Homenagem ao centenário do naturalista Alfred Wallace (1823-1913)

Josmael Corso*

Provavelmente, muitos não sabem, poucos conhecem e um número menor lembra-se que o Brasil abrigou por longo período um dos maiores naturalistas do século XIX. Poderíamos estar nos referindo a Charles Darwin (1809-1882) o que seria verdade, mas este esteve por um pequeno período– quatro meses – e além do mais é bastante conhecido. Refiro-me aquele que ficou à sombra, como dizem alguns, pai esquecido da evolução, dizem outros, Alfred Russel Wallace (Figura 1). Ele que neste ano, em 07 de Novembro, completa um século do seu falecimento e possui méritos de sobra para lembrarmos um pouco da trajetória de contribuições à ciência,que iniciou aqui em solo brasileiro.

Figura1. O naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823-1913) foi um foi um autodidata zoólogo, botânico e filósofo da ciência. Foi fundador da biogeografia e co-fundador da evolução biológica por seleção natural. Fonte: NationalPortraitGallery, London.

Figura1. O naturalista inglês Alfred Russel Wallace (1823-1913) foi um foi um autodidata zoólogo, botânico e filósofo da ciência. Foi fundador da biogeografia e co-fundador da evolução biológica por seleção natural. Fonte: NationalPortraitGallery, London.

O esperado de um naturalista é que tenha feito descobertas de novas espécies, estudado plantas, animais, ou seja, relacionado as ciências naturais, porém, Wallace foi além e se envolveu com também com questões sociais e exatas. Em relação a ciência dos números, incrivelmente ele se meteu a demonstrar que a Terra não é plana, mas antes de chegar nessa questão vamos ler um pouco do seu caminho até lá.

Diferentemente dos primeiros naturalistas da Era Vitoriana, Wallace era fruto de uma família bastante modesta e trabalhou a vida inteira para sobreviver.Aos 14 anos teve que deixar a escola para tornar-se aprendiz de construtor. Pouco tempo depois aprendeu também ofício de agrimensor realizando levantamento de propriedades rurais. A atividade ao ar livre acabou por desenvolver o interesse por história natural, especialmente botânica, geologia e astronomia.

Wallace que nunca estudou em uma universidade, chegou a ministrar aulas de topografia, cartografia e desenho. Como todo grande curioso passava seu tempo livre na biblioteca, imerso em leituras que influenciaram fortemente sua vida futura, como o livro “Uma viagem pelo Rio Amazonas” de William H Edwards (1847) que empolgou a Wallace conduzir sua primeira expedição no Brasil.

Wallace na Amazônia (1848-1852)

Em abril de 1848, ao lado de seu amigo Henry Walter Bates (1825-1892), Wallace chegou à atual cidade de Belém, no Pará. Os jovens aventureiros, Wallace com 25 e Bates 23 anos, esperavam custear a expedição com a captura e venda de espécies coletadas para museus e colecionadores particulares. Bates permaneceu por 11 anos no país e sua principal descoberta ilustra todos os livros didáticos de biologia – mimetismo Batesiano (Figura 2). Wallace a exemplo dos naturalistas do seu tempo mantinha curiosidade em tudo ao seu redor, o que era vivo e não vivo. Escreveu ensaios sobre diferentes campos da biologia, geografia e até sobre antropologia, descrevendo vocabulários das tribos do Rio Uaupés, Amazonas (Figura 3).

Figura 2. Mimetismo batesiano, primeira e terceira fileira pertencem a mesma família, a segunda e quarta fileira são espécies que ‘imitam’ as anteriores. Fonte: Henry Walter Bates 1862, wikipedia.org.

Figura 2. Mimetismo batesiano, primeira e terceira fileira pertencem a mesma família, a segunda e quarta fileira são espécies que ‘imitam’ as anteriores. Fonte: Henry Walter Bates 1862, wikipedia.org

Figura 3. Mapa do Rio Amazonas, realizado por Alfred Russel Wallace durante sua expedição pelo Brasil 1848-1852. Fonte: archive.org

Figura 3. Mapa do Rio Amazonas, realizado por Alfred Russel Wallace durante sua expedição pelo Brasil 1848-1852. Fonte: archive.org

Em 1852, em retorno a sua terra natal, o navio em que se encontrava incendiou-se, perdendo grande parte dos itens coletados, incluído espécimes vivas. A coleção particular de insetos e aves formadas desde que chegou ao Brasil perdeu-se, assim perdendo a oportunidade de descrever centenas de novas espécies. Wallace e a tripulação tiveram muita sorte em sobreviver e foram resgatados após dias em alto mar. Com as anotações que conseguiu salvar do naufrágio elaborou dois livros: Palmeiras da Amazônia e seus usos e Narrativa da viagem ao Rio Negro e Amazonas (Figura 5). Os trabalhos repercutiram certo prestígio que lhe forneceram condições para reiniciar suas atividades de explorador com uma segunda expedição.

Figura 5. Palmeira piaçava (Leopoldiniapiassaba) descrita por Alfred Russel Wallace, espécie amplamente utilizada em construção civil até os dias de hoje. Fonte: wallace-online.org

Figura 5. Palmeira piaçava (Leopoldinia piassaba) descrita por Alfred Russel Wallace, espécie amplamente utilizada em construção civil até os dias de hoje. Fonte: wallace-online.org

Wallace no Arquipélago Malaio (1854-1862)

Durante o período que esteve na região realizou centenas de expedições às ilhas, coletou uma incrível quantidade de espécimes: em torno de 125 mil, próximo de 5 mil eram espécies novas à ciência. As experiências desse período estão relatadas na obra O Arquipélago Malaio (1869), considerado o melhor livro de viagem científica do século XIX, descrevendo a captura de orangotangos, aves-do-paraíso e o convívio com os povos nativos (Figura 6).

Figura 6. Ave-do-paraíso vermelha(Paradisaearubra) umas das incríveis espécies de aves encontradas na região por Alfred Russel Wallace. Fonte: wallace-online.org

Figura 6. Ave-do-paraíso vermelha (Paradisaea rubra) umas das incríveis espécies de aves encontradas na região por Alfred Russel Wallace. Fonte: wallace-online.org

A polêmica correspondência entre Darwin e Wallace O ano de 1858 foi marcado por um acontecimento histórico muito importante para aciência, considerado um impasse entre Wallace e Charles Darwin. Wallace passou anos investigando os mecanismos que atuavam sobre a evolução dos organismos, porém foi através de um episódio de febre por malária, quase custando-lhe a vida que concebeu a teoria pela qual organismos com atributos melhor ajustados ao ambiente possuem uma chance elevada de sobreviver e transferir características aos seus descendentes. Empolgado com sua descoberta escreveu um ensaio e enviou para Darwin, com quem já se correspondia há anos. A teoria de Wallace embora muito semelhante era distinta da proposta de Darwin. Sem prévia permissão de Wallace, seu ensaio juntamente com fragmentos inéditos da futura e mais importante obra de Darwin foram apresentados por membros na reunião da Sociedade Lineana de Londres em 1° de Julho de 1858. Darwin estava a cerca de 20 anos trabalhando em um volume muito maior e detalhado sobre o surgimento de espécies, e muitos estudiosos afirmam que o ensaio de Wallace o auxiliou no estímulo para que concluísse de forma compacta e simples a obra marco das ciências naturais – A Origem das Espécies (1859), publicada 18 meses após a leitura dos ensaios.

