O Vestibular do Juízo Final

Por Elton Luiz Valente

No meu artigo anterior, fiz uma defesa do modo de vida Neolítico (e deveria ter recomendado também este post aqui, do Ítalo Rocha). No meu entusiasmo por reforçar essa defesa do Neolítico, admito que tenha cometido um possível equívoco. Eu afirmei que vamos todos pro buraco com nossa parafernália hi-tech, de uma tacada só, xeque-mate! E talvez não seja bem assim.

Digo isto porque, colocando a coisa dessa forma, eu estou subestimando os meus conterrâneos da Cabeceira do Rio São Mateus, do Jequitinhonha, do Sertão Nordestino, os Caboclos do Pantanal e da Região Amazônica. Essa gente, para usar uma expressão muito bacana de um amigo da pós-graduação, é uma “Galera Roots”. Não é qualquer pirotecnia do Criador em fúria que vai acabar com eles, não! Pois trata-se de um povo que sabe lidar com a natureza e com gente irascível, geniosa e estressada como o Onipotente quando se zanga. E ao que tudo indica, de acordo com os Profetas do Apocalipse e do Aquecimento Global, vêm dias difíceis por aí. O Criador está zangado e vai aprontar das suas, de novo.

Gosto muito dessa expressão “Roots”, não pelo que ela sugere de rusticidade, mas pelo que ela revela de apego à terra, de intimidade com o solo, com a natureza, com os ciclos da natureza, com o ecossistema. E isso vai fazer uma diferença danada “no dia do estrondo e do gemido”. Daí a minha retratação, pois as gentes dos nossos sertões estão habituadas com dificuldades, é o dia-a-dia delas, é a escola delas – a escola da vida. Leiam “Vidas Secas” de Graciliano Ramos; leiam “Grande Sertão: Veredas” de João Guimarães Rosa e vocês vão entender melhor do que eu estou falando.

Responda rápido, você saberia reconhecer no campo algumas espécies como Capiçoba, Jequeri, Lobrobô, Araruta, Caratinga e Jacatupé? Não? São vegetais nativos comestíveis e muito nutritivos, uns fornecem folhas, outros tubérculos. Você já comeu sementes de Cansanção, Indaiá, Coquinho-meloso e frutos de Maria-preta, Jataí, Jenipapo, Saborosa e Araçá? Não? Também são nativos e apresentam alto valor nutricional. Você sabe o que é um Jequi, Arapuca, Arataca, Mundéu e Esparrela? Vou lhe ajudar, estas cinco são Tecnologias Neolíticas, uma para capturar peixes e as outras para capturar animais silvestres. Você saberia construí-las? Não? Que pena!

Sinto muito em lhe informar, mas você não será aprovado no Vestibular do Juízo Final. Não vai receber o passaporte para integrar a tripulação da Nova Arca de Noé que, muito provavelmente, vai navegar em águas muitíssimo turbulentas e sobreviver ao Armagedon, para a glória do Todo Poderoso. Pois você não é Roots. Você é da espécie Homo sapiens urbanus da variedade hi-tech, e só os Neolíticos terão alguma chance. Só os Roots sobreviverão.

No dia em que a Grandiosa Babilônia ruir (Apocalipse: 18), todos serão chamados. Só os Roots serão escolhidos (Geófagos: 12-2008). Que o Senhor seja louvado! Amém!

Discussão - 7 comentários

  1. João Carlos disse:

    Aleluia, Irmão! (Mas quem é que quer viver em um mundo onde não haja leitores para as sandices que eu posto no "Chi vó, non pó"?... 😉 )

  2. Aleluia irmão.
    Meu caro amigo gostei do post. Sinto falta das nossas conversas. Precisamos marcar um hapy hour uma hora dessas e trocar informações sobre confecção de arapucas e estratégias de como dominar o mundo.
    Vi não sei onde um autor especulando que na Terceira Guerra Mundial as armas não estariam muito além de pau e pedra, é claro que ele debate que ela aconteceria num planeta já bem devastado pelas intempéries climáticas e políticas, então haja "pedras de meio quilo"... "por sy por no" já vou fazendo meu estoque!

