Na Amazônia, pela primeira vez

Isso mesmo, estou na Amazônia pela primeira vez. Bem, não exatamente no meio da floresta – estou em Manaus. Cheguei hoje à tarde e meu organismo aos poucos se recupera do cansaço e do fato de estar aparentemente duas horas atrasados. Meu dia hoje durará exatamente 26 horas. Por enquanto ainda não vi nada que possa classificar como tipicamente amazônico, apenas suei algo como o volume de água que consumo em dois dias, provavelmente.
Terça feira devo atravessar um trecho do Rio Negro em direção a Iranduba, onde há um polo de produção de hortaliças sob cultivo protegido. Alguem talvez se pergunte o porquê de se utilizar ambiente protegido aqui – basicamente para aproveitas o “efeito guarda chuva”, as estufas costumam ficar abertas dos lados, permitindo a circulação do ar e evitando as temperaturas excessivamente altas.
Estou aqui para dar um curso. Vim falar sobre manejo de solos, cultivo protegido e fertirrigação, em ordem decrescente de domínio do assunto. Os alunos serão principalmente agrônomos extensionistas, dos mais variados locais do estado do Amazonas. Acho que será uma experiência muito interessante.

Discussão - 8 comentários

  1. manuel disse:

    Olá,Ítalo
    Que grande salto,que o Brasil é imenso. Fui ver onde está Iranduba. Tanta água,quase como o tanto mar,do Chico Buarque. O Amazonas,o Negro,o Solimões,o Madeira. Tanta água,e a que está caindo sempre. O calorzinho também. E as plantas todas satisfeitas,que já aí moram há muito.
    Do que li,há por aí solos de várzea,um tanto mais ricos. Quando não inundados que ricas hortaliças e outras coisas produzirão. É claro que ali perto está Manaus,com quase 2 milhões de bocas. Deve ser em grande parte para elas que há os cultivos protegidos,garantia de uma maior quantidade de hortaliças e outras coisas mais a toda a roda do ano.
    De fertirrigação não percebo nada. Só sei que é muito usada,aqui,ali,que tem vantagens,a de redução de custos na aplicação,a da facilidade e oportunidade das aplicações,a da redução da compactação do solo. Mas como todas as rosas,tem os seus espinhos,que é estar limitada a produtos solúveis em água,o risco de entupimentos,enfim,coisas de que o Ítalo deve saber muito bem,que quem está na EMBRAPA tem de saber muito.
    E pronto,Ítalo. Sim,Ítalo tem de beber muita água,sem possibilidade de a esgotar,que aí corre como seria muito bom que corresse em todos os sítios.De resto,o nosso corpinho é,em grande parte,água,como todos sabemos.
    Muito boa saúde e proveitoso curso,para os alunos,e para o professor,que,também,como ouvi,um dia,de um ,deve sair de uma aula,ele próprio,a saber mais.
    Um abraço.

  2. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Faço votos para que tudo lhe esteja a correr bem. Ainda que não se trate de fertirrigação,parece não ser descabido lembrar aqui meia dúzia de coisas sobre rega em geral.
    1.A rega permite uma maior taxa de ocupação do solo,mais elevadas produções,mais vasta opção de culturas.
    2.A intensificação cultural leva, necessáriamente,a uma maior utilização das reservas nutritvas dos solos,as quais podem não acompanhar o ritmo das necessidades das culturas ou cobrir as suas exigências totais.
    3.Em regadio,o sistema radicular é proporcionalmemte menos desenvolvido,em relação à parte aérea,do que em sequeiro. Isso dificulta,naturalmente,a satisfação das necessidades das plantas.
    4.A rega pode conduzir ao arrastamento de nutrientes para além do sistema radicular. O grau de lavagem depende,entre outros factores,da natureza do solo,do tipo de rega,do volume de água e do nutriente. É de considerar,sobretudo,o caso do azoto.
    5.A diferente mobilidade dos iões está relacionada com a sua carga e com a dos colóides do solo(minerais e orgânicos). Com o anião fosfato tem de se contar ainda com a sua natureza química.
    6.Com a rega,há tendência para uma acumulação de sais nos solos. Isso,pelos sais dissolvidos na água usada e pela possibilidade de subida de toalhas freáticas salinas. Esta acumulação,como se sabe,é nociva às culturas, por deteriorarem as propriedades físicas dos solos,induzirem toxicidade e dificultarem a absorção dos nutrientes. A lavagem é,assim,complemento indispensável da rega.
    E pronto,Ítalo,esgotada a meia dúzia de coisas,com um abraço,a renovação dos meus votos de boa saúde e de bom curso.