Interpretado muitas vezes como uma competição entre os dois naturalistas esse acontecimento permitiu que Wallace se tornasse conhecido e abriu portas para que participasse dos diálogos científicos em grupos restritamente fechados. Wallace pode usufruir dessa oportunidade e manteve se como admirador do trabalho de Darwin, escrevendo uma dedicação no livro O Arquipélago Malaio (1869)e uma obra completa para difundir as idéias sobre seleção natural em Darwinismo (1889).

Wallace e a Terra plana

Em 1870, anos depois do retorno da ultima expedição, Wallace aceita uma aposta com o líder da Sociedade da Terra Plana, John Hampden, no valor de 500 libras – que na época deviam valer muito mais – para provar em publico que a Terra possui curvatura (Figura 7). Para a entidade se a Terra fosse plana, o raio de curvatura seria infinito e não poderia ser medido. Wallace, estimulado pelo desafio e por dificuldades financeiras, desenvolveu um experimento em um canal de navegação. Estabelecendo dois pontos com estacas de mesma altura distantes a cerca de 10km em linha reta no canal acima do nível da água, com auxilio de teodolito. Conseguiu demonstrar que as estacas não permaneciam alinhadas por conta da curvatura da Terra. O teste ainda apontou o raio da terra de 6.428 km, ou seja, levemente maior que a atual estimativa de 6.378 km. Tudo fiscalizado por engenheiros, o juiz da aposta declarou Wallace vencedor, porém o líder ativista não aceitou a derrota e lançou uma extensa campanha de combate à Wallace. Esse fato ficou conhecido como Experimento do Canal Bedford, Wallace ficou envolto em uma batalha judicial que afetou profundamente a sua imagem. Pois as sociedades científicas britânicas da época não queriam conflitos com grupos religiosos, mantiveram-se apáticos e deixaram Wallace desamparado academicamente.

Figura 7. Ilustração mostrando, acima, o experimento do ativista da Sociedade da Terra Plana, e abaixo o experimento de Alfred Russel Wallace.Fonte: Wallis, T.W. (1899) Autobiography ofThomas Wilkinson Wallis, Sculptor in Wood, p. 181, J.W. Goulding& Son.

Figura 7. Ilustração mostrando, acima, o experimento do ativista da Sociedade da Terra Plana, e abaixo o experimento de Alfred Russel Wallace. Fonte: Wallis, T.W. (1899) Autobiography of Thomas Wilkinson Wallis, Sculptor in Wood, p. 181, J.W. Goulding& Son.

Contribuições de Wallace a Ciência

Wallace durante seus 90 anos de vida produziu 22 livros e mais de 700 artigos englobando uma grande diversidade de temas. Atualmente, Wallace foi reconhecido por suas contribuições à ciência entre elas é considerado o pai da biogeografia pela descoberta da descontinuidade da distribuição da fauna. Também é considerado co-fundador da astrobiologia e antropologia evolutiva, sendo o primeiro a sugerir que a extinção de animais no final do Pleistoceno (Era do Gelo – 12 mil anos atrás) poderia ter sido causado por excesso de caça pelos humanos pré-históricos. Foi presidente da Sociedade pela Nacionalização de Terras por cerca de 30 anos promovendo discussões sobre a reforma agrária na Inglaterra.

Embora pouco popular Wallace foi membro de um grande número de sociedades acadêmicas, recebendo títulos e premiações de diversas universidades e instituições. Entre elas recebeu a medalha de Ordem de Mérito em 1908, premiação fornecida pelo império britânico. Foi a quinta personalidade a receber a medalha de ouro da Sociedade Lineana, em 1892. A mesma sociedade estabeleceu o prêmio ‘Medalha Darwin-Wallace’ para descobertas relacionadas à biologia evolutiva, uma forma de reconhecer e reparar as contribuições de Wallace.

Pelos menos duas hipóteses podem explicar o menor reconhecimento acadêmico de Wallace: pertencia a uma classe sócio-econômica diferente da tradicional elite social inglesa, responsável pelo conhecimento científico reconhecido na época; envolveu-se e escreveu sobre espiritismo, embora houvessem membros religiosos na academia científica, não eram espíritas. Em conjunto, esses fatos podem ter refletido para aresistência as suas ideias pela sociedade que dominava o cenário científico.

Alfred Russel Wallace possui muitas razões para ser lembrado neste mês e todos os outros. Representa um fantástico exemplo de autodidata, aventureiro, cientista e mais importante de tudo um curioso. O nome de Wallace deve ser posto ao lado de Galileu, Darwin, Einstein, entre outros gênios. Gradualmente as suas contribuições à ciência e a humanidade estão sendo reconhecidas e tributos tendem a aumentar ao passo que se conhece mais sobre esse singular naturalista.

 

*Josmael Corso é Doutorando em Genética e Biologia Molecular – UFRGS

A Rainha e o Sexo

Luiz Max Fagundes de Carvalho,
Setor de Epidemiologia de Doenças Infecciosas, UFRJ.

O sexo faz parte de nossas vidas de diversas e profundas formas. Ao mesmo tempo em que gera a vida, é alvo das mais acirradas polêmicas nos âmbitos moral e ético. Em diversas culturas é tido como um ritual, um evento divino em que homem e mulher se tornam um só para trazer ao mundo um novo ser humano. É visto nos animais como um instinto inexorável na busca do objetivo último da existência: a perpetuação da espécie.

A idéia de sexo está diretamente associada à reprodução. Contudo, nem sempre sexo resulta em reprodução. Se considerarmos que é preciso que o número de indivíduos aumente ao final do processo reprodutivo, nem sempre há reprodução quando há sexo. Bactérias e ciliados praticam uma modalidade de sexo não reprodutivo, na medida em que apenas trocam material genético. No entendimento da biologia moderna, o sexo é a atividade caracterizada pelo intercâmbio de material genético entre indivíduos. Há seres que se reproduzem sem este intercâmbio, isto é, apenas dividindo-se (reprodução assexuada), outros misturam material genético durante a reprodução (reprodução sexuada).

