Elementos-traço: enriquecimento do solo e valores orientadores I

 

A agência de fomento à pesquisa, CNPq, lançou recentemente edital para apoiar projetos cujo objetivo seja avaliar o uso eficiente e fontes alternativas de nutrientes para agricultura. A princípio pode parecer uma iniciativa inovadora para sanar um problema pontual, porém pesquisas visando à utilização de subprodutos na agricultura já vem sendo desenvolvida a algumas décadas, inclusive muitas delas financiadas pela propria agência. De qualquer maneira, como é de conhecimento geral, dentre os grandes desafios da agricultura nacional estão a busca pela diminuição dos custos de produção, tendo em vista os autos preços dos fertilizantes, e a obteção de fontes alternativas de fertilizantes e condicionadores de solos- corretivos da acidez, uma vez que as fontes atuais são finitas. Conforme enfatizado no edital, será dada preferência para projetos que abordem o uso de rochas “nacionais”, entretanto, a idéia central nos pareceu ser a reciclagem de resíduos na agricultura, tema já abordado aqui no Geofágos. É sabido que diferentes materiais podem ser utilizados para esse propósito. Contudo, o que não pode ser negligenciado é a ocorrência também de agentes poluidores que podem causar passivos ambientais.
Conforme já bem enfatizado em postagens anteriores, estes agentes poluidores existem, na maior parte, naturalmente, mas as atividades antrópicas podem concentrá-los em quantidades potencialmente prejudiciais. Assim, o uso continuado de determinado resíduo ou subproduto industrial (ex.: escória de aciaria, lodo de esgoto, etc.) ou material natural (ex.:pós de basalto, carbonatitos, etc.), como condicionantes de solo ou fertilizantes, pode resultar no aumento dos teores de elemetos-traço no solo. Uma vez que o teor de um determinado elemento exceda a aqueles de ocorrência natural ele será considerado poluente, conforme definição apresentada no post Metais pesados em solos: Metais como poluentes ambientais.
Lembremos que os atuais insumos agrícolas utilizados com finalidade corretiva ou nutricional, já representam uma provável fonte de contaminação, em especial os fertilizantes fosfatados e seus derivados que, em geral, contém diversos elementos-traço (Co, Cu, Fe, Mn, Mo, Zn e Ni), fluoretos e elementos tóxicos (As, Al, Cd, Pb e Hg), conforme a origem do material. Um estudo conduzido pela Agencia de Proteção Ambiental dos Estados Unidos- USEPA revelou que a adição anual máxima ao solo (também chamada de carga máxima anual) permitida para elementos-traço provenientes de insumos agrícolas poderia ser superada pelo uso de alguns fertilizantes fornecedores de micronutrientes e subprodutos utilizados como corretivo de acidez.
É altamente salutar lembrarmos ou alertar a todos que no Brasil não há legislação estabelecendo quais são esses teores de ocorrência natural de elementos-traço em solos. Assim, para evitar que o uso das potenciais fontes alternativas de fertilizantes não seja promovida de maneira aleatória, é de fundamental importância pesquisas direcionadas também para obtenção de valores orientadores (também denominados de valores de “background”) de elementos-traço em solos para elaboração de um banco de dados, que por sua vez possam ser utilizados como referência pelos órgãos de fiscalização ambiental.
Como o Brasil, pelas suas dimensões continentais, repousa sobre uma infinidade de tipos de rochas, a ação dos fatores formadores de solo ao longo do tempo originará um grande número de solos diferentes. Estas condições são ideais, para a avaliação da presença dos elementos-traço e da influência dos ambientes edáficos e extra-edáficos no comportamento destes elementos ao longo do perfil do solo. Também, aspectos da interação dos elementos-traço com as matrizes minerais e orgânicas dos solos podem ser convenientemente avaliados nestas condições.
A boa notícia! Atento a esta carência de informações, o Conselho Nacional do Meio Ambiente – CONAMA está preparando um documento que determinará que todos os estados do território nacional possuam seus próprios valores orientadores de elementos-traço. E, uma vez implementada, pode-se vislumbrar a aproximação dos órgãos ambientais com os centros de pesquisa e, ou, as universidades para celebração de convênios e parcerias, abrindo mais oportunidades inclusive para pesquisadores em início de carreira que buscam se engajar numa linha de pesquisa de interesse bastante relevante.

Continua…

Juscimar Silva

 

 

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