Metais pesados em solos: Metais como poluentes ambientais

Quase todos os metais presentes no ambiente são biogeoquimicamente ciclados desde a formação do planeta e, por isso, são de ocorrência natural. Entretanto, recentemente, tem sido observados “inputs” desses elementos de origem antrópica. Muitas dessas entradas provêm do descarte de resíduos, deposição atmosférica, uso de agroquímicos, ou mesmo reuso de resíduos urbanos e industriais. O crescente incremento de metais pesados nos diversos ecossistemas terrestres tem sido acompanhado pela preocupação com a disseminação desses elementos, em concentrações que podem comprometer a qualidade dos ecossistemas.
É necessário que se distingua a priori contaminante e poluente. Essa definição ainda é ambígua, sendo diferente dependendo da área. Quando se trata das ciências agrárias, por exemplo, é comum que poluente seja definido como um elemento ou composto que ocorre em concentrações mais elevadas do que as naturais, enquanto que contaminante é entendido como aquele elemento ou composto cuja concentração encontrada é suficiente para provocar danos aos componentes bióticos. Quando se trata de estudos na área de saneamento ambiental, é comum encontrar-se definição contrária, invertendo portanto, o sentido de tais definições. Faz-se necessário então a padronização de tais conceitos.
O problema central associado à contaminação dos solos por metais pesados se deve a existências de formas biodisponíveis desses elementos. Os metais encontrados nas formas solúveis e trocáveis são aqueles que apresentam maior biodisponibilidade, sendo, portanto, as formas mais preocupantes. Na forma solúvel, o metal está na forma iônica ou de complexos orgânicos e é facilmente absorvido pelas plantas ou é lixiviado, podendo atingir os corpos d´água subterrâneos. A lixiviação ocorre quando a carga crítica do solo é superada ou reduzida devido à mudanças ambientais, passando o solo a funcionar como um dreno e não mais como filtro. Já na forma trocável, o metal ligado eletrostaticamente em sítios de adsorção carregados negativamente na matéria orgânica ou em minerais, pode ser facilmente trocado por íons presentes na solução do solo, sendo então biodisponibilizados.
As concentrações desses elementos como íons livres na solução, ou como complexos quelatos-metálicos solúveis, são influenciadas por aspectos ambientais que possam afetar características dos solos como as condições de oxidação e redução e a acidez. De modo geral, condições oxidantes (quando o solo é bem drenado) ou ambientes mais ácidos favorecem a existência de formas biodisponíveis desses elementos. Em minerações de ouro, por exemplo, o minério está geralmente associado a minerais sulfetados que, quando expostos à condições oxidantes, tem o sulfeto levado a sulfato, com a conseqüente formação de ácido sulfúrico e então do fenômeno denominado Drenagem Ácida de Minas. Esse fenômeno têm frequentemente sido citado na literatura como um possível solubilizador de diversos tipos de metais pesados, entre eles o Arsênio, um dos elementos mais tóxicos aos seres vivos já estudados.
Os metais pesados são elementos não biodegradáveis e apresentam, geralmente, mais de um estado de oxidação. Esses diferentes estados de oxidação determinam sua mobilidade, biodisponibilidade e toxicidade. De modo geral, o tempo de residência de alguns metais pesados em solos é citado por BRIDGES (1991) como sendo entre 75 e 380 anos para o Cd, 500 a 1000 anos para o Hg e os mais fortemente adsorvidos são As, Cu, Pb, Se e Zn que têm tempo de residência de 1000 a 3000 anos. Esses elementos ainda podem ser bioacumulados, ou seja, podem ser acumulados nos seres vivos. Dessa forma, eles podem passar de espécie a espécie ao longo da cadeia alimentar, sendo encontrados maiores teores em níveis mais altos da mesma, correspondendo aos predadores.
Metais pesados podem interagir de maneira diferente com os organismos, levando os seres vivos a disfunções mais simples ou também ocasionar graves danos que podem levar à morte. Disfunções orgânicas como alterações enzimáticas podem ocorrer. As enzimas são responsáveis por controlr a velocidade das reações metabólicas no corpo humano. Elas, na presença de metais pesados, não agem normalmente graças à afinidade dos radicais SH (sulfidrilas) pelos metais. A disfunção das mesmas então pode levar o indivíduo à morte.
É importante lembrar que as populações estão expostas aos poluentes de várias maneiras. Isso pode acontecer pelo consumo de alimentos, de água, por via inalatória, dérmica, etc. É importante frisar novamente ainda, que as concentrações dos poluentes são magnificadas nos vegetais e animais, constituindo a chamada biomagnificação (bioconcentração ou bioacumulação). Isso acontece, por exemplo, com o mercúrio, que apresenta concentrações em certos peixes, que alimentam populações muitas vezes maiores do que na água do lago ou rio em que vivem.

Discussão - 13 comentários

  1. Lucas Facco disse:

    Como saber se o peixe consumido está contaminado com mercúrio ou metais pesados?

  2. Lucas Facco disse:

    Como saber se o peixe consumido está contaminado com mercúrio ou metais pesados?

  3. geofagos disse:

    Caro Lucas,
    Eu não tenho conhecimento de formas sintomáticas de detecção de contaminação de peixes por metais pesados. Até onde sei existem apenas técnicas analíticas, ou seja, em técnicas realizadas em laboratórios especializados para avaliar a ocorrência e intensidade de tal contaminação.

  4. tabata disse:

    que tipo de metais sao esses?

  5. geofagos disse:

    Cara Tábata,
    A resposta para sua pergunta pode ser encontrada no post Metais Pesados em Solos: Conceito Geral
    http://lablogatorios.com.br/geofagos/2008/07/01/metais-pesados-em-solos-conceito-geral/

  6. Saudações! Não tenho certeza se minha mensagem foi envaida e mando novamente. Realmente muito boa essa série de textos sobre metais pesados e contaminação. Parabéns! Como posso saber as referências bibliográficas completas que estão citadas nos textos? Abs!

  7. geofagos disse:

    Caro Eduardo,
    Muito obrigado pelos elogios.
    Esse série de textos foram retirados da minha dissertação de mestrado e podem ser encontrados, bem como suas referências, no link ftp://ftp.bbt.ufv.br/teses/solos e nutricao de plantas/2007/204469f.pdf .

  8. Camila Mestrinho disse:

    Olá, pesquisando sobre metais pesados achei este site muito interessante, mas gostaria de ter acesso a estas referências se for possível. Mas verifiquei esta informação acima, mas não carrega este link. Ele está correto???
    Obrigada
    Aguardo resposta

  9. Maria Gorete de Freitas Simões disse:

    Bom dia!

    Gostaria de saber quando o peixe estar contaminado por material pesado.

  10. Michel disse:

    Olá,
    Como foi dito que o texto acima foi retirado da sua dissertação de mestrado, gostaria muito de ter acesso a ela, pois estou precisando dessa referência. O link que você disponibilizou não abre a página!

  11. Indio Machado disse:

    Não consegui acessar tuas referências bibliográficas para poder obter informações adicionais, que creio devem estar disponíveis. O link não carrega nunca. Obrigado e forte abraço. Indio

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