Conjugação Bacteriana

Esquema do sexo em bactérias, também chamado conjugação (fonte: Wikimedia Commons)

Observando a natureza, porém, constatamos que o sexo é de longe a forma de reprodução mais disseminada entre os seres vivos atuais. Isso é espantoso, já que o sexo é um processo oneroso para o indivíduo que o pratica como forma de reprodução. Para entender porque, imaginemos que uma fêmea pode gerar sozinha um filho – que terá todos os seus genes –, ou contribuir com metade de seus genes para a formação de um novo indivíduo. Se concordarmos que o “objetivo” da fêmea é passar o maior número de genes para a próxima geração, a melhor opção se torna óbvia. A fêmea que escolher gerar um filho com apenas metade de seus genes pagará o custo dobrado pela opção sexual¹.

A sua quase universalidade, a despeito da desvantagem intrínseca, sugere que o sexo tem de concederalguma vantagem valiosa àqueles que o usam. Mas qual? Várias teorias foram desenvolvidas para explicar o aparente paradoxo do sexo. Uma delas argumenta em favor da seleção de grupo. De acordo com essa teoria, grupos que realizassem reprodução sexuada teriam vantagem na competição com outros, na medida em que evoluiriam mais rapidamente – e se extinguiriam menos -, já que teriam maior diversidade genética.

O argumento apesar de coerente não é convincente. Isso porque há diversos seres, como afídeos, plantas e rotíferos que podem se reproduzir tanto sexuada quanto assexuadamente. Desta forma, o sexo tem de ser vantajoso para o indivíduo, do contrário uma população que realizasse apenas reprodução sexuada seria facilmente invadida por variantes que se reproduziriam assexuadamente, aumentando a freqüência dos genes destes últimos nas gerações seguintes. Como se pode perceber, a seleção de grupo no sexo não constitui uma estratégia segura a longo prazo, isto é, não é uma estratégia evolucionariamente estável².

Outras duas teorias procuram mostrar as vantagens do sexo. São elas: a teoria mutacional do sexo e a hipótese da Rainha Vermelha (ou Rainha de Copas), cunhada por Leihg Van Valen em 1973, que foi a inspiração para o título deste texto. A teoria mutacional – proposta por Kondrashov em 1988 – diz que a vantagem do sexo para as fêmeas a curto prazo seria a de diminuir o número de mutações deletérias na prole. Essa tese é convincente, porém apenas quando assumimos que a taxa de mutações deletérias é alta. Infelizmente os dados quanto a essas taxas ainda são conflitantes³. Além disso essa hipótese deixa no ar a dúvida de como seres assexuados lidam com o acúmulo de mutações deletérias*.

A explicação mais sólida para o sexo vem do estudo da coevolução antagônica entre parasitas e hospedeiros. Essa perspectiva se encaixa exatamente num ponto que ainda não analisamos: a influência do ambiente no processo evolutivo. Se o ambiente fosse pouco variável não haveria justificativa para o sexo porque a variabilidade genética que ele traz não constituiria uma vantagem sensível. Porém, se o meio estivesse em constante e rápida transformação, faria sentido combinar uma parte do genoma com um parceiro para aumentar as possibilidades de adaptação e sobrevivência da prole. A segunda situação é que mais se aproxima da realidade, e na maior parte dos ecossistemas o elemento mais variável são os parasitas.

Por serem, em sua maioria, estrategistas r, os parasitas tem ciclos de vida curtos e altas taxas de replicação, o que acelera sua evolução. Isso faz deles um elemento extremamente variável do ambiente e força seus antagonistas (os hospedeiros) a modificarem constantemente suas defesas. Numa relação bilateral, o aperfeiçoamento dos sistemas de defesa dos hospedeiros força os parasitas a se modificarem para infectar seus alvos. O tempo de replicação do parasita pode ser bem menor que o do hospedeiro, portanto este ultimo precisa ter opções de rápida variabilidade: o sexo.

Como numa corrida armamentista, cada adversário impõe ao outro condições desafiadoras para a próxima geração. Como conseqüência, temos o equilíbrio entre as taxas evolutivas de parasitas e hospedeiros – exemplo disso é o ajuste do relógio molecular de vírus aos de seus hospedeiros4 -, criando uma espécie de “esteira rolante” evolutiva, em que os participantes correm sem nunca saírem do lugar. E é dessa peculiaridade que vem o nome Rainha Vermelha: do livro de Lewis Caroll, Alice Através do Espelho em que a rainha de copas diz a Alice: “aqui neste país Alice, você precisa correr o máximo que puder para permanecer no mesmo lugar…”.

Alice e a Rainha Vermelha A rainha puxa Alice na incansável corrida para não sair do lugar. (fonte: Wikimedia Commons)

A hipótese da Rainha Vermelha não foi formulada para explicar o sexo, mas sim o comportamento de curvas de sobrevivência de várias espécies expostas a parasitas. William D. Hamilton (1936-2000) explicou que isto podia ser decorrente do potencial de variação genética introduzida pela reprodução sexuada, mesmo com o custo dobrado que ela representa. Ele então juntou fatos que apoiassem sua teoria e formulou modelos matemáticos que apoiassem a hipótese da dinâmica da Rainha Vermelha. Várias de suas publicações mostram fortes indícios de que a luta para escapar à virulência dos parasitas pode ter mesmo dados origem ao sexo.

Desde Hamilton, muitos trabalhos foram publicados mostrando evidencias experimentais da hipótese da Rainha Vermelha, tanto da perspectiva dos parasitas como dos hospedeiros. Joachim Kurtz5, por exemplo, publicou uma revisão em que mostra a dinâmica evolucionária entre tênias, copépodes (um tipo de crustáceo) e o esgana, um peixe parente do cavalo-marinho. No artigo, Kurtz mostra que ovos de tênia gerados por fecundação cruzada têm maior poder infeccioso. Ora, a tênia é hermafrodita, o que significa que pode se reproduzir assexuadamente. Mas como o autor mostra, os ovos competem pelo hospedeiro (apenas um tipo é encontrado infectando o mesmo indivíduo), o que significa que a tênia que se reproduza sexuadamente levará vantagem sobre as outras e aumentará sua prole.

Existem também trabalhos que mostram existir seres que realizam reprodução sexuada apenas quando estão infestados de parasitas. A forte evidência experimental posiciona o efeito Rainha Vermelha para explicar o surgimento do sexo. È bom que se diga, no entanto, que nada está definido e que a literatura sugere que a teoria mutacional pode ser válida em alguns casos. Desta maneira, uma explicação mais completa para um assunto tão complexo quanto a origem e a distribuição taxonômica do sexo talvez deva levar em conta a multifatorialidade.

