Um postizinho para desagradar
Uma certa classe de intelectuais brasileiros adora tudo que vem dos States. Tecnologias e ideologias. Ignora ou prefere ignorar que temos uma herança intelectual própria, possivelmente mais rica porque mais “incluinte”. Nomes como o grande Mário Schenberg, físico teórico de primeira linha, além de crítico de arte respeitado e erudito. Um homem de idéias originalíssimas e de quem se pode dizer tudo, menos que foi dogmático. Reconheceu, como outros, que muito diferente da religiosidade fetichista é a espiritualidade. Schenberg sem dúvida faz parte desta linhagem de grandes homens entre a qual se incluem Da Vinci, Newton e Jung, aliás muito admirados por Schenberg. Homens que não se ativeram ao monotonismo vulgar de uma única idéia como salvação de mundo. Souberam integrar aspectos divergentes da herança cultural humana, ocidental e oriental, mesclando-os e criando formas próprias de pensamento, extremamente originais. Estes homens são o mais próximo, em minha opinião, do arquétipo do Sábio. Parece que nossos tempos não comportam mais este tipo de intelectuais, cientistas-artistas e, no caso de Da Vinci, artistas-cientistas. Importamos agora esta macaquice gringa, o profeta ateu, o monotemático “cientista”, bem entre aspas. Há já por aí dedicados apóstolos, clamando à internet a dureza de pensamento dos infiéis que não conseguem entrever a Verdade, tão óbvia e tão própria deles. Só eles entendem que os outros estão errados, só eles detêm a verdade. É incrível como não reconhecem no próprio discurso os mesmos argumentos utilizados pelos religiosos dogmáticos que criticam tanto. Trocamos Schenberg por Dawkins & Myers. Ainda que fosse por Gould & Sagan. Não, muito conciliadores, muito pouco americanos, pouco dogmáticos. O que se quer é uma guerra santa, não um diálogo. Antes que desabonem minhas opiniões por minha ignorância, sei bem que Dawkins é inglês, mas faz parte da mesma cultura atéia neopuritana. Cool?
Discussão - 8 comentários
Acho rótulos são ruins. Empobrecem a discussão. Quando um lado grita, normal que o outro grite também. Sua observação sobre Dawkins e Myers é facilmente rebatida quando pensamos em crimes religiosos, e não vemos nenhum ateu se tentando matar pessoas para converte-las
Abraços e sucesso. Parabéns pelo blog.
(Discretos aplausos!)
[Clap clap clap] Nada que generaliza constrói, já diria (em palavras muito mais sábias) Popper.
E na minha modesta opinião, crimes religiosos não são para converter pessoas… são para negá-las. E isso os fundamentalistas científicos fazem tb.
Que bom que esses sábios fizeram discípulos. Legal o texto, parabéns pelas idéias.
Por que desagradar, Ítalo?
Infelizmente, as opiniões que expresso sobre este assunto parece que não são muito bem vistas na blogosfera científica que, em minha sincera opinião, está se tornando muito dogmática, americanizada e pouquíssimo criativa. Ousar ter uma opinião minimamente discordante costuma desagradar. Creio, no entanto, que você não está entre os desagradados.
Grande abraço.
Não estou mesmo. Mas acho que o problema não é só uma americanização. É falta de reflexão mesmo. Parabéns.