Como pagar ao meio ambiente?

A pergunta no título deste post pode parecer estranha e alguém talvez pense que me enganei ao escrever, mas não. A pergunta é relevante e pode ser melhor entendida se escrita de outra forma: se deixarmos de considerar todas as vantagens conferidas por um ambiente bem preservado e funcional como bens gratuitos e passássemos a dar valor monetário a isto, a consciência destas vantagens não seriam mais notadas e talvez melhor conservadas? Dou um exemplo. O grande desafio da humanidade atual é diminuir ou de preferência parar as emissões de gases de efeito estufa que estão causando mudanças climáticas globais de reversibilidade controversa. Tenho falado constantemente no papel dos solos como possíveis mitigadores destas emissões ao seqüestrar dióxido de carbono na forma de matéria orgânica do solo, mais conhecida como húmus. Além do efeito benéfico pela diminuição de gases de efeito estufa na atmosfera, o acúmulo e a dinâmica da matéria orgânica no solo traz uma série de outros benefícios como melhorar a fertilidade dos solos, sua estrutura, imobilizarem possíveis poluentes como metais pesados, aumentar a biodiversidade nos solos. Ora, na verdade todos estes benefícios podem ser considerados como serviços para o bem estar da sociedade. Mas o cidadão não os paga, recebe-os gratuitamente…ou melhor, não os recebe porque o acúmulo de matéria orgânica nos solos, e outros tipos de serviços ambientais, dependem da adoção de práticas de manejo dos solos principalmente por agricultores, porém não há incentivos econômicos para isto e contar com a consciência das pessoas é uma estratégia no mínimo ineficiente, convenhamos. A idéia não é nova e na verdade já há estimativas de valores para este tipo de serviço ambiental. Internacionalmente, avalia-se que o acúmulo de uma tonelada de carbono orgânico no solo em um hectare (dez mil metros quadrados) custe cerca de dez dólares. O problema é que acumular esta tonelada é muito difícil. Para se ter idéia, trabalhos recentes em áreas de pastagens nativas nos Estados Unidos avaliando o potencial de certas práticas de manejo que seqüestram carbono nos solos mostraram que se conseguia acumular em torno de meia tonelada, ou seja, 500 quilogramas por hectare, em termos monetários, míseros 5 dólares. Por comparação, em meu trabalho de tese de doutorado avaliei o quanto um determinado solo de uma região montanhosa em uma Área de Proteção Ambiental de Minas Gerais tinha acumulado de carbono. Cheguei a um valor de cerca de 300 toneladas por hectare. Trezentas toneladas multiplicadas por dez dólares são 3 mil dólares. Pouco dinheiro? Bem, considerem que nesta região a área abrangida por este solo era de cerca de 1000 hectares, acumulando em torno de 300 mil toneladas e isto já vale para 3 milhões de dólares! O ambiente natural levou milhares de anos para acumular estas 300 toneladas de carbono orgânico que custariam hoje 3 milhões de dólares para se acumular, de graça. Esta valoração no entanto nos dá uma idéia do quanto pode ser perdido se esta área for utilizada para a agricultura dita convencional, para a urbanização descontrolada e outros usos. E agora pergunto de novo: como pagar ao meio ambiente?

Discussão - 6 comentários

  1. Locatelli disse:

    salve grande Ítalo
    voltou com um post muito interessante
    como sempre causando impacto com seu conhecimento sobre ciência, meus parabéns
    abraços
    sucesso em 2008

  2. Mussa Raja disse:

    Para dr. Italo Guedes
    Respeitoso Dr. Italo M. R.Guedes, constitui inicio de uma amizade que comeca da provocacao nao intencionada. Acabei de considerar o seu comentario sobre o seu suor de pesquisa que sao suas publicacoes em varios meios, em que a minha pessoa infringiu intencionalmente a ciencia, confesso que isso nao lesa a si so Dr. Italo Guedes, mas tambem lesa a mi como um novinho nessa carreira cientifica acima de tudo aspirante, ainda lesa aos leitores do mesmo spot.
    Nao ha argumentos fora de pedir desculpas, retirando tambem a informacao sobre a qual Dr. Guedes comentou no meu spot.
    Antes porem, deixa-me dar a minha consideracao do como inseri artigos de Italo Guedes no meu spot, primeiro confesso que foi erro electronico. Sem querer depois de downlod dos artigos ha semanas atraz, fiz meus apontamentos no meu notario, resumindo e jogando os autores ou seja, citando-sos. Ao inserir no spot considerava ser aquilo que resumi e citei, porque o meu spot ainda e jovem e eu jovem desse sistema electronico acabei confundindo os nomes que apareciam no downlod que era fitolito no meu dispositivo flash. Assim sendo, a informacao que constava sem citacao da autoria do Italo Guedes no meu spot foi uma confusao de nomes apontamentos de fitolitos-arqueologia com a relacao arqueologia e fitolitos.
    Ainda hoje na edicao dos meus spots e que consegui notar e li o seu comentario.
    Contudo, ao Dr. Italo Guedes, considero e admiro a sua pessoa. Esse comentario tambem vai para seus webspot Geofagos em que assiduamete visto e leio.
    Admiro tambem suas publicacoes e sempre actualizadas.
    Cordiais saudacoes academicas

  3. Caro Mussa Raja,
    Entendo que estes enganos possam acontecer e aceito suas desculpas. Obrigado pelas palavras gentis e desejo-lhe sucesso em sua caminhada acadêmica.
    Cordialmente,
    Ítalo M. R. Guedes.

  4. mussa raja disse:

    Muito Obrigado ao Dr. Ital M. R. Guedes, Espero o vosso comentario dos meus artigos no meu blog oficinamussaraja.
    Estou grato pelo reconhecimento da falha.

Envie seu comentário

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Categorias