Soluções fáceis para a agricultura: análise química do solo

O cidadão leigo, preocupado com sua saúde e com a saúde do planeta, acostumou-se a ouvir, e repetir, que a agricultura é das grandes culpadas por problemas de contaminação ambiental pelo uso excessivo de agroquímicos. Isto, em grande parte, é verdade. O que não se costuma avaliar em profundidade são as causas deste uso aparentemente indiscriminado de produtos potencialmente contaminadores do meio. Apesar de muitos identificarem agrotóxicos com agrotecnologia, acredito que este uso excessivo de produtos tóxicos é resultado da raridade com que o agricultor médio faz uso do conhecimento tecnológico desenvolvido pelas ciências agrárias.
Claramente, em plantios extensos de uma mesma cultura, a disponibilidade fácil de comida é um grande atrativo para artrópodes e microrganismos danosos à produção agrícola. Mas a simples presença da cultura no campo não é a única causa dos ataques de organismos adventícios. Certos insetos, ditos sugadores, como os pulgões ou afídeos, têm sua tarefa facilitada pelo estado do tecido vegetal atacado. Uma planta bem nutrida tenderá a oferecer mais resistência ao assédio destes insetos. Por bem nutrida, certamente não quero dizer nutrida em excesso, pelo contrário. Inúmeros trabalhos têm demonstrado que adubações nitrogenadas excessivas, logo desequilibradas, favorecem o ataque de pulgões.
Em solos ácidos, o cálcio e o fósforo, nutrientes essenciais aos vegetais, encontram-se em geral em quantidades pequenas e em forma não disponível às plantas. Ora, estes dois elementos, principalmente o cálcio, são dos grandes responsáveis pelo aumento da resistência da parede celular e, logo, dos tecidos vegetais. Uma maneira efetiva e razoavelmente barata de se corrigir a acidez dos solos e melhorar muito a disponibilidade de cálcio e fósforo é a aplicação de calcário ou carbonato de cálcio aos solos com pH abaixo de 6,0. A pergunta óbvia é: mas isso não é prática comum? Nem tanto.
Uma ferramenta que todo agricultor deveria quase ser obrigado a utilizar antes de qualquer plantio é a análise química de seu solo. Infelizmente, uma expressiva parte dos produtores agrícolas não acredita na necessidade desta prática e não faz. A análise química dos solos permite que se saiba com segurança e quantitativamente o que há, em termos de nutrientes, nos solos e, de acordo com características físicas do solo e com a cultura que se deseja implantar, o agrônomo pode recomendar as doses exatas de adubos a ser aplicadas e se há a necessidade de se por o calcário. Sou capaz de apostar que agricultores que procedem à análise rotineira dos solos e seguem as recomendações têm muito menos problemas de ataques de pragas e doenças em suas culturas e consequentemente usam bem menos agrotóxicos.
A questão não se resume apenas a diminuir a utilização de biocidas. Sem a análise do solo, as adubações são feitas na base da adivinhação. Com toda certeza, a possibilidade de se adubar de menos ou de mais se tornam maiores. Adubações insuficientes trarão produtividades menores do que o potencial da cultura. Adubações excessivas podem aumentar problemas com pragas e doenças, contaminar o solo e a água e, pior do ponto de vista do produtor, são um gasto desnecessário, diminuindo a já minguada margem de lucro do agricultor. Adubos são caros, análises de solo, não. A resistência a esta prática simples é a causa de muitos problemas e insucessos e se deve a uma série de fatores: baixo nível educacional dos agricultores, extensão rural ineficiente… e a ausência de exigência pelo consumidor.

Discussão - 1 comentário

  1. manuel disse:

    Caro Ítalo
    A análise do solo! O que o Ítalo me fez lembrar,toda uma série de anos à volta dela,muito em particular no que diz respeito ao potássio. Foi este que me levou,até, a dar uma saltada à velha Albion.
    Do seu avisado texto,seja-me permitido sublinhar "Sem a análise do solo...base da adivinhação...Adubações insuficientes...produtividades menores...Adubações excessivas...contaminar...gasto desnecessário...". Claro que isto pressupõe uma rede sistemática de ensaios de fertilização,porque,podemos dizer,cada caso é um caso,como o Ítalo sabe muito bem,tantos são os factores intervenientes,solo,clima,cultivar.
    Termino com três títulos:
    1 - Sobre a uniformização dos métodos de análise dos solos
    2 - Adubos químicos e poluição da água
    3 - Sobre a determinação da necessidade de cal
    4 - Respostas de produção à calagem no milho e sua relação com os valores de algumas características dos solos.
    Os solos,Ítalo,os solos,aqui,de uma espécie,aí de outra,com todo o seu comportamento específico,como é também do seu muito conhecimento.
    Desculpe,mas a culpa foi do Ítalo,mais propriamente,da análise do solo.
    Muito boa saúde,e muito bpm trabalho.

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