínas, que serão utilizadas na montagem de novos vírus, porém, associados á uma célula tornam-se capazes de controlá-la e multiplicar-se.

Além disso, como todos os seres vivos, os vírus sofrem seleção natural, a qual consiste na manutenção ou não de uma mutação, por aptidão biológica, através dos seus descendentes. Mutações que favoreçam sua adaptação ao hospedeiro, que aumentam sua resistência fora da célula e que potencializam sua capacidade de infecção serão mantidas nas próximas linhagens virais. O mesmo ocorre com os seres considerados vivos: mutações que favoreçam à sua sobrevivência serão transpassadas pelas próximas gerações.

Assim, como diriam Regenmortel e Mahy, concluo dizendo que os vírus possuem “um tipo de vida emprestada”, a qual se realiza a partir da infecção de uma célula hospedeira. Contudo, esse debate tende a continuar já que a sua resposta baseia-se em uma única intrigante pergunta: o que é vida?

Quem sou

Laís CabralMeu nome é Laís Cabral, tenho 19 anos e sou estudante de biomedicina pela USP.  Meu desejo, desde sempre, de entender a complexidade do ser humano em suas perfeições e imperfeições é o que me motiva a seguir a instigante carreira de cientista.

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