A epidemia da cana-de-açúcar e a febre do silício

Calma, não há pelo que eu saiba nenhuma nova doença atingindo os canaviais de forma descontrolada, pelo contrário, o que parece estar acontecendo Brasil afora é a conquista de espaço de forma agressiva pela cana-de-açúcar, em grande parte devida ao alvoroço criado pela perspectiva do crescimento do mercado de biocombustíveis (neste caso o etanol) causada com a preocupação em relação ao aquecimento global. Como comentei em um outro post, apesar de o silício não ser consensualmente considerado um nutriente essencial para as plantas, há evidências de que sua aplicação como adubo pode trazer alguns efeitos benéficos para certas espécies. Entre as espécies cultivadas, o arroz e a cana-de-açúcar (ambas gramíneas) destacam-se como acumuladoras de silício e um número de trabalhos científicos têm demonstrado aumento de produções destas culturas com a aplicação de insumos contendo silício. O que deve ser levado em conta por agricultores e profissionais ligados à agricultura e ao meio ambiente é que algumas destas fontes de silício utilizadas são escória de siderurgia e podem conter teores razoavelmente elevados de metais pesados. Alguns pesquisadores argumentam que estes “adubos” silicatados têm reação alcalina no solo, ou seja, aumentam o pH do solo (diminuem a acidez) o que em geral diminui a biodisponibilidade e a mobilidade dos metais, decrescendo ou anulando os riscos ambientais. Entretanto, este aumento de pH não é eterno nem irreversível, e os metais porventura adicionados aos solos permanecem lá e com o aumento da acidez do solo podem vir a ser disponibilizados novamente. Além disso, muitas espécies de plantas têm a capacidade de acidificar o solo ao redor das raízes (a rizosfera) podendo absorver metais pesados. Enfim, um problema mais imediato, estes produtos utilizados como fonte de silício em geral não informam, por simples falta de análises e de estudos, os teores de silício sendo disponibilizados às plantas, às vezes informando um teor total do elemento que não corresponde obrigatoriamente ao que está disponível à absorção pelos vegetais.

Discussão - 0 comentários

Participe e envie seu comentário abaixo.

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Categorias