Voltando às origens…

Após um longo tempo afastado, estou de volta. Diversos afazeres nesses últimos tempos me afastaram do Geófagos e agora chegou a hora do retorno. Antes de voltar definitivamente resolvi dar uma olhada nos históricos de publicações do blog e, como já imaginava, percebi que nos útlimos tempos nos dedicamos, talvez demasiadamente, à “ciência do solo aplicada” e até outras ciências, sobretudo àquelas ligadas ao ambiente. Entretanto, pouco nos dedicamos à “ciência do solo básica”, extremamente importante para o entendimento de questões aplicadas e também um dos principais objetivos do Geófagos, que é o de divulgar a ciência do solo para outros segmentos sociais além da academia. Iniciarei, portanto, uma volta às origens, iniciando com posts relacionados à gênese dos solos, chegando, no final dessa saga, às principais classes de solos segundo o Sistema Brasileiro de classificação e suas principais características. Evidentemente, principal enfoque será dado aos solos comumente encontrados em ambientes tropicais úmidos e, sobretudo, naqueles predominantes no território brasileiro.
Os solos à muito deixaram de ser considerados apenas como um resultado de desgate de rochas. Desde a visão do geólogo russo Dokuchaev, no século XIX, que eles passaram a ser entendidos como um corpo natural, com propriedades próprias, resultados de interações entre as diversas esferas do planeta (geosfera, biosfera, atmosfera, a própria pedosfera, etc…) através do tempo. Comumente considera-se como fatores de formação dos solos o material de origem, clima, organismos, relevo e tempo. A interação desses fatores determina os processos gerais de formação e, a predominância de um ou mais processos gerais, determina os processos específicos que deram origem a determinado tipo de solo.
O próximo post será dedicado a conceituar gênese do solo, enfocar a importância do seu estudo e exemplificar maneiras de estudá-la. Posteriormente, detalhamentos desses fatores e processos serão dados em outros posts.
Até a próxima…

Discussão - 7 comentários

  1. manuel disse:

    Olá,Ítalo
    O seu "regresso",ou melhor,o texto que o acompanha faz lembrar a clássica dicotomia do labor fundamental e do labor aplicado.
    O labor aplicado pode levar a algumas frustações.Sucederá isso quando o objecto desse labor muda. Foi como estar a trabalhar para o boneco,passe a expressão.
    O labor fundamental está menos sujeito a frustações,pois a base permanece.Pode ter sido,ou ser considerado, um labor teórico,sem préstimo aparente,mas são medidas,constatações, de sistemas que perduram,ainda que não estáticos.
    Muito boa saúde,Ítalo.

  2. Caro Manuel,
    Este "post de retorno" em que estamos comentando foi escrito na verdade pelo Carlos Pacheco. Eu infelizmente ainda não tive tempo para organizar as idéias. Depois da viagem à Amazônia, rumei para o extremo sul do Brasil, para a bela cidade de Pelotas, para o Encontro Brasileiro de Substâncias Húmicas, que foi excelente. Estou preparando um texto sobre as viagens, mas ainda não está pronto, preciso amadurecê-lo. Estou de volta a Brasília, mas à blogosfera ainda demora um pouco. Por enquanto entrego a condução do Geófagos ao Carlos Pacheco, agora muito mais tranquilo, principalmente porque é agora professor da área de solos na querida Universidade Federal de Viçosa, pelo que o parabenizo acaloradamente.
    Saúde a você também, amigo Manuel.

  3. manuel disse:

    Caro Carlos Pacheco
    Apresso-me a desfazer-me em mil desculpas pelo meu tremendo engano. Acontece que me tinha desabituado de o ver por aqui e que estava, de algum modo,fixado no Ítalo.
    Afinal,"Porque um Engenheiro Ambiental deseja especializar-se em Ciência do Solo?",parecia isso esconder um propósito,que se veio a concretizar. A pergunta era,claramente,"inconveniente".
    As minhas muitas desculpas,mais uma vez,os meus parabéns pelo sucesso, os votos de uma brilhante carreira e o meu muito gosto por o ver regressado ao Geófagos.
    Um abraço,Carlos,e muito boa saúde.

  4. Caro Carlos, muito bem vindo de volta!
    Um grande abraço e até a próxima!
    Flávia.

  5. Meus caros e Flávia,
    Muito obrigado pelas boas vindas. Ítalo, obrigado pelos parabéns, espero que esse seja apenas o primeiro passo para uma carreira efetiva. Manuel, vejo que ainda lembra da "pergunta inconveniente", agora ela se tornou mais inconveniente ainda.
    Meus amigos, é muito bom estar de volta.
    Abraços a todos.

