A Ciência, a arte e os repentistas

Richard Dawkins gastou todo um livro tentando convencer os leitores de que a visão científica do mundo não é incompatível com a visão, por assim dizer, artística. O livro se chama “Desvendando o Arcoíris”, creio ser uma tentativa do autor de desmistificar as tais guerras culturais e pertence à fase em que ele era um excelente divulgador científico e ainda não se tornara pregador. Dawkins argumenta que a beleza vislumbrada por um cientista  ao desvendar algum aspecto do funcionamento do universo poderia encantar também artistas que se esforçassem um mínimo em sanar sua propalada iliterácia científica. Sinceramente, não vejo por que Ciência e Estética não se possam combinar ou por que entender e ver cientificamente o mundo tire algum encanto do mesmo. Pelo contrário. Esta aparente incompatibilidade é desmentida pelas obras de artistas de ficção científica como Arthur C. Clarke, Dan Simmons e Kurt Vonnegut; pelos ótimos escritos de Bráulio Tavares; pela excelente prosa de Charles Darwin, tanto no Origem das Espécies quanto em alguns livros menos conhecidos, como The Formation of Vegetable Mould; e antes que me esqueça, nos brilhantes ensaios de Stephen J. Gould na Natural History. Mas onde vi melhor temas científicos, o próprio jargão científico, ser usado de forma poética, algumas vezes brilhantemente, foi em versos improvisados de repentistas nordestinos. Lembro-me de ter ouvido em versos de repente uma descrição minuciosa e invocadora dos órgãos reprodutivos de uma flor numa forma que nenhum livro de Biologia que eu tenha lido fez. Isso foi em minha remota adolescência e não guardei o nome do poeta, talvez tenha sido Ivanildo Vila Nova, ou até mesmo Pinto de Monteiro, realmente não lembro. Aliás, entre estes artistas, reprovável é não ter conhecimento sobre Ciência: pobre do ignorante que cair nas mão de um mais versado. Pensando bem, talvez esteja aí um meio de divulgação científica ainda pouco ou quase nada usado, mas de tremendo potencial. Quem me dera saber fazer repentes.
Ítalo M. R. Guedes

Discussão - 5 comentários

  1. Gabriel Melani disse:

    Eu queria dar uma sugestao de post, mas não consegui encontrar seu e-mail no blog então vou
    postar aqui mesmo 🙂 Eu achei uma lista dos 10 vídeos mais incríveis com experiências químicas
    e gostaria que vc desse uma olhada e talvez postasse no blog pra galera discutir. Vale a pena ver
    Toma aí o link: http://www.weshow.com/top10/pt/ciencias-humanas-e-naturais/top-10-videos-fantasticos-e-incriveis-de-experiencias-quimicas
    Parabéns pelo blog! Continue assim 🙂

  2. Anizio disse:

    O poeta que escreve é pensador/
    Vai pensando no tema e escrevendo/
    Se errar ele apaga e faz remendo/
    Assim faz um poeta escrevedor/
    Não é bom como improvisador/
    Com caneta ele é bom pra divulgar/
    Os seus contos poéticos popular/
    Mas poetas merecem o paraiso/
    Repentista faz tudo de improviso/
    Sem demora tem resposta para dar./
    *********************************
    //Anizio, 09/11/2008

  3. Andrea Barros disse:

    Para Richard
    Ampulheta de Cristal
    Quando me deparei com a imensidão branca,
    Creme, espalhada... Eu não era eu
    Éramos Deus, éramos nada.
    Quiz tocar cada grão
    Como se toca a palavra
    Como se troca, se lavra
    De um gigante texto escrito
    Vida de vidro, livro sem páginas.
    E cada grão empilhado
    Formava a Duna, a estrada de areia
    Que me levava, leve, nevasca.
    Escorregava entre os dedos
    Tempo, ampulheta estática
    Escapava aos olhos aflitos
    Enquanto a beleza ficava.
    Ficava o não dito pelo silêncio
    Calava o desejo e a água
    Banhava em filetes e lagos
    Umedecia as letras faladas
    As pegadas das fadas
    nas areias lunares...
    A música de que mais sentia saudade
    Era a de tuas mãos, ao som de tua voz
    E das crianças correndo ao som do vento nos lençois...
    Andrea Barros

  4. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Foi através de Andrea Barros que soube deste seu belo post.
    Isto me fez lembrar Leonardo Da Vinci,Pierre Teilhard de Chardin e Art do Nature Archive.
    A beleza do recticulado das nervuras de uma folha,a beleza da asa de uma borboleta,a beleza escondida das estruturas de uma célula,de uma molécula,a beleza de um pôr do sol...
    A Ciência tem permitido revelar muita dessa beleza,pelo que se tem de lhe ficar agradecido.
    Os meus parabéns pelo post.

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