Terras pretas de índio: monturos arqueológicos

Meu amigo Guilherme Resende Corrêa, geógrafo e mestrando em Solos e Nutrição de Plantas, apresentou ontem um seminário sobre seu assunto de tese: a descrição e classificação dos solos arqueológicos amazônicos conhecidos como Terras Pretas de Índio ou Terras Pretas Arqueológicas. Segundo as evidências mais fortes, estes solos foram formados ao longo de séculos em locais de antigas povoações indígenas amazônicas, muitas contendo milhares de habitantes. Nos locais onde estes antigos brasileiros jogavam os resíduos orgânicos e não orgânicos formaram-se estes solos de alta fertilidade que contrastam com os solos quimicamente pobres do entorno. Muitas destas terras pretas são usadas hoje para a agricultura dos caboclos amazônicos e em geral são muito procuradas devido a sua riqueza em matéria orgânica e em elementos básicos (cálcio e magnésio) e fósforo. Alguns cientistas, brasileiros e estrangeiros, envolvidos na pesquisa destes solos têm recentemente feito estudos sobre a viabilidade de se tentar imitar os processos que levaram à formação destes solos arqueológicos para formar solos similares atualmente, alguns visando uma agricultura mais sustentável na Amazônia, outros pensando na possibilidade de se seqüestrar carbono. Nesta última linha destaca-se o cientista americano Johannes Lehmann que no último dia 10 de maio publicou na Nature o artigo “A handful of carbon” justamente propondo a “produção em massa” de terras pretas com o intuito de se seqüestrar carbono para aliviar o efeito estufa. Atualmente estou lendo os artigos do autor nesta linha e logo pretendo postar minhas opiniões aqui no Geófagos. Para concluir, gostaria de lembrar que no sertão nordestino é comum plantar-se principalmente milho e feijão no monturo das casas sertanejas, prática eternizada na música “O jumento é nosso irmão” de Luiz Gonzaga, que é exatamente o local onde os sertanejos eliminam os resíduos domésticos e a preferência por estes locais se deve exatamente pela maior fertilidade e possivelmente maior retenção de água. Sem saber, estes camponeses têm feito o que hoje se chama de ecossystem engineering, engenharia de ecossistemas, formando solos que no futuro talvez venham a ser chamados de Terras Pretas de Sertanejos.

Discussão - 2 comentários

  1. Marcus V. Locatelli disse:

    Como vai grande Ítalo?realmente mto interessante este tema. No se´minário foram-me suscitadas algumas dúvidas, principalmente na "polêmica" dos extratores, com base na "especifidade" de cada um, seria possível estimar o grau de pedogênese destes solos, uma vez q a princípio teríamos P-Ca na maior parte de todo conteúdo de P, evoluindo/estabilizando para posteriormente P-Fe, P-Al ou Po????

  2. Guilherme Corrêa disse:

    Olá Ítalo,
    Só agora vi este seu texto. Muito interassante.
    Abraço

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