A evolução do sexo tem sido um quebra-cabeças (e uma dor de cabeça!) para os biólogos há tempos e essa história ainda promete ainda encher muitos livros.

Luiz Max é microbiologista (UFRJ), assistente estatístico no Centro Panamericano de Febre Aftosa (OPAS/OMS), onde pesquisa como aplicar toda sorte de métodos matemáticos e estatísticos aos problemas das ciências da vida. Seus principais interesses científicos são Evolução Molecular, Redes Complexas e Estatística Espacial. Nas horas vagas gosta de não fazer nada, treinar judô e ficar com a namorada. Perfil no ResearchGate (em inglês).
Leituras Recomendadas

O blog Rainha Vermelha, traz dois textos muito bons sobre o assunto e ainda ótimos textos sobre temas diversos relacionados à biologia celular e molecular. O texto Parasitas, evolução e sexo, também é uma boa leitura para quem quiser a visão mais leve e descontraída do genial Sergio Pena. Para os mais técnicos recomendo dois textos de Hamilton: Sexual reproduction as an adaptation to resist parasites (A Review) e Sex against virulence: the coevoluton of parasitic diseases.

 

* Existe uma teoria, a catraca de Muller, que propõe a acumulação irreversível de mutações deletérias nos genomas assexuados. Essas mutações, no entanto, acabam sendo eliminadas através de processos de recombinação.

 

Referências
1- Lewis, W.M. in The Evolution of Sex and its Consequences. Birkhauser Verlag, Basel, Switzerland, 1988.

2- Dawkins, C.R. O Gene Egoísta. 2ed. São Paulo, Companhia da Letras, 2007.

3- Ridley, M. Evolution.3ed. Porto Alegre, Artmed, 2006.

4- Villareal, L.P. Viruses and The Evolution of Life. 1ed. Washington, ASM Press, 2005.

5- Kurtz, J. Sex, parasites and resistance – an evolutionary approach. Deutsche Zoologische Gesellschaft 106 (2003) 327-339.

 

É possível o estudo científico do pensamento e da criatividade? – Parte II

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Por Ana Arantes, dO Divã de Einstein

Bem… Continuemos o assunto do post anterior…

3. O pensamento e o “ver encoberto”

     A questão do pensamento é um tema complexo na obra skinneriana, podendo ser considerado como um comportamento precorrente para resposta consumatória no processo de resolução de problemas. Comportamentos precorrentes podem ser descritos como aqueles que “não recebem conseqüências reforçadoras imediatas, mas são indispensáveis para a emissão de uma resposta subseqüente que tem conseqüência reforçadora (Lopes & Abib, 2002). Partindo desse ponto de vista, pensar pode ser: intencionar, atentar, perceber, memorizar, criar e qualquer outro comportamento (ou processo comportamental) que seja capaz de tornar possível a solução de um problema. Portanto, o pensamento na obra de Skinner é um conceito que deve ser analisado em termos de seus mais variados usos (Lopes & Abib, 2002). Nesse sentido, boa parte do que é descrito como pensamento na resolução de problemas refere-se a comportamento perceptivo encoberto, ou o que se chama de “ver na ausência da coisa vista”.    Skinner analisa o ver a partir da história de vida (ambiental) e das contingências presentes, ou seja, analisa esse comportamento da mesma forma que faria com qualquer outro: “a expressão ‘ver algo’ refere-se a uma grande amplitude de comportamentos, gerados por uma grande amplitude de contingências tendo em comum um estímulo em particular” (Skinner, 1989). O comportamento perceptual encoberto analisa-se, ainda, da mesma forma como se faria com o comportamento público, pois “tanto quanto sabemos, nada jamais é aprendido de forma encoberta que não tenha sido aprendido abertamente. O ver encoberto pode, por isso, ser ensinado como o ver abertamente” (Skinner, 1968).

     Parece ter importância, nesse ponto, esclarecer o motivo de os comportamentos regredirem a um nível privado, já que a sua emissão original acontece no nível público. Existem algumas explicações para esse fenômeno: quando o controle de estímulos é fraco ou envolve punição, quando um comportamento é reforçado automaticamente, quando se trata de um precorrente etc. Esse último caso pode explicar por que o ver privado pode ocorrer caso o comportamento subseqüente seja reforçado, “assim, podemos ver Veneza com a finalidade de ensinar um amigo a encontrar o caminho que o levará a determinada parte da cidade…” (Skinner, 1974). Skinner afirma que “o comportamento se torna encoberto quando, em primeiro lugar, sua força cai abaixo do nível necessário para uma emissão aberta, tal emissão pode ser fraca por que as variáveis de controle são deficientes (…) ou podem ser fortes, como se vê pelo fato de que, sob outras circunstâncias ele pode surgir em nível aberto. A resposta encoberta é simplesmente a mais fácil, ou por alguma razão, a mais própria no momento” (Skinner, 1957).

     Uma vez que o comportamento regride a um nível encoberto, ele torna-se diretamente inacessível para outras pessoas, o que na maior parte das vezes é a razão pela qual o nomeamos de “pensar”. Entre as vantagens do comportamento de “ver privado” está o fato de que esse comportamento não exigiria um comportamento precorrente que gerasse um estímulo externo e também porque o ver privado estaria isento de qualquer punição se o mesmo tornar-se público. Há também o caso em que o comportamento de ver encoberto produz estímulos discriminativos que podem ser úteis para o comportamento subseqüente (público ou privado), o que nos leva à conclusão de sua importância para o comportamento de resolução de problemas.

      Por exemplo, uma pessoa pode descrever a forma com que chegou a solução de determinado problema descrevendo a produção de estímulos discriminativos visuais. Dado o problema: “pense em um cubo, com todas as superfícies pintadas de vermelho, divida o cubo em 27 cubos iguais fazendo cortes, dois cortes verticais e dois conjuntos de cortes horizontais. Quantos cubos terão três faces pintadas de vermelho, quantos terão duas, quantos terão uma e quantos não terão nenhuma?” (Skinner, 1953). O sujeito que o resolveu pode relatar que “viu o cubo, pintou-o de vermelho…” e assim por diante até chegar à resposta final. Para tal, a capacidade de emitir a resposta visual encoberta foi necessária. Nesse caso, o ver, em si, não seria reforçado, mas sim a solução do problema, que acaba por reforçar toda a cadeia de comportamento que tornou a solução possível, inclusive o comportamento de “ver na ausência da coisa vista”.

     Resumindo, o que se identifica como “pensamento” no comportamento de ver privado é sempre um comportamento do organismo como um todo (e não apenas do cérebro), e o fato de ser emitido na ausência da coisa vista significa apenas que, uma vez aprendido de forma aberta, pode ser emitido de forma encoberta, sem o suporte dos estímulos que estavam presentes durante o processo de aquisição da resposta (Tourinho & cols., 2000).

