Ciência, Certezas e Equívocos: Nota de Rodapé (5)
A razão desta “nota” é para dizer que é preciso ter muito cuidado coma as “certezas”. Portanto, peço à Comunidade Geófágica que me permita uma explicação, não uma justificativa, para o meu equívoco do texto passado. É sempre possível tirar alguma lição dos fatos, quaisquer que sejam eles.
Naquele texto, errei a cidade de Chicó e João Grilo, personagens da peça Auto da Compadecida. A história se passa em Taperoá, na Paraíba. Mas há uma canção de autoria de Raimundo Fagner, Manera Fru Fru, Manera, do disco O Último Pau de Arara (há duas versões do disco – tenho ambas). Nesta canção, Fagner repete três vezes a frase “é só catimbó e o Chicó tá no Icó“. Nem sei quantas vezes ouvi isso. Daí, mesmo Ariano Suassuna dizendo o contrário, eu tinha “certeza” de que Chicó estava no Icó, e pronto.
Li a peça Auto da Compadecida por ocasião do famigerado vestibular e por recomendação de um Professor que tive. Muito tempo depois, fizeram a minissérie e o filme O Auto da Compadecida. Assisti a ambos. Geralmente, as versões cinematográficas ou televisivas de livros e peças de teatro ficam pobres em relação aos originais. Mas neste caso não. Todos são bons, pois a obra é excelente, com elementos shakespearianos evidentes – Ariano Suassuna sabe das coisas. Enfim: mesmo depois de tudo isso, Chicó continuou no Icó, eu tinha certeza disso. Coisa de cabeça-dura.
Neste sentido, para quem pretende de alguma forma trabalhar com a Ciência, é bom lembrar sempre de que no terreno das certezas, quem costuma reinar imperiosamente são os equívocos. Fica aí um recado aos cabeças-duras, feito eu.
Discussão - 10 comentários
Olá,Elton
Essa sua preocupação com o equívoco é muito louvável. É sinal,pelo menos,de que quer ter certezas. Mas certezas só as teríamos se não fôssemos relativos.
Daí,o "errar é próprio do homem",o "só sei que sei que nada sei".Daí as repetidas surpresas,os repetidos equívocos,até com nós mesmos,que nos deveríamos conhecer muito bem,pois não nos largamos.
Daí o futuro,esse "buraco escuro",só o futuro,o futuro incerto,que o resto já lá vai, para nunca mais. E aqui,posso ter tropeçado,posso estar equivocado. É que
"nunca digas nunca",advertiu-me um velho professor.
Sabe-lá o que aí vem,sabe-se lá o que é ,verdadeiramente,
uma coisa,qualquer coisa,grande ou pequena,sabe-se lá.
Andamos para aqui,ao Deus dará. Veja lá onde o seu "equívoco" me levou. É ele o culpado,e eu também.
Um abraço,e muito boa saúde.
Caro Elton, sei bem como é ser "cabeça-dura"... ser cientista e cabeça-dura então, é uma combinação perversa! Nós, os "cabeças-duras", sofremos muito quando nos equivocamos... mas é besteira! Nessas horas a melhor coisa é rir de si mesmo! No fundo o que interessa é a intenção e não creio naquela pseudo máxima de que "de boas intenções o inferno está cheio". Quando a intenção é boa, ela simplesmete É. Ih, acho que também "fui levada" para longe como nosso amigo Manuel...Abraços fraternos aos dois!
Manuel & Flávia,
Obrigado pelo apoio! Às vezes erramos por simples distração, às vezes por desconhecimento e pura ignorância. O importante é que, na história da humanidade, ao se aprender com os erros construiu-se a civilização.
Flávia, é muito bom isso que você nos lembrou, pois a capacidade de rir de si mesmo é uma excelente manifestação de saúde psicológica. Devemos buscar isso sempre.
Manuel, o texto sobre os Murundus já "está no forno", quase pronto pra "ir à mesa".
Saúde e muito sucesso pra vocês!
Oi, Elton! O mais engraçado é como alguns equívocos persistem devido à reiteração contínua... no seu caso, as 3 vezes que Fagner repete a frase na canção, ouvida inúmeras vezes por vc... até tornar-se uma "verdade" - felizmente, agora abandonada ;). Essa reiteração contínua (eu diria mesmo skinneriana) lembra muito o mecanismo de algumas "certezas" que a gente vê por aí, e como é difícil abandoná-las, uma vez enraizadas e até mesmo internalizadas. Mesmo nas Ciências.
Mas é isso aí... errando e aprendendo! E como a Flávia disse, sem perder a capacidade de rir de nós mesmos!
Oi Sibele,
Você me fez lembrar um ditado, ou uma frase de alguém que não me lembro, pode até ser do próprio Skinner. Enfim, ela diz mais ou menos o seguinte: "uma mentira repetida várias vezes torna-se uma verdade."
Ainda bem que, neste caso, podemos nos "divertir" com isso.
Muita saúde, muito sucesso e obrigado por sua atenção!
Elton, esta frase não é do Skinner, e sim de Joseph Goebbels, ministro da propaganda e informação do regine nazista de Adolf Hitler.
Por aí se vê como operam certas "verdades" e "certezas" em corações e mentes...
Abraços!
"...com a Ciência, é bom lembrar sempre de que no terreno das certezas, quem costuma reinar imperiosamente são os equívocos..." Boa! Vou anotar esta. Assim como equações matemáticas resumem uma quantidade de informações, algumas pequenas de palavras resumem certo contexto, e esta sua é uma delas. Estava inspirado.
Abraço
* comi palavra... "... algumas pequenas combinações de palavras..."
Sibele,
Acho que minha memória anda um pouco cansada. Eu me lembrava da frase, mas não do dono dela. E veja que o cidadão é uma figura da qual, para o bem da humanidade, não devemos nos esquecer nunca. Ainda bem que tem gente como você para nos prestar socorro!
Um abraço respeitoso de agradecimento!
Locatelli,
Fique à vontade para usar a frase, ou "pequena combinação de palavras". Até prova em contrário, ou protesto em defesa de direitos autorais, eu acredito que ela é minha (rsrs).
Um abraço fraterno!