Produção de metano por plantas…Será?

Em janeiro de 2006 os pesquisadores F. Keppler, J. T. G. Hamilton, M. Bra e T. Röckmann publicaram um artigo na revista científica Nature com o título “Methane emissions from terrestrial plants under aerobic conditions” em que divulgavam sua constatação de que plantas terrestres produziam e emitiam o gás metano. Como já abordei diversas vezes aqui no geófagos (por exemplo aqui e aqui), o metano (CH4) é um gás produzido por bactéria anaeróbicas (que vivem na ausência de oxigênio), presentes em regiões alagadas como pântanos e plantios de arroz irrigado, bem como no sistema digestivo de bovinos, ovelhas e cupins. Este gás, assim como o gás carbônico, está envolvido no aquecimento do planeta Terra, porém tem a capacidade de aquecer o planeta 23 vezes maior que o CO2. Até a publicação do trabalho de Keppler e colaboradores, ninguém suspeitava da produção de metano por plantas terrestres em ambientes aeróbicos (na presença de oxigênio). De acordo com aqueles pesquisadores, cada grama de material vegetal seco produziria entre 0,3 e 3 nanogramas de metano por hora (1 nanograma é igual a 1 grama dividido por 1 bilhão). Os valores parecem pequenos, mas se se leva em conta toda a massa dos vegetais no planeta as emissões totais de metano pelas plantas alcançariam de 60 a 240 milhões de toneladas métricas de metano por ano. Alguns jornalistas rapidamente ligaram as plantas (notadamente as florestas tropicais) ao aquecimento global, alguns até sugerindo a derrubada de matas como resolução do problema, claramente desconhecendo que o desmatamento emite uma quantidade enorme de CO2, possivelmente o maior responsável pelo efeito estufa. Qual não foi minha surpresa ao saber de um artigo na revista científica New Phytologist recém-publicado questionando os resultados do trabalho de Keppler e colaboradores. O novo trabalho tem como título “No evidence for substantial aerobic methane emission by terrestrial plants: a 13C-labelling approach”, por uma equipe de pesquisadores holandeses encabeçada por Tom A. Dueck. Os dados apresentados no novo trabalho invalidam a sugestão feita por Keppler et al. de que se reavaliassem os dados de emissão de metano por fontes naturais ao apresentar valores de emissão de CH4 por plantas terrestres de apenas 0,3% dos valores do trabalho anterior. Imagino que este debate de idéias (aliás muito salutar e exatamente o que diferencia a ciência de formas dogmáticas de visão do mundo) ainda renderá muito em termos de pesquisa e entendimento.

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