Ninguém vai nos convencer, nem mesmo o clima!
Por Elton Luiz Valente
O Período Neolítico, que teve seu início há cerca de 10.000 anos, é aquele em que o homem deixa sua vida nômade, de caçadores-coletores, para fixar-se em aldeias. Isso foi possível com o domínio da agricultura, da domesticação de animais e uma série de outras conquistas que permitiram o sedentarismo.
Embora o homem nunca tenha deixado de ser guerreiro (nesse sentido George W. Bush é pré-histórico), no Neolítico a vida era bem melhor que antes. A alimentação era mais farta e de melhor qualidade, havia excedentes agrícolas, o que permitiu ao homem (e à mulher) dedicar tempo a outras atividades mais lúdicas, como as artes. Isso culminou na invenção da escrita. Nesse momento, com a invenção da escrita, o homem deixa a pré-história para ingressar na história, na Era do Bronze, do Ferro e etc. Daí pra frente todo mundo conhece o enredo desse tango do argentino doido.
E o final deste tango é o óbvio. Podem usar a equação que quiserem, não há crescimento econômico que se equalize com sustentabilidade. São coisas diametralmente opostas e pronto! Crescimento econômico, que todos os países (e políticos) almejam e defendem, é sinônimo, ipsis litteris, de drenagem dos recursos naturais. Sustentabilidade, se é que ela possa existir na presença do Homo sapiens, é exatamente o oposto.
Então voltemos ao Neolítico. Ali está um modo de vida que eu, particularmente, admiro muito (meu sonho dourado de Engenheiro Agrônomo é ter um sítio, uma fazenda – sou filho de agricultor). O modo de vida Neolítico é tranqüilo, sem muitos excessos, sem muitos impactos ambientais.
Mas a sina do homem é ser hi-tech. É ter um carrão de combustão interna, de preferência com a descarga furada para roncar mais grosso; é ter iPod (não, agora é iPhone 3G), laptop, celular, TV de plasma, LCD, DVD, home theater (nem sei se é assim que se escreve essa p….) e o escambau … e um shopping center logo ali na esquina. Ou seja, todo mundo quer um modo de vida norte-americano, de alto consumo.
Pergunte nos fóruns internacionais, pós-Kyoto, onde se discutem essencialmente as questões do aquecimento global e seus derivativos, se eles estão dispostos a retornar ao Neolítico. Pergunte nas ruas, ao militante panfletista do ambientalismo se ele se dispõe a adotar um modo de vida Neolítico. Eu me arrisco a adivinhar a resposta deles. É NÃO!
Todos querem ser hi-tech, com o padrão de consumo norte-americano, ninguém quer retroceder. E talvez seja exatamente esta uma das poucas chances que teremos: retroceder ao Neolítico e fazer controle de natalidade.
Mas todos queremos ser hi-tech, ê vida boa! Já pensou? Da caverna ao Blue-Ray Full HD, quem diria! Ninguém vai conseguir nos convencer do contrário, nem mesmo o clima. Às favas com o Ministério da Saúde! Se é pra morrer, morreremos cheirando fumaça de óleo diesel, plugados na Web, hi-tech, e dane-se! Resultado? A Terra vai se livrar de nós num sacolejo. Pá-Pum! Um só estrondo, um só gemido e tchau!
Discussão - 10 comentários
Elton,
Excelente post! Concordo plenamente com suas opiniões. Não há sustentabilidade com os padrões de desenvolvimento e consumo atuais. Não há como, são coisas termodinamicamente incompatíveis. As respostas, se há vontade de voltarem ao Neolítico, já foram dadas. É só ver as ajudas aos sistemas financeiros e industriais pós crise econômica.
Abraços.
Pra piorar o cenário, muitas medidas de "sustentabilidade" não são e nunca foram sustentáveis, como por exemplo a simples catação de castanhas-do-pará ou a remoção seletiva de árvores em matas tropicais.
Uns meses atrás eu fiz uma pergunta sobre este assunto no Yahoo e se não me engano praticamente todos que responderam algo não tinham uma idéia boa sobre essa relação de incompatibilidade "desenvolvimentoXsustentabilidade".
Parabéns e um abraço
Caríssimos,
Não preciso nem dizer que concordo plenamente com vocês. Usemos o exemplo aí da Zona da Mata mesmo, agora quase que completamente embaixo d'água, Guaraciaba nem tem onde por mais água e meus meninos lá, ilhados. Sabem quantos municípios, depois de baixadas as águas, farão algo efetivo para sustar o desmatamento e a construção desordenada em áreas ribeirinhas, ou que adotarão um programa de conservação dos solos para diminuir a erosão e assoreamento de corpos d'água? Um doce para quem adivinhar, mas é certo que será aquele numerozinho redondo que vem antes do 1. Uma espécie estúpida tem todo o direito e dever de perecer na lama.
Retomando hábitos e procedimentos em harmonia com a natureza a 1ª geração depois disso poderá ser bem mais feliz que as anteriores.
Precisamos diminuir em númerto e nos espalharmos pelo planeta tomando distâncias sustentáveis entre os grupos familiares e afins. Controlar a natalidade, desenvolver novamente corpos saudáveis e mais resistentes, curtir demoradas conversas folosáficas, poéticas e culturais. Convivendo em "simbiose" com a naturesa, sem armas e sem classes sociais: Além de não assassinar toda a vida da terra, ainda ganhar o paraíso...
Prezado Ítalo,
Agradeço muitíssimo a atenção sua e do Pacheco!
Quanto às chuvas, creio que a sua via de acesso à Guaraciaba deve estar um pouco alterada. Mas não se preocupe, enquanto o Rio Piranga não liberar a passagem, você fica em Viçosa. Como diz o Grande Locatelli, minha família já adotou todos os meus amigos.
Pode resolver sua transição Recife - Brasília com calma.
E.T. Se você encontrar o Lula, pode chingá-lo em meu nome. Não jogue o sapato porque senão ele vai ficar se achando!
O que aqueles "criados à imagem e semelhança de Deus" não se dão conta, é que — ao contrário do Mercado de Capitais — "Mamãe Natureza" é auto-regulável... A vida sobre este planetinha xinfrim de periferia já quase acabou algumas vezes... mas voltou a florescer. Aliás, esta mesma espécie de macaquinhos metidos a besta já esteve bem próxima da extinção.
O mais chato dessa história é que — se houver sobreviventes — eles provavelmente serão dos países que mais contribuem para estragar tudo.
Um controle rígido de natalidade é mais do que urgente.
Quase 7 bilhões de pessoas... fala sério! E ainda querem achar espaço pra mais. :-/
Meus caros,
Só posso dizer que concordo profundamente com vocês, apesar de obviamente ser uma pessoa que adora esse mundo Hi-tech que vivemos hoje.
Como posso dizer,aprecio profundamente a idéia de vivermos tranquilamente com o meio ambiente,mas é obvio pela própria historia da humanidade que esse é um sonho inviável e infrutífero.
Acredito que esta no mesmo patamar utopias como a de que todos terão as mesmas condições financeiras.
A historia da humanidade esta fundamentada na exploração seja da natureza, seja de outros seres humanos.
Isso me lembra os "hippies" da minha graduação em biologia que andavam de 4x4, moravam na zona mais rica da cidade...interessante como o discurso é muito diferente da prática. Uma piada.