Manifesto Geofágico

(Porque o Geófagos, além de livre, também é cultura! Você pode até pensar que endoidamos, mas não há de dizer que mentimos!).
Só a Geofagia nos une. Biologicamente. Socialmente. Economicamente. Filosoficamente.
À diferença, ou à semelhança – como queiram – do Manifesto Antropófago de Oswald de Andrade, pregamos aqui A LIBERTAÇÃO DA CIÊNCIA e da Verdade Geofágica.
Contra todas as amarras. Puristas, elitistas, idiomáticas, norte-americanistas, imperialistas, Inquisitórias, religiosas, eclesiásticas, moralistas, socialistas, comunistas, capitalistas, obscurantistas, maniqueístas, neo-medievalistas, egoístas, individualistas, populistas, conformistas…
A favor da Geofagia, pois todos os seres vivos são Geófagos. Em maior ou menor grau, direta- ou indiretamente, todos o são! E contra isso não há o que se possa fazer. Ninguém vive do éter! O sujeito, que é o dono do verbo, sobrevive porque pega mata e come!
Sob o Sol, tudo emana da Terra e em seu seio se curva! Não há como fugir desta lei!
Darwin acabou com o enigma humano e outros sustos da psicologia monoteísta. Alguém tinha de fazê-lo um dia, e Darwin o fez! Grande Darwin! Oráculo do Geófagos, Guru da Geofagia!
E já dizia o Livro do Gênesis (3:19), no tempo dos princípios e dos primórdios, “viestes do pó e ao pó retornarás”! Sentença que o elitismo eclesial da nobreza e a ignorância da plebe impediram de se interpretar à risca.
Mas nós afirmamos categoricamente, sem ardil de retórica: sois pó!
Caulim or not Caulim: that is the question!
Oswald manifestou-se “contra as elites vegetais. Em comunicação com o solo”.
In vino veritas? Não, Velho Caraíba, nós afirmamos, a verdade está no Solo!
O vinho, a uva, a videira SÃO terra úmida e sol reluzente. O resto é processo.
Ibitinga, tauá, tabatinga, ibirapitanga, pitanga, curumim-cutuba, cunhã-taí, cunhã-porã. São nada mais que processos.
E assim, naturalmente, sem magia ou revolução, O Anátema torna-se O Verbo, assumindo o lugar que é seu por direito, que lhe foi subtraído pelo império dos dogmas, enquanto se mantinham amordaçadas a Ciência e a Verdade, que o Geófagos exige libertas, em nome da razão e do bom senso!
Filhos do Sol e do Solo, não percam seu tempo buscando respostas no céu. Busquem os vestígios dos eventos geotectônicos, olhem para o chão, datem as rochas, os sedimentos, descubram os fósseis. Lá está a verdade.
A saúde de todas as espécies, Senhores Primatas, todas, vegetais e animais e outras, indistintamente, está no equilíbrio dinâmico da natureza – umbilicalmente ligada ao Solo. Lá, mais uma vez, está a verdade. Mas a medicina elitista insiste em ser curativa. Rende mais dividendos. Enquanto isso vamos navegando, de escorbuto em escorbuto, mais ou menos.
Você, Caraíba, e todos nós somos Geófagos. Gregos, Russos e Romanos. Gauleses, Saxões, Otomanos. Árabes, Latinos, Australianos. Ameríndios, Chineses e Africanos. A Geofagia nos une, mesmo que nos separe a Geografia, quando não as guerras e a hipocrisia.
Morte e vida incontestes. “Da equação eu parte do Cosmos ao axioma Cosmos parte do eu. Subsistência”. Substância. Conhecimento. Geofagia!
O que atropela a verdade é a roupa e a arrogância, “o impermeável entre o mundo interior e o mundo exterior”. A metáfora do homem vestido. Nus somos puros e belos.
Nunca fomos desnudados. O potássio de seus músculos que foi banana que foi feldspato ou mica. O cálcio de seus ossos que foi leite que foi capim que foi mármore que foi calcário que foi carapaça de moluscos no Cretáceo. E você ainda se acha ‘o dono do pedaço’.
Foucault não é suficiente. É na Geofagia que está a construção e a desconstrução do sujeito.
A Geofagia nos constrói e nos destrói na mesma medida!
Sois pó!
Caulim or not Caulim: that is the question!

