Recuperação de áreas degradadas x Preservação de fragmentos florestais

A legislação brasileira, já em sua carta magna, afirma a necessidade do agente impactante em recuperar as áreas degradadas. No entanto, venho presenciando diversas discussões a respeito das técnicas de recuperação de áreas degradadas ultimamente empregadas pelos diferentes agentes degradores do ambiente. Os métodos empregados e, sobretudo, a eficiência dos mesmos muitas vezes vêm sendo discutidos. A comparação com a preservação de fragmentos florestais, atendendo à legislação pertinente às áreas de preservação permanente, tem sido constantemente feita por diversos pesquisadores, no entanto, algumas considerações a respeito devem ser feitas.
É verdade que diversos autores tem relatado ao longo do tempo o quanto os remanescentes florestais são mais eficientes em preservar a biodiversidade do que áreas recuperadas ou restauradas. No caso dessa última, apesar de os métodos levarem a área muito próxima da sua aparência inicial, a diversidade de organismos vivos ainda deixa a desejar. Nesse sentido, obviamente, quando possível é melhor que áreas intactas sejam destinadas à preservação. Essas áreas por diversas vezes apresentam-se fragmentadas, sem contato umas com as outras, formando verdadeiras “ilhas preservadas”. Os resultados do uso de tal método no que tange respeito à preservação da biodiversidade têm sido incrementados ainda pelo uso de corredores ecológicos ligando diferentes ilhas. Isso aumenta as interações entre as espécies e, consequentemente, aumenta a preservação da biodiversidade. Entretanto, nem sempre o uso dessa técnica é possível. A explicação para isso é simples. Por diversas vezes não existem mais fragmentos florestais nas áreas exploradas devido à intensa degradação ambiental sofrida ao longo do tempo. Então o que fazer?
Nesses casos e em outros, como por exemplo em áreas intensamente degradadas (talvez áreas de mineração sejam o melhor exemplo), a recuperação faz-se necessária. Técnicas de restauração podem ser aplicadas, no entanto, o seu custo elevado dificulta a sua aplicação . Entende-se por recuperação dar um novo uso à área, podendo ser revegetada, sendo destinada ao lazer, à um novo centro empresarial, à um campo de futebol, entre outras. Obviamente cada técnica a ser utilizada e também cada uso futuro a ser dado depende das características da área como a resiliência e resistência. A resiliência pode ser entendida como uma mola, definindo a capacidade da área impactada em retornar, pelo menos próximo, ao que era antes. Já a resistência representa a capacidade da área em resistir ao impacto. Enfim, a recuperação dessas áreas dependerá da disponibilidade de técnicas e da capacidade do ambiente, além dos interesses dos atores envolvidos. Por diversas vezes as técnicas de recuperação apresentam aspectos complicados como a necessidade de uma verdadeira “construção de um novo solo” ou uso de espécies exóticas, entre outras. Esses aspectos têm sido frequentemente questionados. Imaginemos uma situação onde é necessário a contenção de taludes. Outras vezes o uso de espécies fitorremediadoras é requerido. Faz-se necessário então o uso de espécies e crescimento rápido e, além disso, que muitas das vezes possam crescer em condições de fertilidade adversas. Esse fato as torna muito competitivas e despertam a preocupação com sua disseminação. Como elas se comportariam se suas sementes se alastrassem por áreas preservadas? Será que elas cresceriam em detrimento às espécies nativas? São todos esses aspectos  e muitos outros que ainda necessitam ser melhor entendidos e, consequentemente, dão margem à discussões e questionamentos.
Concluo essa pequena exposição acerca do assunto afirmando que ambas as técnicas são necessárias. Lançar mão de uma ou de outra depende das condições sócio-ambientais da área a ser impactada. No entanto, sempre que possível a preservação de fragmentos florestais, sobretudo com o uso de corredores ecológicos, deve ser aplicada visando a manutenção da biodiversidade.
Carlos Pacheco

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