  3. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Ainda a propósito da rega,que,como sabe dá pano para mangas. Lembrara-se já a possibilidade do acréscimo do teor salino dos solos. Depende isso,como se sabe,de diversos factores,entre os quais se encontram a natureza do solo,a intensidade da rega,a composição da água usada,as condições de drenagem,o regime de chuvas.
    Nesta perspectiva,é de toda a conveniência,pois,ir observando os efeitos da rega. Foi o que se fez quando da instalação de dois luzernais que iriam ter a duração de quatro anos.
    Tratava-se dum aluviossolo de textura mediana sujeito a regadio há já uns anos largos. Para o efeito,colheram-se amostras do solo ao longo dos 4 anos,em diferentes épocas,em duas camadas(0-20 e 20-40cm).
    Parece ter algum interesse dizer o que se passou,em traços gerais, com os teores do sódio de troca,todos inferiores a 20 mg/100g. Os da camada 0-20cm foram,no geral,inferiores aos da camada 20-40cm. Os valores subiram com as regas,baixando,depois,com a lavagem operada pela chuva.
    Entre outras coisas,foi interessante verificar a subida dos teores de sódio da luzerna nos últimos cortes,reflectindo o que se passava no solo.
    E pronto,Ítalo,parece-me justificado o interesse a que se aludiu. Muito boa saúde e muito sucesso no curso. Um abraço.

  4. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Como se sabe,tendo tido oportunidade já de o referir,a água de rega,pela sua composição,pode afectar a condição salina do solo.Por outro lado,quando se trata de ensaios de fertilização,pode também influir nos resultados.
    Tem todo o interesse,pois,analisá-la. Foi o que se fez quando da realização de uma série de ensaios de fertilização com várias culturas regadas,em especial, com milho para grão e milho para forragem,em seis locais e ao longo de seis anos.
    Os elementos focados foram o azoto(nítrico+ amoniacal),o fósforo,o potássio,o cálcio,o magnésio e o sódio.
    Os teores obtidos ao longo desses seis anos mostraram,no geral,uma certa constância em cada local. A excepção mais evidente foi a de uma colheita num deles,num ano de grande seca,em que as concentrações do K,do Ca,do Mg e do Na quase triplicaram,sendo 205mg/litro de Na o mais alto.
    Os teores de fósforo foram,geralmente,vestigiais,clara indicação da forte fixação deste nutriente pelos solos,sendo sempre inferiores a 1mg/litro. Os mais altos foram registados em dois locais,devido,provavelmente,a esgotos.
    Dos catiões metálicos,o potássio foi,claramente,o que apresentou os teores mais baixos. Isso era de esperar,uma vez que a argila dos solos é favorável à fixação do potássio em forma não permutavel. Valores anómalos foram registados nos tais dois casos de esgotos.
    Os teores mais elevados foram,no geral, os do sódio,o que era,também,de esperar. Pobre sódio,que quase ninguém quer nada com ele,indo parar aos oceanos.
    Os teores do azoto foram,no geral,baixos. Num ou noutro caso parece ter havido uma certa contaminação,com alguma provável influência nas respostas de produção.
    Um caso de assinalar,pelos muito baixos teores, foi a da água de uma região granítica,em que o teor de sódio,o mais alto,foi de 10mg/1litro.
    E pronto,Ítalo,deve ter ficado esgotado o tema rega.
    Muito boa saúde e um muito bom curso. Um abraço.

