Choro e ranger de dentes: a formação do pesquisador brasileiro precisa mesmo disso?

Esse post é parte da Blogagem Coletiva de comemoração aos 10 anos do ScienceBlogs Brasil. Essa semana é Tema Livre. Hoje quem escreve é Mariella De Oliveira-Costa é doutora em saúde coletiva.

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Ansiedade, angústia, desânimo, depressão e dificuldades de concentração são alguns dos problemas de saúde física e mental que acometem parte dos estudantes de pós-graduação, assim como quem está na época de realizar sua monografia.

Todos vibram muito com a conquista daquela sonhada vaga  na universidade mas nem sempre (ou quase nunca) a vida acadêmica se mostra tranquila e interessante. A família que apoiou a escolha daquele aluno, o encontra por vezes isolado de tudo e de todos, sem tempo para atividades coletivas e até mal humorado.

Boa parte dos estudantes se frustra com as dificuldades inerentes dessa etapa da vida acadêmica, com o orientador, com o programa de pós, com os colegas, com os conteúdos de pesquisa, enfim, com o ambiente dentro de uma universidade ou instituição de pesquisa.

Mas esta etapa da vida não precisa ser assim.

Existem inúmeras dificuldades, mas também muitas estratégias para que esta fase de formação de um pesquisador, da iniciação científica, passando pelo TCC, mestrado e doutorado sejam momento de crescimento e aprendizado.

Nas redes sociais, tem sido comum observar um discurso de tristeza, abatimento e desilusão para com a pós-graduação e seus desafios e dificuldades.

Me incomoda bastante o discurso de que uma pós-graduação é apenas para alguns poucos iluminados e que a maioria deve sim viver num mar de choro e ranger de dentes. A vida acadêmica, bem administrada, pode ser leve e um momento bem feliz (e é importante compartilhar essa ideia)!

Sou recém-doutora e ao longo de minha formação sempre busquei espaços na agenda para atividades completamente fora do meu tema de pesquisa, e me cerquei de pessoas que tinham outras carreiras, falassem de outras coisas e ventilassem minha conversas e minha mente.

Pensando nisso, comecei um canal no youtube para falar sobre a vida acadêmica de uma forma mais realista e bem humorada.

Meu intuito é apresentar que existe vida além da pós-graduação, com temas do cotidiano acadêmico de maneira leve e breve, para  auxiliar os pós-graduandos (e os candidatos a uma pós) a encararem esta etapa da vida tal como ela realmente é: apenas uma parte, uma etapa, um degrau na sua caminhada (e não a caminhada toda).

Existe vida além da pós-graduação  e nenhuma vida precisa ser resumida a uma rotina casa-universidade. Um problema no laboratório, um resultado inesperado, uma pesquisa com uma série de limitações não pode definir a personalidade de ninguém, pois não somos máquinas e é preciso saber lidar com as dificuldades sem se tornar refém delas.

Afinal, se formarmos pesquisadores desanimados, frustrados na sua formação básica e com a saúde mental comprometida, qual será o futuro da ciência brasileira?

mariellaMariella De Oliveira-Costa é doutora em saúde coletiva, jornalista, escritora e tem como um de seus hobbies seu canal no Youtube. Atualmente trabalha na Fiocruz Brasília.

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