Nova reserva de potássio pode deixar o Brasil auto-suficiente

O Ministro da Agricultura, Reinhold Stephanes, anunciou na última semana que o Brasil possui atualmente a terceira maior reserva de potássio do mundo, ficando atrás apenas da Rússia e do Canadá. Esta nova reserva está localizada no norte do país, estendendo-se até o Pará, ao longo do Rio Amazonas. Há ainda indícios da existência de outras duas próximas a uma área já explorada pela Vale do Rio Doce para obtenção do insumo. A expectativa do governo é que a exploração destas últimas eleve a produção dos 9% para 25% da necessidade de consumo interno. Em 2008, os produtores importaram 91% do cloreto de potássio consumido, gastando US$ 5 bilhões. (matéria publicada na Gazeta Mercantil, versão on-line).
Em primeira instância essa notícia figura-se como ótimo presente de Páscoa, haja vista a preocupação dos produtores e fornecedores quanto à manutenção do suprimento desse insumo. Embora o potássio esteja entre os dez elementos mais abundantes na crosta terrestre, suas reservas no mundo são pontuais e acredita-se que as jazidas existentes não sejam suficientes para atender a sua demanda mundial. Obviamente, existem outras fontes alternativas para extração desse fertilizante, porém essas fontes apresentam limitações que inviabilizam sua comercialização, tais como concentração mínima e solubilidade. Abrindo um parêntese, a legislação brasileira prevê que para comercialização de um produto como fonte de potássio, ele deve ter em torno de 60 % de K2O solúvel em água. Em geral as fontes alternativas possuem menos de 20 % (teores totais) de K2O “seqüestrados” em estruturas minerais bem mais estáveis, como os feldspatos. Assim, o primeiro desafio seria deixar esse potássio mais solúvel e depois concentrá-lo.
Apenas para recordar, o potássio é um nutriente essencial para as plantas, o que significa que na sua ausência ou fornecimento inadequado a produção é comprometida. Sua função nas plantas é de regulador osmótico necessário à atividade enzimática e à síntese protéica, sendo um nutriente móvel. Não se conhece sintomatologia para o seu excesso. A carência de potássio provoca um crescimento vegetal muito reduzido, clorose matizada da folha, manchas necróticas, folhas recurvadas e enroladas sobre a face superior e encurtamento de entrenós. Inicialmente, os sintomas acentuam-se nas zonas mais velhas das plantas.
Encarando essa notícia com certo ceticismo, a minha dúvida é qual será o real impacto dessa descoberta para os nossos produtores. Ela implicará somente na queda da importação do KCl, o que já seria muito bom porque estaríamos livres da cartelização desse produto ou os agricultores poderão sonhar com redução ou até mesmo congelamento do preço desse insumo? Particularmente, eu não apostaria na ultima opção, veja, por exemplo, os preços que pagamos por nossos combustíveis (e.g. gasolina). Somos praticamente auto-suficientes, mas o preço que pagamos é um dos mais elevados do mercado mundial.
De qualquer maneira, é bom saber que em breve poderemos nos tornar auto-suficientes também na produção desse fertilizante, o mais importado, percentualmente, pelos produtores brasileiros. Com isso ficaremos livres da cartelização do KCl que deixa o Brasil bastante vulnerável às flutuações de preço, acarretando em custos muito altos de produção.

Discussão - 12 comentários

  1. Luiz Bento disse:

    Minha preocupação é com a área em que essa descoberta foi feita. Se já não bastassem outros problemas para a Amazônia...

  2. manuel disse:

    Caro Juscimar
    Eu não sabia que o potássio tivesse assim um tão grande peso na economia da vossa agricultura. Aqui tem muito pouco,pela razão simples de que os nossos solos,ainda mesmo os ligeiros,têm razoável riqueza dele,por via da presença da ilite e minerais secundários portadores de potássio. Como sabe,além do potássio de troca,há o não permutável,existindo entre eles uma relação de equilíbrio.
    Apsar disso,não sei bem porquê,o potássio foi preocupação minha por cerca trinta anos. Neste meu interesse, deve ter pesado o ser o potássio,nessa altura,mais nos anos sessenta, objecto de muitos "papers",em revistas americanas,inglesas,australianas,aí também,sobretudo por via de conceitos de intensidade e capacidade,representados por"razões de actividades",de parceria com o cálcio. Coisas de físicos,de qimico-físicos. Até trabalhei em gabinete de temperatura controlada,pois a temperatura,como sabe,influi nas trocas,e não só,influi em tudo. O que me me preocupou a "release",a "fixation",as relações K/Ca,K/Mg,K/Na,K/N,enfim,um maná,para coscuvilhar.
    Foi,portanto,com muito interesse que li o seu texto. Para finalizar,espero que as leis de mercado funcionem neste caso,de maneira a uma maior oferta corresponder um mais baixo preço.
    Obrigado pela notícia,e um abraço.

