Avanço do nível do mar no litoral brasileiro
Há alguns meses atrás tive a oportunidade de visitar duas regiões por mim já conhecidas, uma no litoral sul e outra no litoral norte do estado do Espírito Santo. Fiquei chocado com o que vi. O nível do mar subiu absurdamente nos últimos cinco ou seis anos, desde a minha visita anterior. Fiquei curioso com aquela situação e fotografei com a finalidade de documentar o acontecido. Ao mesmo tempo fiquei chateado por, no passado, não ter tomado a mesma atitude pois a documentação e a comparação das duas épocas seria de grande valia. A verdade é que observei estradas, residências, hotéis e pousadas, todos à beira mar, sendo consumidas pela força das marés, que ao meu ver, estariam ganhando força ao longo do tempo. Procurei então uma forma de explicar esse fenômeno, afinal, não é comum em tão curto período observar-se mudanças tão drásticas em se tratando de meios naturais. Lembrei-me logo do tão falado aumento dos níveis do mar devido ao aquecimento global, no entanto, tal hipótese era muito improvável pois espera-se que tais desastres naturais advindos desse fenômeno global aconteçam a longo prazo. Entretanto, para minha surpresa, assistindo ao Jornal Nacional de sábado, 01/11/2008, vi uma reportagem tratando de pesquisas realizadas pela Universidade Federal da Paraíba que concluiram que, a degradação e represamento dos rios Paraibanos eram os grandes responsáveis pelo avanço do mar sobre o continente daquele estado. A explicação é fácil de ser entendida. Menos água transporta menos sedimentos. Esses últimos são os principais responsáveis pelos depósitos de areia que formam as praias. A presença de maiores quantidades de areias equivale a praias maiores, que por sua vez, impedem o avanço do nível do mar sobre o continente propriamente dito. No entanto, com a reduzida chegada de sedimentos, a reposição de areia nas praias tem sofrido uma sensível redução, tornando o balanço entre chegada e retirada (via mar) negativo. Ou seja, está se perdendo mais areia para o mar do que o rio é capaz de repor. Dessa forma, a dinâmica tem sido alterada graças à degradação dos rios e o mar tem ganhado força, destruindo paisagens continentais importantes naquela região. Logo me lembrei de diversos outros casos semelhantes registrados na literatura, alguns deles no próprio litoral brasileiro, como aquele ocorrido na foz do Rio São Francisco, entre os estados de Sergipe e Alagoas. O avanço do nível do mar nesse caso tem produzido, além da destruição de paisagens continentais, também a intrusão de água salgada na calha do rio, tendo efeitos importantes na dinâmica daquele ecossistema. Portanto, a hipótese mais provável dos casos por mim citados no início desse texto é que a degradação dos cursos d´água que banham aquela região estejam comprometendo toda a dinâmica do ciclo hidrológico. O resultado então é o avanço do nível do mar causando prejuízos consideráveis à população e ao ambiente. Corrobora com essa hipótese uma das principais bacias hidrográficas que tem sua foz no estado do Espírito Santo, que é a do Rio Doce. Quem conhece essa bacia sabe que ela é uma das mais degradadas do território brasileiro, com índices de assoreamento assustadores. É necessário revermos nossos conceitos imediatamente. Não tenho dúvidas que um dos principais causadores de tais fenômenos é o desperdício. Quantos e quantos de nós ainda hoje tomam banhos demorados, esquecem as torneiras abertas, lavam calçadas com quantidades abundantes de água, entre outros. Fica o alerta, ou mudamos nossas atitudes ou sofremos as consequências de nossos atos.
Carlos Pacheco
Recuperação de áreas degradadas x Preservação de fragmentos florestais
A legislação brasileira, já em sua carta magna, afirma a necessidade do agente impactante em recuperar as áreas degradadas. No entanto, venho presenciando diversas discussões a respeito das técnicas de recuperação de áreas degradadas ultimamente empregadas pelos diferentes agentes degradores do ambiente. Os métodos empregados e, sobretudo, a eficiência dos mesmos muitas vezes vêm sendo discutidos. A comparação com a preservação de fragmentos florestais, atendendo à legislação pertinente às áreas de preservação permanente, tem sido constantemente feita por diversos pesquisadores, no entanto, algumas considerações a respeito devem ser feitas.
É verdade que diversos autores tem relatado ao longo do tempo o quanto os remanescentes florestais são mais eficientes em preservar a biodiversidade do que áreas recuperadas ou restauradas. No caso dessa última, apesar de os métodos levarem a área muito próxima da sua aparência inicial, a diversidade de organismos vivos ainda deixa a desejar. Nesse sentido, obviamente, quando possível é melhor que áreas intactas sejam destinadas à preservação. Essas áreas por diversas vezes apresentam-se fragmentadas, sem contato umas com as outras, formando verdadeiras “ilhas preservadas”. Os resultados do uso de tal método no que tange respeito à preservação da biodiversidade têm sido incrementados ainda pelo uso de corredores ecológicos ligando diferentes ilhas. Isso aumenta as interações entre as espécies e, consequentemente, aumenta a preservação da biodiversidade. Entretanto, nem sempre o uso dessa técnica é possível. A explicação para isso é simples. Por diversas vezes não existem mais fragmentos florestais nas áreas exploradas devido à intensa degradação ambiental sofrida ao longo do tempo. Então o que fazer?