Discussão - 6 comentários

  1. manuel disse:

    Caro Elton
    Rendo-me. "Grande Elton"! Estava com algumas dúvidas,mas depois do que acabei de ler,rendo-me. Sou "pó". Já em tempos,insinuara essa "certeza",pois dissera de mim ter a idade da terra,pelo menos. O meu K,o meu Ca,o meu Mg...,vinham lá dos começos. Estava lá o Lavoisier a amparar-me. Andamos cá,também,como numa corrida de estafetas.Entregamos qualquer coisa ao senhor,ou senhora,que se segue. Até um dia.. Mas não quero,agora,ser alvo de nemhuma seta sua,porque estava tentado a sair da "terra",a que pertencemos,sem desprimor de quem quer que seja,uma formiguinha,um burrinho,um funguinho,emfim,os muitíssimos nossos companheiros de "route".
    Elton,nem somos pequenos,nem grandes. Somos,e isso basta,e isso é muito,porque,em boa verdade,não somos nada,ou,melhor,não sabemos o que é que somos,o que andamos cá a fazer.
    Uma coisa parece-me,ainda que muito vagamente,não devia ser para o que temos andado a fazer,a implicarmos uns com os outros,a entreter-nos,vestindo-nos de um ou mais dos muitos ismos que apontou. Cada cor seu paladar. Podia ter-nos dado para outra coisa,ou melhor,para uma mesma coisa,que era sermos muito amiguinhos uns dos outros. Porque não o sendo,o que é que ganhamos? Talvez,o nos dar ,um dia,um safanão,e irmos desta para melhor antes do tempo,que não é nosso,nada é nosso,mas nós dizemos que é.
    E pronto Elton. Mais uma vez,estou rendido,sou seu "vassalo".
    Um abraço,Elton,"Grande Elton".

  2. manuel disse:

    Caro Elton
    Mais uma vez,"batendo à sua porta", o que não é de admirar,pois o seu texto,o seu "paper",tem muita ponta por onde se lhe pegue."O potássio de seus músculos que foi banana...".E logo o potássio,meu velho companheiro de muitos anos. Não vou falar dele,ele terá ficado muito satisfeito por o Elton a ele se referir.
    Traz-me aqui um outro viajar,um viajar paralelo,o da água.
    E é assim-
    Estava chovendo. Era água que estava vindo do céu,uma muito pequena porção de toda ela,como muito bem se sabe. Afinal,uma porção que não se distingue de qualquer outra que o podia estar fazendo,que a água é sempre água,embora possa ter estados diferentes.
    Calhou,naquela altura,uma certa porção num certo sítio cair. Mas quantos outros ela já teria visitado? Seguramente,uma infinidade deles,que a água muito velha é.
    Depois,por onde esta certa porção já terá circulado?,que a água não pode estar parada. Não saberá ela,talvez,dizê-lo,tantos passeios ela terá dado. De muitos,muitos,se terá esquecido,que a memória tem os seus limites. Precisa que lhe lembrem alguns,uma amostra ínfima,afinal.
    Esteve em muitas flores vistosas,esteve em muitas crianças lindas,esteve em muitos lagos cheios de peixinhos,esteve em muitos mantos de neve,esteve em muitas nuvens do céu. Mas também esteve em muitos outros sítios onde ela não gostaria de ter estado,e que não é bom recordar.
    E não foi só esta porção que tais viagens fez,escusado será dizê-lo. Uma infinidade de suas irmãs gémeas a imitaram,que a água é toda igual. Um verdadeiro prodígio,há que concordar.
    Pronto,Elton,já disse o que tinha a dizer,fruto da leitura do seu texto,do seu "paper".
    Um abraço.O que os seus futuros alunos estão perdendo!.Mas não perderão pela demora,que o Elton saberá compensá-los.

  3. Prezado Manuel,
    Não me custa dizer, e repetir, que sou um admirador de sua sabedoria, fruto, certamente, de grande e invejável experiência de vida e profissional. Obrigado Manuel! Elogios seus me animam muito a seguir em frente!
    Quanto à Água, Ubíqua Água, merecia e merece maior destaque no texto, ou melhor, no “Manifesto”. Mas ela está lá, mesmo que timidamente: “o vinho, a uva, a videira, são terra ÚMIDA e sol reluzente”.
    Se no texto citei apenas o K e o Ca, foi apenas por questões de objetividade e ímpeto conclusivo, sem querer desmerecer nenhum dos elementos constituintes do Pó!
    Mas a Água, Ubíqua Água, tem merecido destaque no Geófagos: “Luz + Água + Solo = Vida Abundante”; “Água, recurso renovável ou não?”, para citar apenas dois textos.
    Manuel, Prezado Manuel, mais uma vez obrigado pelos elogios, que muito me deixam lisonjeado!

  4. Sibele disse:

    Spread the word! Contundente, Elton!

  5. locatelli disse:

    Elton, teve as "manhas". Abraço

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