  3. guilherme disse:

    tenho uma mina de k2o com teor de 17% 500 milhoes de toneladas sondados no centro do brasil

  4. Carlos Bandeira disse:

    A citada mina existente no norte do Brasil não é notícia recente, conforme pode parecer à primeira vista. A mina chama-se Fazendinha e foi descoberta há mais de 20 anos por geólogos da Petrobras e cubada, ou seja, definida pela Petromisa – Petrobras Mineração S.A. que era subsidiária da Petrobras e que foi extinta no governo Collor em 1990. As camadas de sal desta mina encontram-se aproximadamente há 1000 metros de profundidade, o que é um desafio a ser resolvido a exemplo do que se está encarando com as imensas reservas petrolíferas do pré-sal. Creio que a solução, considerando-se é claro o respeito ao meio ambiente, pode ser alcançada.
    Na realidade a mina de potássio de Fazendinha já poderia estar sendo explorada há muitos anos e beneficiando o país por conta da economia de 5 bilhões de dólares anuais. Esse recurso ficaria no Brasil gerando empregos e diminuindo a pobreza que inclui a grande diferença social existente entre a região norte e o sudeste. A meu ver a solução das carências da região Norte passa pelo desenvolvimento sustentável que inclui o meio ambiente minimizando os impactos, porém gerando riquezas uma vez que a região Norte tem problemas sanitários muito mais sérios que os ambientais. Ambos são difíceis de serem resolvido quando se depara coma pobreza absoluta.
    No tocante ao comentário a respeito do preço da gasolina parece que a maior parte da população não sabe que o custo é elevado por conta dos impostos estaduais e federais cobrados em cima do produto e não pelos custos de produção em si. Há alguns anos atrás quando a gasolina estava bem próxima dos dois reais, a Petrobras produzia o produto por 50 centavos, o governo federal cobrava 50 centavos de imposto e o estadual os mesmos 50 centavos. O posto de serviço ficava com a menor parte. Ou seja, a Petrobras descobria, pesquisava, sondava, refinava e entregava um produto por 50 centavos e os governos federais e estaduais, sem fazer nada disso, ganhavam líquido o mesmo valor da empresa! Isso, infelizmente, é pouco divulgado na mídia.
    Nosso problema, portanto não é ambiental ou de cartel é moral! Se Collor não tivesse acabado com a Petromisa hoje não estaríamos gastando bilhões de dólares com a importação do produto. Se os governos, em geral, fossem menos gananciosos o povo estaria usando uma gasolina mais barata. A economia de 5 bilhões de dólares e a gasolina mais barata, sem dúvida, teria como conseqüência alimentos mais baratos que seria de grande ajuda principalmente a população de baixa renda.

  5. Monica disse:

    Como ex-funcionária da extinta PETROMISA digo que quando lá estava via como solução para a miséria a extração de potássio para a fertilização para o plantio de alimentos, pastos e que pudessemos ter em abundância tudo que se transforma em alimentos.

  6. Antonio disse:

    Razão, lógica, conhecimento.Isto é tudo que se pode dizer sobre os comentários dos colegas Bandeira e Mônica. A Petromisa acabou porque o brasil não precisava de potássio?Porque só agora depois de 15 anos estamos precisando? Não dá para entender....

  7. Regina Céli Mourão Landim disse:

    Apesar de tudo que aconteceu fico contente porque sempre acreditei que a Petromisa era muito importante para a Petrobras e para o Brasil.Apesar das maquiagens "A justiça de Deus tarda mas não falta".

  8. Sueli Calil disse:

    Como ex-empregados da Petrobrás Mineração S/A – PETROMISA jamais esqueceremos o dia 16 de março, data em que foi promulgada a Medida Provisória nº 151 que, sem qualquer critério, autorizou a extinção não só da nossa PETROMISA, mas de tantos outros órgãos e empresas sob controle, direto ou indireto, da União Federal. Sem dúvida, sucatearam por completo a máquina pública e, em conseqüência, destroçaram a vida e as famílias de milhares de brasileiros. Alguns de nossos colegas sequer sobreviveram.
    A Petrobrás Mineração, considerada uma das maiores extração de potássio da América Latina, tendo apresentado resultados positivos (lucro) e pago dividendos à PETROBRÁS em todos os balanços apurados em sua atividade.
    Apesar de sempre ter sido uma “companhia próspera”,o artigo 117, § 1º, alínea “b” da Lei 6.404/76 (que regula a sociedade anônima) considerar como “abuso de poder” do acionista controlador a dissolução de “companhia próspera”, o Decreto 99.226 de 27/4/90, que complementou a perversa e desbaratada reforma administrativa do Governo Collor, determinou a dissolução da PETROMISA.
    As conseqüências da extinção da PETROMISA desdobraram-se sobre a economia brasileira da época, atingido um grupo enorme de empresas nacionais, fornecedoras especializadas.
    E temos que ler que Fazendinha e novidade.
    O Ministro precisa perguntar para quem sabe..Nós sabemos.

