Permafrost e mudanças climáticas globais

Ontem assisti a um seminário sobre estudos de solos na Antártida proferido pelo Prof. Carlos Ernesto Schaefer do Departamento de Solos da UFV. Um dos focos do estudo são os criossolos, ou seja, solos de regiões frias que possuem um horizonte permanentemente congelado, conhecido como permafrost. Estes solos ocorrem também e em maior número no hemisfério norte, notadamente nas regiões boreais, onde predomina a vegetação conhecida como tundra. Há um interesse muito grande atualmente no monitoramento destes solos porque o aquecimento global ameaça derreter o permafrost ou horizonte permanentemente congelado. Além do problema óbvio de subsidência ou rebaixamento dos terrenos que isto acarretaria pela diminuição do volume do solo (lembrando que a água quando congela aumenta de volume, ao contrário de outros líquidos), a grande preocupação dos cientistas é que estes horizontes congelados guardam uma quantidade enorme de matéria orgânica indisponível à decomposição microbiana, ou seja, muito CO2 seqüestrado e que não contribui para o efeito estufa. Caso o permafrost venha a derreter, muito desta matéria orgânica será decomposta, liberando CO2 para a atmosfera e aumentando o efeito estufa. Para piorar, muitas destas áreas, se não a maior parte, se tornarão áreas alagadas. Em áreas alagadas também há decomposição da matéria orgânica, mas como há restrição de oxigênio (essencial para a respiração dos microrganismos decompositores), esta decomposição é incompleta e o gás liberado passa a ser o metano (CH4) que também é um gás de efeito estufa, porém cerca de 23 vezes mais eficiente em reter radiação do que o CO2. Vinte e três vezes mais eficiente em esquentar a Terra do que o gás carbônico! E não pensem que este é um cenário remoto. A equipe do Professor Carlos Schaefer descobriu que em uma das áreas da Península Antártica sob estudo, em um local totalmente tomado por solos com permafrost há algumas décadas, hoje há apenas 2% dos solos ainda com o horizonte congelado. Há claramente outros pontos a considerar. Com o aumento da temperatura e conseqüente presença de água líquida nestes locais, certamente haverá um aumento na taxa de intemperismo químico (decomposição química de rochas e minerais), que é por sua vez um mecanismo seqüestrador de CO2, podendo talvez compensar em parte a emissão dos gases de efeito estufa. Desconheço estudos estimando de quanto poderia ser esta “compensação”, mas acredito que o resultado líquido seria ainda catastrófico.

Discussão - 1 comentário

  1. Anonymous disse:

    agradeço a gentileza de fornecer conhecimento de bom nível numa linguagem bem acessível. Considero este tipo de atitude rico e singular a apenas quem alcançou altos graus de sabedoria, ( que aláis conceituo como grau maior que o conhecimento. muito grata

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