  3. manuel disse:

    Caro Elton
    Não há meio de eu parar,mas vocês são uns provocadores. Quem é que poderá resistir a desafios dos Geófagos,seus,do Ítalo,do Carlos,do Juscimar,do Marcus? Desculpem,se me esqueci de algum,mas a memória também sofre erosão,ou lá o que é.
    Elton,você me fez rir,com essa do Vestibular do Juízo Final. A quem estão vocês pregando? Aos peixes,como o Padre António Vieira?
    Olhe,eu cá sou um deles. Mas olho à minha volta,e concluo que muito poucos o querem ser. Querem,antes,viver.E viver,é trabalhar,muitas vezes naquilo que aparecer primeiro,de que se não gosta,mas,paciência,que o futuro pode dar um jeito.
    O que eu acabei de ler,em si,no aqui(Ítalo),no Marcus,me fizeram recordar o meu passado,onde ele já lá vai,e também as aspirações de multidões,a quererem também o que vêem noutros,mais afortunados,e com todo o direito,pois,ou há moralidade ou comem todos.
    O carrinho,Elton e Ítalo,a aspiração máxima. Aqui,à minha porta,vejo velhinhos a irem correr para o seu velho carro,estacionado na rua,a ver se ele ainda lá está,e ,depois,encontrando-o,põem-no a trabalhar,em surdina,a carregar a bateria,e a ouvir rádio,o supremo gozo.
    Depois,a vaquinha e o metano(o metano,que o há às carradas sob a calote Ártica,e que um dia,pela mão de um "cluster"de nações,se irá libertar. O cimento e as metrópoles de 16 milhões(?)-São Paulo,Cidade do México(vinte e tal),e outras,em toda a parte,Lima,por exemplo...É o Êxodo Universal. E é porque é lá ,na cidade que acontecem coisas. Quem resiste? É o assalto à Europa por tantos que vem lá de África e não só. É a vida,caros Geófagos.Mas já me ia a esquecer do Marcos,da desnitrificação,pela redução de nitritos,pela volatilização de NH3. Mas para se ter arroz,a redução não perdoa,a não ser,cultivando-o em montanha,mas esse nã chegaria para tanta encomenda.
    Pronto,cheguei ao fim,também já não era sem tempo. Só mais este acrescento-Em i952,tinha eu 26 anitos,não consegui convencer o rei do cimento de cá,a montar um laboratório,onde se pudesse saber a quantidade de calcário que se deveria aplicar em cada caso,calcário esse de desperdício,que já formava uma montanha,com direito a figurar no mapa.É que, sem análises,como vocês sabem tão bem como eu,o remédio pode virar veneno. Depois me chamava. Até hoje.
    Mais uma vez,as minhas muitas desculpas. Desta vez,é que me fecham a porta,com estrondo capaz de iluminar quem manda,a tomar as medidas que vocês preconizem.
    Saúde,e insistam,que água mole...

  4. manuel disse:

    Caro Elton
    Desejo a todos os Geófagos,em especial,a si,ao Carlos e ao Ítalo,que tanto me têm aturado,BOAS FESTAS e um 2009 que vos encante.
    PS.
    No caso da cimenteira,devem ter chamado outro.

  5. É isso aí, João.
    É como já dizia o grande Nelson Rodrigues, "o céu só é bom pelo clima, as companhias boas estão todas no inferno."

  6. Já pensou, rapaz! O cabra se safar porque sabe construir uma arapuca! Por linhas enviesadas seria, de novo, a vitória de David contra Golias!

  7. Prezado Manuel,
    Gosto muito de suas colocações aqui no Geófagos. Desta vez gostei mais ainda, fiquei até meio emocionado, além de envaidecido; você nos comparou a Padre Vieira, é muito mais do que almejamos. Somos apenas uns provocadores (como você mesmo disse com muita propriedade) brincando com coisas sérias, brincando com as profecias; mas com muita responsabilidade, é bom que se diga. No fim das contas, estamos apenas buscando tratar desses assuntos em um tom mais “palatável”.
    Sou um admirador de personalidades como Padre Vieira. Tem outro que acho fantástico, é João Batista (primo do Filho do Chefe), que pregava às pedras do deserto, vestia pele de bicho-do-mato, comia gafanhotos e, ainda assim, era de uma lucidez incrível. Gosto muito dele. Aliás, acho que as três personalidades fundamentais do Novo Testamento são Jesus Cristo, João Batista e Paulo, nesta ordem. Os outros são meros figurantes.
    Mas, em fim, somos muito gratos por você, com sua vasta experiência, conhecimento e maturidade, ser solidário à estes Geófagos atrevidos.
    Feliz Natal, Feliz Ano Novo, muita saúde e muita paz para você e todos os seus.

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