4. Comportamento criativo

        A discussão skinneriana sobre o surgimento de comportamentos novos, chamados “originais” ou “criativos” é um dos pontos de sua obra onde mais claramente pode-se observar a idéia de interação entre as contingências de seleção ambientais (ontogenéticas) e a seleção filogenética (ou contingências de sobrevivência). “O conceito de seleção é mais uma vez a chave. As mutações, na teoria genética e evolutiva, são casuais e as topografias respostas selecionadas pelo reforço são, se não aleatórias, pelo menos não necessariamente relacionadas com as contingências em que serão selecionadas. E o pensamento criador preocupa-se grandemente com a produção de ‘mutações’. Escritores, artistas, compositores, matemáticos, cientistas e inventores estão familiarizados com formas explícitas de tornar mais provável a ocorrência de comportamento original” (Skinner, 1974).

      Segundo Skinner, comportamentos nunca antes emitidos e que não estavam presentes anteriormente no repertório de um indivíduo podem ser explicados como função de variações aleatórias na emissão de resposta, que são então selecionadas por contingências de reforço. Esse mecanismo segue a mesma lógica do mecanismo de variação e seleção postulado pela Teoria Evolucionista. Para ele, “o termo chave no titulo de Darwin é ‘a Origem’. A novidade pode ser explicada sem apelar-se a um desígnio inicial se mudanças aleatórias nas estruturas forem selecionadas por suas conseqüências. Estas são as contingências de sobrevivências que criaram novas formas” (Skinner, 1971a). Da mesa forma, “não é algum propósito inicial, alguma intenção ou ato de vontade que responde por novo comportamento; são as contingências de reforçamento” (Skinner, 1971a).

      A questão da criatividade, para Skinner, é tomada sob o mesmo prisma da questão do pensamento – no sentido de que pode (e deve) ser explicada através de seus determinantes da história de contingências e da história genética do organismo. Novamente pode-se verificar a crítica ao mentalismo e à noção de causalidade interna: “uma ‘mente criativa’ não explica nada. É apenas um apelo ao miraculoso. A mente é considerada como fazendo aquilo que o corpo não é capaz. (…) novidade e originalidade podem ocorrer em um sistema determinístico” (Skinner, 1970).

     Assim, ao analisar as contingências das quais a criatividade é função pode-se chegar a uma explicação causal e, por fim, manipulando-se tais contingências deve-se ser capaz de aumentar a probabilidade de que tais comportamentos criativos ocorram. A “mente criativa” é evo
cada porque algumas vezes não é possível ter acesso a todas as contingências, principalmente às contingências de sobrevivência que dizem respeito à história filogenética. “Contingências de reforçamento que modelam o comportamento ontogênico podem ser arranjadas e estudas no laboratório. Mas a maioria das contingências de sobrevivência responsáveis pelo comportamento filogenético observado nesse campo é meramente inferida” (Skinner, 1978).

      Provavelmente a mais importante implicação da causalidade ambiental para a determinação da originalidade e criatividade está na proposta skinneriana de uma tecnologia de ensino capaz de produzir comportamentos novos nos campos artísticos e científicos. Desse modo, “o papel do acaso pode ser assumido e ampliado pela planificação deliberada. (…) Novas formas de comportamentos podem ser geradas por contingências ambientais, que dificilmente surgiriam por acidente. Por definição, não se pode ensinar comportamento original, pois não seria original se ensinado, mas podemos ensinar ao estudante a arranjar ambientes que maximizem a probabilidade de que ocorram respostas originais” (Skinner, 1978).

      Tal formulação acabou por gerar resistência, pois retira do sujeito o caráter iniciador, ou, nas palavras do próprio Skinner: “uma formulação do pensamento criativo dentro do esquema de referência de uma ciência natural pode ser ofensivo àqueles que fundamentam sua concepção do indivíduo no controle do mundo ao seu redor, mas a formulação pode ter vantagens compensadoras. Na medida em que a originalidade se identifica com a espontaneidade ou com a ausência de regras no comportamento, parece ser uma tarefa inglória ensinar um homem a ser original ou a influenciar seu processo de pensar de qualquer maneira importante. A presente análise levaria a um aperfeiçoamento nos procedimentos educacionais” (Skinner, 1953). A mesma crítica foi formulada também no que diz respeito à formulação comportamental do pensamento, como já visto.

     O modelo proposto para o ensino e a geração de comportamento criativo é o da produção de variação. Com o aumento (através do reforçamento) da emissão de comportamentos diferentes, seria possível selecionar daquelas respostas que poderiam ter valor tanto para a cultura quanto para o indivíduo. Uma das maneiras de gerar tal variabilidade seria, então, incrementar o número de “mutações” nas respostas (uma analogia às mutações que geram variabilidade, posterior seleção pelo ambiente e, por fim, a evolução da espécie). Ao analisar o comportamento do artista, Skinner coloca que “nós devemos procurar por mutações. (…)   podemos gerar mutações mudando as condições de trabalho do artista, fazendo-o trabalhar quando está cansado, com frio, desencorajado ou bêbado. O artista pode gerar outros tipos de mutação fazendo deliberadamente aquilo que lhe foi dito para não fazer; ele pode violar os modelos, as convenções e os tabus, como um matemático que renega axiomas evidentes ou como o compositor que usa harmonias proibidas” (Skinner, 1970).

      Dessa maneira, a ação iniciadora é, de certa forma, externa ao sujeito, ela “vem de sua história passada, verbal ou outra qualquer (…), causas genéticas e ambientais que postas juntas têm um efeito em comum” (Skinner, 1970a), ou seja, geram novas respostas. Por outras palavras o controle de estímulos ambientais é responsável por gerar respostas de qualquer tipo, até mesmo as originais e criativas.

Conclusão

      Em “Beyond Freedom and Dignity”, Skinner afirmou que o mentalismo não somente interfere na busca de explicações científicas do comportamento, como também não é prático, no sentido de que nos impede de solucionar problemas sociais como a guerra, o crime e a pobreza. A idéia de que uma pessoa possa ser responsável por uma ação, no sentido de causar essa ação, é baseada na noção de livre arbítrio. Porém na possibilidade de uma ciência do comportamento está implícito que o comportamento, como qualquer objeto de estudo científico, é ordenado, pode ser explicado, previsto e controlado, desde que se tenham os dados e os meios necessário. Ou seja, não é livre, mas determinado.