  5. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Mais uma página,desta vez,um tanto calcária.
    ENSINAMENTOS
    É sabido,de há muito,que algumas terras agradecem,para certas culturas,que se lhes aplique,de vez em quando,calcário ou coisa equivalente. A quantidade não pode ser uma qualquer,mas há meios para a indicar. Não é isto do conhecimento de toda a gente,mas alguns têm obrigação de o saber.
    Vem isto a propósito de um encontro do dono de uma herdade,um senhor de avançada idade, com um jovem que lhe andava a examinar os solos para efeitos de cartografia. O encontro foi amistoso,mas ,mesmo assim,o jovem passou um muito mau bocado,pois o senhor sabia demais.
    Decorria,naquela altura,uma campanha,a nível nacional,para estimular,quando fosse caso disso,o emprego de calcário. E o ancião,do alto da sua muita sabedoria e experiência,aproveitou para descarregar,amavelmente, no moço,a sua muita estranheza.
    Vocês sempre andam muito atrasados. Já faço isso há muitos anos,eu até tenho um aparelho que me diz quanto devo aplicar desse produto nas minhas terras. Como vê,não preciso de ensinamentos.
    Muito boa saúde,e um muito proveitoso curso.

  6. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Por se tratar de rega,parece valer a pena esta recuperação.
    FIO DE ÁGUA
    As cigarras emudeceram e os pássaros esconderam-se nos ramos das azinheiras. É que se aproximava o medonho estrondo de um comboio de viaturas. Nunca se vira por ali uma coisa assim. O que estaria para acontecer?
    Bem depressa veio o esclarecimento quando os carros pararam. Deles saiu um mar de gente que se apressou a bisbilhotar o vasto milharal que se estendia ao longo do rio.
    Pobre rio,que naquela altura era uma pobre sombra do que fora.Um fio de água,se podia dizer,que mal dava para a meia dúzia de famílias de rãs que por ali faziam pela vida,quanto mais para matar a sede daquela ilha verde.
    Pois fora esta pobreza que trouxera ali toda aquela gente. Estavam muito preocupados,e com razão. É que aquele milharal estava a ser um comedor de dinheiro. Não bastara a renda da terra,as sementes,as alfaias,os químicos,os amanhos,as jornas,para há uns tempos ter havido necessidade de recrutar pessoal para escavar o leito do rio,na esperança de algum milagre.
    E o milagre dera-se,como se estava a ver. É que as maçarocas já despertavam os apetites de bandos de pássaros. Alguma coisa de jeito eles sabiam que nelas encontrariam.
    Aquele pessoal tinha sido o milagreiro. Escavando dia e noite o velho leito do rio,desencantou veios de caudal capaz de dar vida àquele milharal. Mereciam eles um prémio que se visse. Os pássaros também tinham obrigação de contribuir.
    Desculpe mais esta intromissão,mas não resisti.
    Um abraço.
    Publicada por msg em 9:11

  7. manuel disse:

    Caro Ítalo
    Desta vez,não é de rega,nem de calcário. É de CO2 e de O2.
    Aí lhe deixo mais meia dúzia de linhas.
    A PROPÓSITO DE ANIDRIDO CARBÓNICO E DE OXIGÉNIO
    Como se sabe,na combustão,liberta-se anidrido carbónico. Neste passo,
    consome-se oxigénio.
    O oxigénio consumido provem,em boa parte,da fracção que deixou de poder ser usada na respiração,por seres irem perecendo. Desses seres,restam,pelo menos,
    hidrocarbonetos, que andam por aí,sob a crosta terrestre.
    Vindo esses hidrocarbonetos à luz do dia, para serem combustados,anidrido carbónico será libertado,e menos oxigénio ficará para respirar. O mesmo acontecerá se,em vez de hidrocarbonetos, se tratar,por exemplo,de etanol,venha ele de onde vier,ainda que diferenças existam no montante de anidrido carbónico solto. O mesmo acontecerá se floresta,ou lenha,for queimada.
    Muito boa saúde e muito bom trabalho

  8. Guilherme disse:

    Caro Pesquisador Ítalo,
    Manaus ainda permanece em meio à floresta, portanto você estava realmente em meio a floresta.

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