  6. manuel disse:

    Caro Carlos
    Na sequência do seu reparo,parece não ser descabido o que adiante vai.
    Os materiais orgânicos que se aplicam aos solos,ou que nos solos são produzidos,mas não retirados,constituem,como se sabe,uma fonte de nutrientes para as plantas.Para além dos que eles transportam,e que são disponibilzados á medida da sua dissolução na água do solo,há que contar com a mobilização de nutrientes operada por produtos dessa mesma decomposição.
    As reacções que ocorrem nessa mobilização são de vária natureza,incluindo a complexação do tipo quelato,por muito diversos compostos. É o caso dos ácidos oxálico,láctico,
    tartárico e ftálico.
    Estes compostos são similares,como é sabido,aos que têm sido usados no tratamento de deficiências de alguns micronutrientes,em particular no caso do ferro. Alguns destes compostos são caracterizados pela sua alta estabilidade em elevado valor de pH. Esta estabilidade é,aliás,a propriedade que permite a sua formação à custa de combinações menos estáveis.
    Do ponto de vista agronómico,a importância destes complexos
    depende,como é evidente,da sua estabilidade,como também da sua resistência ao ataque de microorganismos do solo.
    Um dos nutrientes cuja assimilação é favorecida por via da decomposição da matéria orgânca é o fósforo, porque,como se sabe,encontra na generalidade dos solos,tropicais,ou não,condições propícias á sua imobilização, em especial com o ferro. Estando presentes compostos orgânicos que formem com o ferro complexos com estabildade superior â das associações com o ferro do solo, a disponibilização do fósforo é favorecida. Neste aspecto,há que contar,e fomentar,por razões óbvias,sobretudo pela exaustão das reservas mundiais de fósforo,com a colaboração,no sentido da poupança, de microorganismos do solo,como bactérias.
    Muito boa saúde,Carlos,e muito bom trabalho.

  7. manuel disse:

    Caro Carlos
    Com a sua permissão,para entreter,se for caso disso,mais uma página de um caderno.
    EVOCAÇÃO
    O desafio. A doença. Os receios. O médico. Não pense nisso. Avance. O avião.O invisível cacimbo. O grande rio. A piroga. O sentar no fundo. O encharcamento. O jipe. O vermelho da terra,da poeira. O verde do amplo vale. Os dois rios mansos,de água verde-escura. As galerias de palmeiras. Os tufos densos das bananeiras. O capim seco,amarelado. A lixa de silica,solta,ao mínimo abanar. O capim verde,gigante ou anão. As espinhosas. Os espinhos.A infecção. 40 graus. O enfermeiro-médico, competente. Uma semana de braço ao peito. Os crocodilos. Dois,apenas,à vista. Uma cabeça,na água. Um,filhote,a aquecer-se,ao sol,na margem. As cobras. Uma,para amostra,ainda assim,moribunda,por atropelamento. O rasto de outra. Mosquitos,nuvens. O repelente milagroso,perfumado e salvador. As pacaças fugitivas.Os passarinhos sentinelas,vigilantes,parasitas,denunciadores de perigos. As fugas. Uma delas,a da infecção. Se o homem tem medo do bicho,o bicho tem mais medo do homem. Casuais,os cruzamentos. As picadas,avenidas, umas,veredas estreitas,outras. Rastos de elefantes. Uma desgraça,a sua passagem. Selectivos,em primeiro lugar,os rebentos tenros. Um desastre. Os javalis em fuga,espavoridos,do fogo. As lagoas. Os tapetes de nenúfares. As cortinas de papiros. Os cactos-candelabros. A dieta.Bananas,ovos,galinha,torradas,bolachas,papaia. Uma revelação,a papaia. Sempre. A papaína,digestor da carne mais dura. As galinhas de mato, as rolas,as perdizes,aos bandos. Em paz. Outros valores. Uma caçada,à noite,com holofote,para ver como era. Pares de olhos,fixos,como que hipnotizados. O tiro. O estertor,no escuro. O silêncio. Nunca mais. Os cágados pachorentos,nos caminhos,no fundo das covas,no fresquinho,de companhia, pacífica,com sardaniscas,formigas de todos os tamanhos,ratinhos. Charcos com sanguessugas. Charcos com bilharse. Botas de borracha,de cano alto,para travar investidas,nem sempre evitadas,por desníveis inesperados. Picadas de centenas de metros,entre barreiras de capim de todos os tamanhos. O que andaria lá por dentro?Covas espaçadas, de um metro de fundo, para nelas se enfiar e bisbilhotar. O sinal da cruz,discreto,como arma. O ajudante,o Armando,um jovem destemido,inteligente,alegre,leal,companheiro,sempre disponível,sem regateios. As chuvadas repentinas,barulhentas. As folhas das bananeiras,como chapéus eficazes. O acordar da floresta. Uma sinfonia de cores. Os tons de verde,do amarelo,do vermelho. O anoitecer,abrupto,os tons violáceos.O embondeiro,o senhor grave,de impor respeito. O catequista,talvez de quinze anos. Deambulava. Crianças rodeavam-no,disciplinadas. As avarias. Idas para casa,ao longo dos rios. Os cheiros. As queimadas,mestramente conduzidas. Os macacos,nas palmeiras. Macacos sem vergonha,certos da impunidade. A água filtrada. A água do banho,bombada directamente do rio. Sabonetes "life-buoy". O mata-bicho,lá no palmar,no mato,onde quer que se estivesse. Aparecia,como por milagre. Sobras,nem uma. O Armando encarregava-se de as dividir, irmamente,com quem aparecesse. Peixes,muitos,de bocarras abertas,para não se perder o que viesse na corrente.
    O regresso. Ainda combalido da infecção. Uma aventura por estrada convertida em lago. Ao leme,um desnrascado. Pelos morros,não podendo,por pontes improvisadas. Sapadores eram três e capim não faltava. Quatro meses de arrasar e de novidades,a cada segundo. Para não mais esquecer.
    Com um abraço,muito boa saúde,e muito bom trabalho.

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