       Em certo sentido, a questão da crítica ao mentalismo se liga ao estudo e análise do pensamento e da criatividade por que a grande razão para se supor que as pessoas “têm uma mente” é que todos sabem que têm pensamentos, que pensam, e que produzem pensamentos originais e criativos. Pensamentos, sentimentos, sensações e sonhos são eventos privados, naturais e freqüentemente observáveis por aqueles que os experimentam. Há dois pontos importantes com relação à distinção entre público e privado: o primeiro é que para o behaviorismo radical, a distinção tem pouco significado (pois ambos são eventos naturais) e o segundo é que a única diferença entre tais eventos é o número de pessoas que podem relatá-lo, ou seja, a distinção tem relação com o acesso ao evento e não com sua natureza. Ao aceitar essa afirmação, Skinner admite a subjetividade como objeto de estudo da ciência, como natural e compartilhando todas as propriedades dos demais comportamentos; suas origens encontram-se na história do indivíduo e na filogênese de sua espécie.

       Ao afirmar, ainda, que os comportamentos de pensar e criar podem ser explicados, previstos e controlados e, acima disso, ensinados e aprendidos, Skinner confirma a influência do pragmatismo em sua ciência. Segundo Baum (1994), “a noção fundamental do pragmatismo é de que a força da investigação científica reside não tanto na descoberta da verdade sobre a maneira como o universo objetivo funciona, mas no que ela nos permite fazer”. Disso se segue que a ênfase skinneriana no desenvolvimento comportamental é parte integrante de seu projeto de ciência e como tal derivação natural deste projeto.

       Por fim, cabe ressaltar que a análise dos comportamentos operantes identificados como pensar e criar tem uma extensão e uma complexidade muito maior do que as apresentadas aqui, sendo este estudo apenas uma tentativa de reconstruir, através de alguns momentos da obra de Skinner, algumas noções consideradas relevantes para o entendimento do tema.

Referências:

Baum, W. (1994). Compreender o behaviorismo. Porto Alegre: Artmed.

Lopes, C. E. & Abib, J. A. D. (2002). Teoria da percepção no Behaviorismo Radical. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 18, 2. 129-137.

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Tourinho, E. Z.; Teixeira, E. R. e Maciel, J. M. (2000). Fronteiras entre análise do comportamento e fisiologia: Skinner e a temática dos eventos privados. Psicologia: Reflexão e Crítica. 13, 3. 425-434.

É possível o estudo científico do pensamento e da criatividade? – Parte I

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Por Ana Arantes, dO Divã de Einstein

“We can built a world in wich men and women will be better poets, better artists, better composers, better novelists, better scholars, better scientists – in a word, better people. We can, in short, have a better world”

B. F. Skinner, 1971

A Lecture on “Having” a Poem

    Tô meio nervosa com essa minha estréia aqui no Tubo de Ensaios e no ScienceBlogsBr…

    Pensei em bilhões e bilhões de assuntos para escrever, mas o povo aqui costuma ser sério, compenetrado, científico… e eu não escrevo assim nO Divã de Einstein – ele é sério e científico, mas não e lá muito compenetrado. Então, depois de muito trabalho, escrevi um ensaio sobre um tema que me interessa muito e sob uma perspectiva que eu conheço quase-muito-bem, que é a Análise do Comportamento.

    A idéia é discutir, do ponto de vista de B.F. Skinner, como a Ciência do Comportamento lida com os temas do pensamento e da criatividade e quais as implicações desses pressupostos para a construção de tecnologias para a compreensão, a pesquisa e o ensino da criatividade.

    Ao se discutir as noções de pensamento e criatividade em Skinner devemos principalmente levar em conta que esses conceitos, retirados do vocabulário mentalista, serão analisados por ele em termos operacionais. Isto implica em, primeiramente, qualificar o significado de tais termos no uso tanto por leigos como por estudiosos e, posteriormente, descrever em que situações palavras como “pensamento” e “criatividade” são empregadas. A estratégia empregada, então, é a de desconstrução dos significados de pensar em diversos tipos de comportamentos diferentes, analisando-os em termos das variáveis das quais são funções. Nesse processo, Skinner elimina os conceitos cognitivistas e mentalistas (processos mediacionais) através da descrição e da explicação do pensar enquanto comportamento.

    Partindo do conceito de mente, o autor faz reflexões críticas acerca dos problemas do dualismo, da introspecção e do pensar como armazenamento de informações. Sua crítica parte do reconhecimento de que os processos ditos mentais pressupõem variáveis não manipuláveis e, portanto, são apenas descritivos, não preenchendo os quesitos formadores de seu conceito de ciência, que são a manipulação, o controle e a previsão dos comportamentos. Outra crítica as psicologias cognitivistas e mentalistas é feita no que diz respeito ao método de investigação usado para se observar os fenômenos mentais, a introspecção, que Skinner renega enquanto método científico legítimo.

    Durante sua obra, Skinner desenvolve duas linhas principais de investigação para analisar o pensamento e o comportamento criativo. A primeira delas parte do ponto de vista evolutivo, tentando compreender as mudanças ambientais que levaram ao desenvolvimento desses comportamentos e a sua importância para a adaptação do homem ao ambiente em que está inserido. A segunda linha de raciocínio é empregada na estratégia de cobrir a explicação funcional dos comportamentos identificados como pensamento, analisando-os sob o referencial de seus estímulos controladores, das variáveis das quais são função.

    Divido aqui o texto em duas partes, iniciando com as críticas do autor ao modelo mentalista de estudo do pensamento e com a proposição do modelo comportamental para o estudo do tema. No posts seguintes, tratarei das implicações do modelo proposto por Skinner e do desenvolvimento da Ciência do Comportamento de Pensar.

1. Críticas ao modelo mentalista

     A crítica de Skinner as linhas psicológicas mentalistas começa com a crítica à sua implicação mais clara: o dualismo. Ele parte pressuposto epistemológico de que a ciência do comportamento, se devidamente incluída no campo das ciências, não pode lidar com um objeto insubstancial, tal como a mente cartesiana. Um dos problemas apontados por Skinner seria o de não poder manipular as variáveis de modo a produzir uma tecnologia útil, pois “se pudermos observar cuidadosamente o comportamento humano, de um ponto de vista objetivo e chegar a compreendê-lo pelo que é, poderemos ser capazes de adotar um curso mais sensato de ação” (Skinner, 1953).

