O solo de cá não é o mesmo de lá II

O conhecimento dos diferentes tipos de solo e a existência de um sistema de classificação abrangente e confiável, além da importância científica óbvia, tem uma importância prática crucial: o uso adequado dos solos de acordo com o fim que se pretende. Como já foi abordado em outros posts, a fase sólida dos solos é composta de uma fração mineral e uma orgânica. A fração mineral divide-se em frações de tamanho que também apresentam diferenças em relação à mineralogia e ao comportamento químico: fração areia, que é a mais grosseira, composta principalmente de quartzo e muscovita, é uma fração quimicamente praticamente inerte; fração silte, intermediária, composta majoritariamente por quartzo, também quimicamente bastante inerte; e fração argila, composta por aluminossilicatos secundários (argilominerais) e óxidos de metais (principalmente ferro e alumínio), é a fração quimicamente mais ativa dos solos e responsável, juntamente com a matéria orgânica do solo, pela retenção de nutrientes e outros elementos e substâncias. Classes diferentes de solos terão horizontes (ver a definição de horizonte de solo) com teores de areia, silte e argila diferentes. A proporção destas três frações em um horizonte ou solo é o que chamamos textura do solo. A textura de um solo nos pode informar muito sobre o comportamento esperado deste solo. Um solo argiloso poderá ser quimicamente mais rico, mas poderá também apresentar problemas de drenagem, impedindo a infiltração eficiente da água no solo, ou dependendo dos minerais da fração argila presente (que também poderão não ser os mesmos de solo para solo) poderá haver uma retenção de alguns nutrientes, como fósforo por exemplo, tão forte que a planta não consegue absorvê-lo. Solos mais arenosos em geral são quimicamente mais pobres, mas podem apresentar boa drenagem e todo o adubo aplicado poderá ser utilizado pelas plantas; no entanto, pela pobreza em argila estes mesmos adubos podem ser perdidos, levados pela água que infiltra, um processo chamado de lixiviação. De posse destas informações e de outras que se ganha ao se conhecer os vários tipos de solo, um agrônomo, um geoquímico, um agricultor terão menor possibilidade de tomar decisões incorretas no que diz respeito à utilização de um solo. Assim, um engenheiro ambiental saberá que a classe de solos arenosos conhecidos como Neossolos regolíticos, por exemplo, não será adequado para a disposição de lixo tóxico porque o excesso de drenagem poderá levar os contaminantes para as águas subterrâneas ou até superficiais; um agrônomo saberá que a aplicação de adubos fosfatados em solos conhcidos como Latossolos que sejam ricos no mineral goethita deverá ser um pouco superior à dose recomendada, para suprir tanto o solo quanto a planta; o agricultor da região de Viçosa entenderá que os solos mais avermelhados em que ele planta batata ou até mandioca são mais apropriados para essas culturas não por causa da cor vermelha, mas porque esta cor é reflexo da presença do mineral hematita, formado em locais de boa drenagem e maior aeração do solo, necessários para a produção de tubérculos, e por aí vai. (Continua)

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