  9. Carlos Bandeira disse:

    Caros amigos,
    Obrigado pela solidariedade. No tocante ao preço da gasolina, parece até que os donos dos postos de serviço leram nossa mensagem, pois ontem a gasolina, sem impostos, é claro, foi vendida por R$ 1,25 (um real e vinte e cinco centavos !!!) no lugar de R$ 2,60 provando que o valor do imposto é assustadoramente elevado.
    O problema mais grave não é o valor em si, mas o que o povo imagina que seja: para a maioria das pessoas, a Petrobras é responsável pelo valor total da gasolina e como ela é cara atribui-se a empresa o elevado custo de transporte. Isso em nada contribui para o bom nome da empresa, mas, certamente, é de interesse de grupos políticos contrários a Petrobras.
    A Petromisa também foi extinta numa campanha desse tipo, pois se dizia que a empresa “dava prejuízo”. O que o povo não sabe é que na época o valor do potássio foi taxado pelo governo muito mais abaixo que o mercado internacional. Isso foi tremendamente prejudicial à Petromisa que teve que arcar com os custos e, fatalmente, nestas circunstancias, teve um grande prejuízo. Era o que se precisava para a extinção.
    A quem interessou o fim da empresa? Ou seja, quem lucrou com isso? Pouco antes da extinção da empresa, a revista NPK (nitrato, fósforo, potássio) que abordava os fertilizantes, apresentou uma reportagem em que o mercado se mostrava preocupado com as descobertas brasileiras e que se as reservas brasileiras tivessem chance de ser realmente exploradas em todo seu potencial, iria provocar uma queda no fertilizante de potássio. Coincidentemente, pouco tempo depois, a empresa foi simplesmente “deletada”. Lembro-me na ocasião ter ouvido que as jazidas de Fazendinha e Arari tinham problemas por serem muito profundas e serem de difícil extração. Ok, só que com a tecnologia da época não se conseguiria também explorar petróleo em águas profundas e nem se pensava em pré-sal. Hoje o primeiro desafio a Petrobras vem enfrentando com sucesso e reconhecimento internacional e o segundo, ou seja, o pré-sal, certamente, também será atingido com resultados extremamente positivos a nação. Da mesma forma os métodos de mineração tem evoluído e nesta esteira as possibilidades para o beneficiamento mineral das citadas jazidas aumentam. O que se precisa não é tecnologia, mas sim vontade política.
    Abraços,

  10. alberto biolchini disse:

    Ao lado dos desafios geológicos e de engenharia de minas,competentemente enfrentados por nossos especialistas, tivemos que fazer face a outros, como a aquisição e/ou adaptação de máquinas que jamais haviam sido produzidas no pais,a certificação pioneira de equipamentos à prova de explosão, a implantação de sistemas de segurança e manutenção industriais adequados à operação do Complexo, os cuidados com a ecologia e muitas outras frentes de engenharia, nas quais nos empenhamos com dedicação e amor . Embora a Petrobras já dispusesse de formidavel sistema de suporte a seus novos empreendimentos, razões especiais nos levaram a dispensar este apoio, o que sem duvida foi prejudicial a todos.Foi um jogo em que todo mundo saiu perdendo, principalmente o Brasil . Fizemos tudo sozinhos mas nossa pequena equipe que participou desta empreitada ainda está toda ai, dispersa. Contudo ela ainda pode ser reunida para colaborar no esforço de Fazendinha, que já estava em nosso horizonte há mais de vinte anos atrás .

  11. Dalton C. Rocha disse:

    A Petromisa deu prejuízo em seus 14 anos(1976-1990) de existência.Como engenheiro agrônomo que sou, a importância do potássio só perde para o fósforo.O Brasil devia explorar estas reservas, mas isto deve ser feito só pela livre iniciativa, não pelos órgãos de governo.Se o governo quiser entrar neste negócio de potássio, que entre subsidiando por exemplo, o nitrato de potássio (KNO3.O nitrato de potássio é o melhor dos adubos potássicos, que supre também a planta de nitrogênio.

  12. A situação caótica nos suprimentos potássicos é resultado dessa mentalidade deletéria de que o Estado deve ser afastado das atividades produtivas, ainda que de minerais estratégicos, como é o caso. É a tese criminosa do Estado mínimo, que alguns querem reimplantar em nossa agenda política! É essa mesma que quase produziu catástrofes na soberania nacional, como a tentativa de FHC de vender/doar a maior jazida de nióbio do mundo (em São Gabriel da Cachoeira - AM)! Uma jazida avaliada pelo DNPM em Um Trilhão de dólares (1.000.000.000.000,00), quase foi entregue por FHC por 600.000,00 reais! Aí eu pergunto: os tucanos responderam por esse quase-crime de lesa-pátria?

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