Ciência na agricultura: Fertirrigação

Além da aplicação de fertilizantes convencionais ao solo, em algumas culturas, principalmente hortaliças, a adubação de plantio pode ser complementada pela aplicação de fertilizantes solúveis dissolvidos na água de irrigação – esta técnica se chama de fertirrigação.
Uma das vantagens óbvias da fertirrigação é a possibilidade de se subdividir a adubação ao longo do ciclo da cultura visando otimizar a utilização dos nutrientes pelas espécies agrícolas ao disponibilizá-los no momento mais adequado. Por momento adequado refiro-me à cronometragem de acordo com às necessidades fisiológicas da espécie. A aplicação de fertilizantes solúveis junto à água de irrigação visa então prover os nutrientes certos, nas quantidades corretas, o mais próximo possível ao estádio fisiológico em que o nutriente é mais necessário. Isto só é possível se houver disponibilidade de informação quanto à curva de absorção de nutrientes da espécie cultivada em questão.
Em comparação à adubação convencional, a fertirrigação permite ajustes finos de acordo com as fases de desenvolvimento das plantas, melhorando a eficiência no uso de fertilizantes ao minimizar as perdas. Se o método de irrigação utilizado for localizado, como o gotejamento, por exemplo, a economia de fertilizantes pode ser vantajosamente associada à economia de água.
Uma das consequência colaterais do uso de fertirrigação pode ser o menor volume de raízes, principalmente no gotejamento, já que os nutrientes, assim como a água, são aplicados muito próximo ao sistema radicular. Aliás, se a informação existir, pode-se manejar a fertirrigação localizando-a nos pontos onde há maior densidade de raízes. A aplicação precoce da fertirrigação pode não ser completamente benéfica ao desestimular o aprofundamento do sistema radicular, criando uma dependência excessiva por parte das plantas, potencialmente danosa na eventualidade de pane temporária do sistema de irrigação.
Quando utilizada sob ambiente protegido, como estufas, há ainda o risco quase inevitável de salinização do solo, pela mesma razão por que o sistema pode ser vantajoso: pelas menores perdas do sistema. Como em geral não há entrada de água de chuva ou qualquer excesso de água no cultivo protegido, os adubos utilizados, que em gerais são sais, acumulam-se e aumentam a condutividade elétrica da solução do solo, clássico indicador da salinização.
Além de ser tóxico aos vegetais, compremetendo a produção, a salinização afeta negativamente a estrutura física do solo, por causar repulsão entre as partículas de argila e de material orgânico coloidal, impedindo a formação de agregados no solo. Desta forma, o solo sofre quase uma “compactação química”, comprometendo a infiltração de água e o crescimento do sistema radicular. Se houver disponibilidade de água, isto pode ser evitado aplicando-se periodicamente lâminas de irrigação em excesso para que ocorra a “lavagem” dos sais em excesso. Seriam muito interessantes também prática que favorecessem o enriquecimento do solo em matéria orgânica e, antes de tudo, a aplicação racional dos fertilizantes.

Discussão - 3 comentários

  1. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Em primeiro lugar,felicito-o por nos trazer uma prática de fertilização particularmente adaptada à rega por aspersão e á de gota à gota. Seja-me permitido fazer sobre ela algumas considerações,como que repetindo o que o Ítalo referiu,e o muito que ficou subentendido.
    São evidentes certas vantagens que ela apresenta,como redução do custo de aplicação dos fertlizantes,facilidade e oportunidade de distribuição,menor compactação do solo.
    Mas,como todas as coisas,tem as suas limitações,como uso de produtos solúveis em água,necessidade de cuidados para evitar entupimentos de natureza inorgânica e orgânica,
    imperfeita distribuição no caso do fósforo.
    Este,como é sabido,é passivo de forte fixação onde caia,e além disso,ao longo do sistema,pode precipitar,produzindo entupimentos,mesmo quando aplicado como fosfato de amónio,ou ácido fosfórico,por a água ser rica em cálcio.
    Mas como o Ítalo sabe muito bem,cada caso é um caso,para maior trabalho,e maior "glória" dos agrónomos.Assim,não é de admirar que casos haja em que uma aplicação em superfícies reduzidas,aumentando a carga efectiva,permita a difusão do fósforo a maiores distâncias.
    O azoto,aqui,pode ser mais facilmente dominado,reduzindo-se as perdas,pelo menos,por lavagem.
    E pronto,Ítalo,mais uma vez,as minhas felicitações por ter trazido um dos muitos temas com que o agrónomo tem que lidar.
    Um abraço,e muito boa saúde.

  2. Caro Manuel,
    Tanto eu como os leitores agradecemos pelas informações adicionais. Como gosto de dizer, você não é mais apenas leitor, é um verdadeiro colaborador.
    Grande abraço.

  3. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Este seu texto sugeriu-me outro registo, de um local que vivia de rega,rega clássica,por inundação e regos,e de estrumações,que gado de leite era uma vintena. Na altura,a água vinha do rio que passava perto,depois de uma barragem,
    também vizinha. Era,é,a Estação de Culturas Regadas de Alvalade. O registo está feito de uma forma um tanto fantasiada,ainda que o local a isso se prestasse. O aprendiz sou eu.
    Desculpe o abuso,Ítalo. Um abraço.
    EXTRATERRESTRES
    Era um local impregnado de mistério,quase sempre envolto em brumas. Parecia,umas vezes,um promontório,outras,um navio de eras antigas. Seria,talvez,uma quilha de velha caravela que ali tivesse varado,não se sabe bem como.
    Um pesado silêncio reinava ali. Apenas o cortava um ou outro piar de ave de rapina. Em redor,para todos os quadrantes,a vista alargava-se,nas raras abertas consentidas,perdendo-se para além do mar,alternadamente verde e amarelo.
    Em tempos,passara por lá ,quase só,um rei destronado, a caminho do exílio. Deixara ele um rasto de tristeza,que perdurara,mais acentuando aquela desolação.
    Apsar de tudo isso ou talvez por isso mesmo,vivia ali gente. Eram eles ,um velho capitão,de olho muito azul e cuidada barba,que lhe chegava até à cintura,com o seu imediato fiel,que sempre o acompanhara nas aventuras sem conta. E um escrivão muito probo,de farta calva. E também um aprendiz,que dava mostras de não gostar nada daquele sítio,mas incapaz de sair dele. Restavam dois ou três mais,entretidos com tarefas rudes. Residiam todos num castelo meio arruinado,junto a uma escarpa prestes a desmoronar-se.
    Que faria aquela gente?,seria a pergunta que ocorria a alguns nómadas,quando jornadeavam por perto,nas suas andanças intermináveis. Estranhavam o seu apego àquele lugar quase abandonado. E certo dia,um mais atrevido,não resistiu,abordando um deles que tinha ido à caça. Foi em vão,pois o homem,ou lá o que era,usava uma linguagem incompreensível. Eram capazes de ser extraterrestres.
    E foi o que se espalhou pelas redondezas. Não podia,certamente,ser outra coisa,já que havia falta de quase tudo de que um terráqueo necessitava para sobreviver. E assim permaneceu esse entendimento,adensando ainda mais o mistério que dali se desprendia.

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