Solos contaminados e plantas II

No primeiro post sobre biorremediação, utilizei o exemplo hipotético da absorção de estrôncio por plantas. É bom que fique claro que não conheço nenhum caso real de plantas ou microrganismos que remediem estrôncio especificamente. No exemplo utilizado, quis apenas ilustrar uma das possibilidades que permitem o uso de plantas como descontaminadoras: a absorção de um elemento não essencial quimicamente semelhante a outro que seja reconhecidamente um nutriente. Apesar de o caso do estrôncio sendo absorvido em vez de cálcio ser hipotético, o mecanismo realmente ocorre em algumas espécies de pteridófitas (samambaias) que absorvem arsênio no lugar de fósforo. O fósforo é um nutriente essencial ao crescimento e desenvolvimento das plantas mas o arsênio não, embora ambos pertençam ao mesmo grupo da tabela periódica e sejam quimicamente muito semelhantes. O fósforo, entre outras coisas, entra na composição da membrana celular, dos ácidos nucléicos (DNA e RNA) e do ATP, responsável pelo armazenamento de energia nas células. Algumas pesquisas mostram que há plantas que absorvem arsênio em quantidades consideráveis, com potencial de serem utilizadas como biorremediadoras. O arsênio é um elemento tóxico, em geral associado a problemas ambientais decorrentes da mineração de ouro. Quando escrevi no outro post que as plantas poderiam se enganar, não quis dizer isto literalmente. O que acontece é que uma das formas de as plantas selecionarem os elementos absorvidos é pelo tamanho dos elementos, por exemplo, de forma que elementos de tamanho semelhante podem ser absorvidos indiscriminadamente, quer sejam essenciais à nutrição da planta ou não. Uma vez dentro das células, a maior parte das espécies possuem mecanismos bioquímicos capazes de identificar se um elemento é tóxico ou não e os mecanismos de defesa então entram em ação: imobilização em biominerais, armazenamento nos vacúolos, captura por substâncias químicas, em geral ácidos orgânicos de baixo peso molecular…

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