Evolução humana e pedologia

Caros amigos leitores, seguindo a linha proposta pelo meu amigo Ítalo discutirei alguns aspectos ao meu ver interessantes sobre a evolução humana e sua possível associação com determinadas características dos solos por onde passou a espécie. Há já um consenso científico em torno do fato de a evolução humana ter se iniciado no continente africano, mais especificamente em áreas savanizadas (áreas onde predomina a vegetação em forma de savana, semelhantes ao cerrado brasileiro). Ora, a savanização do continente africano deveu-se a restrições pluviométricas de parte daquele continente. Até hoje, a savanização do continente é considerada o principal fator do sucesso das espécies “homo” que posteriormente se espalharam pelo mundo. Mas consideremos alguns aspectos por vezes “esquecidos” por antropólogos e arqueólogos e, que ao meu ver, também devem ser considerados para explicar a evolução humana. À savanização é atribuída o maior sucesso de defesa do gênero “homo”, que desenvolveu a capacidade de se movimentar “de pé”, tornando-se bípede e que, por causa de um predomínio de vegetação rasteira apresentava maior raio de alcance da visão. Porém, além disso, as restrições climáticas em áreas de materiais de origem “ricos” (em geral, rochas com abundância de elementos alcalinos, entre outros) geram solos pouco intemperizados e via de regra férteis. Essa fertilidade proporciona maior acúmulo de nutrientes na biomassa vegetal e consequentemente permite o maior desenvolvimento de espécies consumidoras da mesma (herbívoros). Assim, pode-se atribuir à maior fertilidade dos solos daquela região a grande biomassa animal daquele continente. Considerando que o homem primitivo era nômade e caçador podemos logo chegar à conclusão que a elevada biomassa animal na África poderia levar à elevada disponibilidade de caça para os humanos e consequentemente também cooperaria para o sucesso do desenvolvimento dos mesmos. Em suma, os solos férteis regionais levariam à instalação de espécies vegetais ricas nutricionalmente e à grande disponibilidade de pastagens, que por sua vez serviriam como fontes alimentares para grandes manadas animais e seriam responsáveis pela elevada biomassa animal daquele continente. Assim, a grande disponibilidade de caça, associada à estratégia eficiente de defesa proporcionado por um ambiente composto principalmente por espécies “rasteiras” permitiram o sucesso do gênero “homo”. Isso mostra como os solos locais também tiveram influência no suceso evolutivo do homem primitivo. Outro caso a ser citado é a descoberta de ossadas daqueles que seriam os humanos mais antigos da américa em regiões cársticas (rochas sedimentares de origem química, como os calcários) e quartzíticas do estado de Minas Gerais. Acredito que os principais fatores associados à instauração dessas espécies nesses ambientes estão relacionados à pedologia e geomorfologia locais. Coincidentemente ao que aconteceu no continente africano, a instalação do homem primitivo no ambiente sul americano se deu em áreas de “savanas tropicais” e campo. Ou seja, áreas de vegetação predominantemente rasteiras. Além disso, os solos sobre calcários (material de origem ricos) provavelmente naquela época (cerca de 11500 anos atrás) ainda apresentavam certa eutrofia (riqueza em nutrientes) e consequentemente existia abundante biomassa animal (fonte de caça). A presença também constante de cavernas em áreas cársticas e quartzíticas serviriam como abrigos para o homem primitivo que assim poderiam se proteger das intempéries climáticas e de ataques animais. Tudo isso apresenta como a interface pedogeomorfológica, muitas vezes esquecidas nos estudos tradicionais de arqueologia e antropologia, podem fornecer hipóteses plausíveis para explicar a ocupação e evolução da espécie humana.
Carlos Pacheco

Discussão - 2 comentários

  1. Alexandre disse:

    muito bem Pacheco!!!!

  2. Guilherme Corrêa disse:

    Caro Pacheco,
    Muito interessante. Também penso assim, a pedologia tem muito a contribuir nessa área, ainda mais se considerarmos que os testemunhos arqueológicos viraram solo ou estão em estádio variado de pedogênese. Entretanto temos que considerar alguns fatores particulares: as áreas calcárias conservam por mais tempo esqueletos (o que pode explicar um número maior de achados nessa litologia).

Deixe um comentário para Guilherme Corrêa Cancelar resposta

Seu e-mail não será divulgado. (*) Campos obrigatórios.

Categorias