     Não se trata de uma questão de facilidade, a complexidade dos processos ditos mentais não se reduz quando o objeto é o comportamento e não a mente. “O comportamento é uma matéria difícil, não porque seja inacessível, mas porque é extremamente complexo. O comportamento (…) é mutável, fluido e evanescente, e por esta razão faz grandes exigências técnicas à engenhosidade e energia do cientista” (Skinner, 1953). A noção de mente é problemática para uma ciência do comportamento porque a mente não é parte da natureza, não tem nenhuma propriedade de um objeto natural. É impossível observar os processos mentais interiores; a introspecção não pode ser levada a sério enquanto método científico pela razão última de que não temos órgãos sensoriais capazes de perceber os processos internos. “Nós temos mais informações sobre nós mesmo do que sobre outras pessoas, mas é apenas o mesmo tipo de informação – sobre estímulos, respostas e conseqüências, alguns destes internos e, neste sentido, privados. Nós não temos enervações sensoriais vindas das partes do cérebro que se engajam em ‘processos cognitivos'” (Skinner, 1986).

     Mesmo que abandonemos a noção de mente e a substituíssemos pela idéia de cérebro (solução muito adotada para se eliminar o mentalismo), voltaríamos ao mesmo ponto. O que pode ser observado pelos modernos aparelhos de imagem cerebral (PETscan e tomógrafos) são áreas cerebrais em funcionamento, mas o próprio funcionamento, os processos realizados pelo cérebro não são observáveis. “Vemos os materiais que processamos e o produto, mas não a produção” (Skinner, 1989). 

     Esse argumento não implica na negação das neurociências e de sua utilidade para a explicação completa do comportamento humano complexo, mas apenas na distinção clara dos limites da ciência do comportamento. “Os analistas do comportamento deixam o que está dentro da caixa preta para aqueles que dispõem dos instrumentos e métodos necessários ao seu estudo apropriado. Existem duas falhas inevitáveis em qualquer ponto de vista comportamental: uma entre ação estimuladora do ambiente e a resposta do organismo, e a outra entre as conseqüências e a mudança resultante no comportamento. Ao fazê-lo [o estudo], completa a descrição; não fornece uma explicação diferente. O comportamento humano inevitavelmente será explicado, e só poderá ser explicado através da ação conjunta da etologia, da ciência do cérebro e da análise do comportamento” (Skinner, 1989).

     A objeção behaviorista ao mentalismo, expressa principalmente na rejeição do dualismo, se manifesta na incapacidade que este demonstra de obter uma resposta a pergunta sobre como uma substância imaterial (não natural) pode afetar uma substância material (coisa natural). Chega-se, portanto, a inferência de que as causas ditas mentais do comportamento são causas fictícias.

     A objeção central de Skinner ao mentalismo é, no entanto, a de que este não consegue explicar aquilo a que se propõe. Parte dessa insuficiência se deve ao método introspectivo, como dito anteriormente e parte a circularidade das explicações propostas.  As explicações mentalista inferem uma entidade fictícia a partir do comportamento observável então afirmam que a entidade inferida é a causa do comportamento. Em razão das ficções mentais parecerem explicações, elas tendem a impedir a investigação das origens ambientais do comportamento, que levariam a uma explicação científica satisfatória. “Como a análise experimental do comportamento tem mostrado, o comportamento é modelado e mantido por suas conseqüências, mas apenas pelas conseqüências que permanecem no passado. Nós fazemos o que fazemos por causa do que aconteceu, e não do que acontecerá. Infelizmente o que aconteceu deixa poucos traços observáveis, e a razão pela qual fazemos o que fazemos, bem como o quão dispostos estamos a fazer algo, estão, conseqüentemente, muito além do alcance da introspecção” (Skinner, 1989).

     Uma dessas ficções explicativas mais combatidas por Skinner é a da idéia cognitivista do pensar como armazenamento de informações. Segundo essa visão, para responder novamente a um determinado estímulo, deveria haver
uma memória, ou uma espécie de cópia, armazenada em algum lugar da mente ou do cérebro, que quando acessada tornaria possível a repetição de um comportamento. Segundo Skinner, se usarmos a contingência de três termos como modelo explicativo para entendermos qualquer emissão de comportamento, não há necessidade de apelarmos a explicações mediacionais internas como a do armazenamento de informações. As explicações das relações entre o organismo e o ambiente são, portanto, suficientes para a total compreensão funcional. Para ele: “a objeção dos estados interiores não é a de que eles não existem, mas a de que não são relevantes para uma análise funcional” (Skinner, 1953).

      O que se coloca para Skinner é a questão da modificação produzida no organismo quando da emissão de um comportamento. Do mesmo modo que a teoria da seleção de Darwin, a causalidade de Skinner exclui qualquer suposição de que o comportamento possa ocorrer a partir de um projeto futuro. São as conseqüências ocorridas no passado que determinam a probabilidade de ocorrência do comportamento em uma situação futura. Não por que essas conseqüências são armazenadas ou memorizadas para serem recuperadas e orientarem uma ação futura, mas por que as ocorrências passadas modificam o organismo, i. e, alteram sua forma de se relacionar com o ambiente. Com esta noção de causalidade, Skinner combate a noção de um agente iniciador (das concepções mentalistas) e suprime a necessidade de procurar instâncias armazenadoras de informação ou memória. Nesse sentido, “as contingências que afetam um organismo não são armazenadas por ele. Elas nunca estão dentro dele; elas simplesmente o modificam. Daí resulta que o organismo se comporta de maneiras especiais sob tipos especiais de controle por estímulos. Os estímulos futuros serão eficazes se se assemelharem aos que foram parte de contingências anteriores; um estímulo acidental pode nos fazer lembrar uma pessoa, um lugar ou um acontecimento se tal estímulo tiver alguma semelhança com essa pessoa, lugar ou acontecimento. Ser lembrado significa ser tornado capaz de responder” (Skinner, 1974).

2. Pensamento como comportamento

     No entender de Skinner, o que comumente é identificado como o processo cognitivo superior do pensamento pode ser descrito como uma série de comportamentos ou processos comportamentais que não são públicos, mas cujos produtos finais, ou os estímulos controladores, podem ser observados ou inferidos de eventos observáveis. “Não se trata de nenhum processo misterioso responsável pelo comportamento, mas do próprio comportamento em toda a complexidade de suas relações de controle, relativas tanto ao homem que se comporta como ao meio em que ele vive” (Skinner, 1957).
    

     No intuito de explicar as variáveis que controlam diversos tipos de comportamento diferentes que podem ser chamados de pensamentos, Skinner faz uma espécie de catalogação desses possíveis comportamentos (ou processos comportamentais), analisando funcionalmente cada um deles e especulando sobre sua importância adaptativa e seu possível caminho evolutivo. É importante notar que com isso ele pretende identificar o termo “pensar” com comportamento operante, ou seja, sujeita-lo apenas as leis que regem o comportamento operante, sem que para explica-lo seja necessário recorrer a nenhum tipo de processo mediacional ou cognitivo.

