Ecologia de paisagens e a Serra do Cipó

Mais um excelente post convidado do amigo Elton Valente. Abaixo ele discorre sobre um assunto de já tratei aqui: o desenvolvimento de vegetação exuberante, como a floresta amazônica, sobre solos tropicais quimicamente pobres, como os Latossolos. No caso da área da tese do Elton ocorrem coisas mais extremas, matas ombrófilas (sombreadas) sobre areia quase pura. Sobre a área da Serra do Cipó em que o Valente desenvolve sua tese, também já há algo aqui no Geófagos. Boa leitura.
“Hoje o assunto destas linhas não são os meus desabafos “sócio-político-ambientais” (ufa!) – Aliás, quero registrar o fato de que o meu colega e amigo Ítalo Rocha tem sido bastante generoso comigo, permitindo-me publicá-los aqui no Geófagos. Desta vez quero falar da minha pesquisa de doutorado. Em linhas gerais, o projeto consiste em estudar as relações entre o solo e a vegetação em alguns geoambientes da Serra do Cipó, em Santana do Riacho, nas proximidades de Belo Horizonte.
Intuitivamente nós associamos a uma vegetação robusta, frondosa, níveis elevados de fertilidade do solo. Quando se trata da produtividade das culturas comercias, esta relação é verdadeira, portanto corrigimos as “deficiências” do sistema. Em condições naturais não é bem assim, a natureza sempre nos reserva boas surpresas. Tanto nos trópicos quanto em regiões temperadas, às vezes, sobre solos ricos quimicamente, pode se encontrar uma vegetação de baixa biomassa, ou subarbustiva, até mesmo herbácea, pois outros fatores podem determinar tal condição, por exemplo, a profundidade do perfil do solo, a disponibilidade de água, a temperatura local, ou uma associação destes fatores, entre outros. Por outro lado, nestes “tristes trópicos” (como dizia Claude Lévi-Strauss), é quase uma regra encontrar solos pobres, como os Latossolos, sustentando vegetação exuberante. O fato é que, mais que isso, não é raro encontrar uma vegetação igualmente frondosa assentada sobre solos muitíssimo pobres quimicamente (abaixo da linha da pobreza, eu diria em tom de jocosidade). É exatamente isto que encontramos nos trabalhos de campo de minha pesquisa: solos extremamente pobres sustentando uma vegetação de fitofisionomia ombrófila, bem desenvolvida, frondosa, florísticamente associada à Mata Atlântica. E, num aparente paradoxo, os solos são tão pobres quimicamente que os poucos nutrientes que ali se encontram estão restritos à manta orgânica e ao horizonte A. A rocha de origem do solo não os fornece. Nos horizontes sub-superficiais, em alguns casos, elementos como P, Ca e Mg apresentam valores nulos ou traços.
Tenho suscitado muitas dúvidas e questões sobre isto, o que é ótimo para o trabalho. Por ora não posso comentá-las aqui. Mas o fato é que ainda conhecemos pouco sobre Ecologia de Paisagens. É neste ramo da ciência que, no fim das contas e a bem da verdade, está inserido o meu trabalho (estou no Departamento de Solos – e quero continuar aqui). Acho que em função dos problemas ambientais graves que estamos vivenciando e que ainda estão por vir, muitos pesquisadores das ciências naturais, como Ciência do Solo e Biologia entre outras, estão deixando “a linha dos especialistas”, onde o indivíduo “sabe muito de pouco”, e seguindo a trilha dos antigos naturalistas, aqueles que sabiam um pouco de cada coisa para entender o todo. Como dizia o sábio Aristóteles: “o todo é muito maior do que a simples soma de suas partes”. Na estrutura da paisagem, a Biocenose e o Biótopo se entrelaçam de forma indissociável (isto já soa como um lugar comum) formando o Ecossistema, ou seja, formando um conjunto muito complexo, mas de uma lógica espantosamente simples, que se traduz no equilíbrio dinâmico dos elementos naturais, em sistemas abertos por natureza. Pensando assim é que talvez seja possível encontrar um caminho para elucidar, pelo menos em parte, aquelas minhas questões sobre a Serra do Rio Cipó.
Elton L. Valente”

Discussão - 4 comentários

  1. Carlos disse:

    Mais informações no site www.portalcipo.com.br.

  2. sandra disse:

    gostaria de saber se vcs tem uma informaçao oficial sobre o rio cipo, seus dados referente a largura,extensao,nascente ou onde podemos encontrar.
    agradeço,
    sandra

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