     Vale ainda ressaltar que para cumprir seu projeto de explicar os comportamentos de pensar como tal, o primeiro passo foi substituir o substantivo “pensamento” pelo verbo “pensar”, eliminando assim a idéia do pensamento como uma coisa a ser descrita e levantando a questão do pensar enquanto uma ação direta no mundo, um comportamento que opera modificações no ambiente que o produziu, ou seja, um operante. Com isso, ele elimina ainda o peso mentalista do termo pensamento enquanto construto teórico cognitivista que nomeia um processo mental. Assim, “pensar significa muitas vezes o mesmo que comportamento. Dizemos, nesse sentido, que se pensa matematicamente, musicalmente, politicamente, verbalmente ou não verbalmente e assim por diante. Em um sentido ligeiramente diverso, significa comportar-se em relação a estímulos. (…) Pensar também é identificado com certos processos comportamentais, como aprender, discriminar, generalizar e abstrair. Esses processos não são comportamento, mas sim modificações no comportamento. Não há ação, nem mental, nem qualquer outra” (Skinner, 1968).

     Uma das situações mais comuns em que se emprega o termo “pensar” é a situação de se resolver problemas. Ter um problema é estar diante de uma situação em que uma resposta apresenta certa probabilidade de ser emitida, mas por falta de uma estimulação discriminativa adequada isso não ocorre. Portanto, o processo de resolução de problema pode ser considerado como constituído, basicamente, por respostas manipulativas e discriminativas: diante de um problema manipulamos variáveis a fim de produzir estímulos discriminativos que permitam a emissão da resposta discriminativa consumatória (Lopes & Abib, 2002). Ou seja, para Skinner o problema é uma questão para a qual não há resposta até o momento e sua solução é o comportamento responsável pela mudança da situação. O comportamento de pensar enquanto “resolver um problema” seria um encadeamento de comportamentos que, para o indivíduo que “pensa”, ocorreria para mudar a si mesmo ou a situação até que ocorra uma resposta (solução do problema). “Resolver um problema é um evento comportamental” (Skinner, 1963).

      Skinner cita várias formas segundo as quais nos comportamos no sentido de gerar comportamentos que levariam à solução de uma determinada situação. Para cada uma dessas formas de comportamento usa-se comumente a expressão “pensar”: (1) quando se faz algo que torna possível outro comportamento; (2) quando nenhum estímulo efetivo está disponível e as pessoas expõem algum; (3) quando não se pode descobrir um estímulo, às vezes deixa-se um outro acessível de reserva até que a resposta ocorra; (4) quando junta-se várias coisas diferentes para possibilitar uma resposta única; (5) faz-se o inverso quando separa-se coisas de modo que se possa lidar mais facilmente com elas em outra ocasião; (6) marca-se coisas de modo que se possa nota-las mais facilmente em outra ocasião; (7) compara-se coisas, colocando-as “lado a lado” de modo que se possa ver mais facilmente se elas combinam entre si; (8) especula-se sobre as coisas, no sentido de que se olha para elas de diferentes ângulos e (9) depois de “pensar” por algum tempo chega-se a uma decisão (a própria palavra deriva da expressão “por fim a alguma coisa”) (Skinner, 1989).

Referências:

Baum, W. (1994). Compreender o behaviorismo. Porto Alegre: Artmed.

Lopes, C. E. & Abib, J. A. D. (2002). Teoria da percepção no Behaviorismo Radical. Psicologia: Teoria e Pesquisa. 18, 2. 129-137.

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Natureza Perfeita

Por Glauco Kohler

Frequentemente, quando declaro que sou biólogo, recebo elogios e comentários de que a minha é uma profissão nobre, pois estuda a beleza, perfeição e equilíbrio da natureza. Como um defensor do pensamento científico, quase que na totalidade das vezes em que ouço tais afirmações, me obrigo a concordar com metade; de que minha profissão é nobre por estudar a beleza e funcionamento do mundo natural, mas que este não é perfeito e muito distante do equilíbrio. O conceito de mundo natural perfeito e em equilíbrio é fruto de nossa limitada capacidade de observação nas dimensões de tempo e espaço. Como produto, nossas conclusões e asserções tornam-se igualmente limitadas e presas a esta ótica empiricista e equivocada. 

De forma semelhante a nós humanos, natureza não é nunca foi e nunca será perfeita e equilibrada, pois o próprio dinamismo natural baseia-se em relações desonestas e trapaceiras, onde impera a lei do mais forte, e mais ainda, do mais esperto. Os epífitos (bromélias, orquídeas e outras) não pedem autorização para crescer sobre seu hospedeiro arbóreo, tampouco estão preocupadas com o peso de suas biomassas sobre os ramos do mesmo, o que lhes preocupa é crescer e se desenvolver num local favorável a suas atividades vitais. São egoístas. Os leões na savana africana, lutam ferozmente por um harém de fêmeas para poder propagar seus genes. Se neste harém recém conquistado pela expulsão do antigo macho houver ainda genitores do antigo líder, os mesmos serão assassinados friamente e suas mães aceitarão impotentes a intervenção do novo macho. Egoísmo e crueldade, sentimentos muito humanos. Os carneiros monteses (Ovis canadensis), das montanhas dos EUA e Canadá, travam combates violentos pelo direito a fêmeas na época do acasalamento. Não raramente o macho derrotado morre, mas se não, pouco interessa ao vencedor se o derrotado terá acesso a alguma fêmea. Indiferença e egoísmo. As orquídeas do gênero Ophyr têm flores que imitam as cores e padrões morfológicos de fêmeas de certas espécies de vespa e chegam até mesmo a produzir seus feromônios para atração dos machos ansiosos em copular. A orquídea se vale do esforço do macho iludido para levar suas polínias até outra planta que o enganará novamente, uma estratégia trapaceira e humilhante.

Estes são apenas algumas entre as mais notáveis e engenhosas estratégias de barganha no mundo natural, mostrando que a visão romancista, ingênua e benevolente dos seres vivos e suas relações não condizem com a realidade. Na natureza não há o equilíbrio e sim a guerra e o caos, dos quais provem a ordem magna natural. Porém, a humanidade comete pecados ainda maiores ao lidar com as interpretações d a natureza do qual provém: a de julgar suas relações sob a luz opaca de seus preceitos morais. Muitos que lerem os exemplos acima citados julgarão os organismos como de índole bestial e irracional, ante suas próprias concepções morais distorcidas advindas de crenças religiosas e metafísicas, no entanto, compartilho que devemos analisar estas relações com a veracidade que nos é nata. Seria-nos mais construtivo absorver o subliminar destas e entender que o sentido da vida que muitos procuram reside na própria existência e não dos produtos de nossa consciência. A única preocupação dos organismos é viver.

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Texto escrito por Glauco Kohler, biólogo chloroceryle [arroba]
gmail [ponto] com