Nesses casos e em outros, como por exemplo em áreas intensamente degradadas (talvez áreas de mineração sejam o melhor exemplo), a recuperação faz-se necessária. Técnicas de restauração podem ser aplicadas, no entanto, o seu custo elevado dificulta a sua aplicação . Entende-se por recuperação dar um novo uso à área, podendo ser revegetada, sendo destinada ao lazer, à um novo centro empresarial, à um campo de futebol, entre outras. Obviamente cada técnica a ser utilizada e também cada uso futuro a ser dado depende das características da área como a resiliência e resistência. A resiliência pode ser entendida como uma mola, definindo a capacidade da área impactada em retornar, pelo menos próximo, ao que era antes. Já a resistência representa a capacidade da área em resistir ao impacto. Enfim, a recuperação dessas áreas dependerá da disponibilidade de técnicas e da capacidade do ambiente, além dos interesses dos atores envolvidos. Por diversas vezes as técnicas de recuperação apresentam aspectos complicados como a necessidade de uma verdadeira “construção de um novo solo” ou uso de espécies exóticas, entre outras. Esses aspectos têm sido frequentemente questionados. Imaginemos uma situação onde é necessário a contenção de taludes. Outras vezes o uso de espécies fitorremediadoras é requerido. Faz-se necessário então o uso de espécies e crescimento rápido e, além disso, que muitas das vezes possam crescer em condições de fertilidade adversas. Esse fato as torna muito competitivas e despertam a preocupação com sua disseminação. Como elas se comportariam se suas sementes se alastrassem por áreas preservadas? Será que elas cresceriam em detrimento às espécies nativas? São todos esses aspectos e muitos outros que ainda necessitam ser melhor entendidos e, consequentemente, dão margem à discussões e questionamentos.
Concluo essa pequena exposição acerca do assunto afirmando que ambas as técnicas são necessárias. Lançar mão de uma ou de outra depende das condições sócio-ambientais da área a ser impactada. No entanto, sempre que possível a preservação de fragmentos florestais, sobretudo com o uso de corredores ecológicos, deve ser aplicada visando a manutenção da biodiversidade.
Carlos Pacheco
O contexto ambiental brasileiro e a Amazônia
Ja faz algum tempo que venho observando o comportamento dos chamados “formadores de opinião” brasileiros com relação às questões ambientais. Nos noticiários, documentários e outros meios de divulgação sempre ouço e vejo uma grande omissão relacionada aos aspectos ambientais do país. Quando fala-se em ambiente no Brasil quase sempre fala-se em Amazônia, como se questões relacionadas a outros ecossistemas não existissem. Cito a seguir algumas poucas, das muitas questões ambientais corriqueiramente observadas no país. Vejo, diga-se de passagem com muita preocupação, o cerrado brasileiro ser exterminado e não vejo, também com muita preocupação, os tais formadores de opinião criticarem tal fato. Vejo a Mata Atlântica às mínguas e seu território continuar sendo ocupado. Vejo o rio São Francisco moribundo, sendo transposto, sem que antes haja sua revitalização. Continuo vendo corpos d´água que são verdadeiros esgotos a céu aberto em diversas cidades que visito. Os resíduos sólidos de grande parte dos municípios (infelizmente ainda a maioria deles) continuam sendo dispostos de maneira inadequada. E chamo de disposição inadequada não só a existência de lixões, mas também os chamados aterros controlados, que ao contrário dos aterros sanitários, não possuem tratamento do percolado gerado na decomposição da massa orgânica de lixo. O destino final desse lixiviado não tratado, obviamente, são os corpos d´água, apresentando-se então como potenciais poluentes. É claro que a importância estratégica e ambiental da Amazônia é inquestionável e políticas públicas e pesquisas relacionadas a esse ecossistema são de extrema importância para o país e para o mundo. Porém, outras tantas questões ambientais e, principalmente, outros tantos problemas ambientais, sejam eles de ecossistemas nativos, rurais ou até mesmo urbanos existem e possuem grande importância, devendo ser resolvidos. É necessário abrir-se os olhos também para tais questões, tomando-se as providências cabíveis, elaborando-se políticas públicas de desenvolvimento sócio-ambiental, preconizando de maneira enfática a educação ambiental da população brasileira e, principalmente, dos governantes e legisladores desse país. É necessário que exista um planejamento com políticas de médio e longo prazo para tais questões. Aplicar a legislação com a mesma intensidade para todas as camadas da sociedade, diferente do que é observado hoje, também é fator primordial para o sucesso do desenvolvimento ambiental do país. Não obstante, é necessário conhecer a realidade dos diversos ecossistemas brasileiros, investindo em pesquisas dos mesmos, elaborando leis menos utópicas e mais realistas, levando-se em conta características peculiares dos mesmos e também da população neles residentes. É necessário, portanto, cuidar sim da Amazônia, mas em conjunto com os outros ecossistemas e não em detrimento desses. Por fim, nunca é demais lembrar que o ambiente deve ser encarado como o todo e não apenas uma parte. Ele não é só o verde ou só os animais, ele também é todo o conjunto de interações entre as diversas esferas do planeta, incluindo nelas a capacidade do homem de modificar o meio em que vive, respeitando sempre suas características culturais.
Carlos Pacheco
Guiana vende serviços ambientais e conserva floresta
Há poucos dias o Jornal da Ciência publicou esta notícia anunciando a venda pelo governo da Guiana de serviços ambientais a um fundo de capitais britânico. Que serviços ambientais? Basicamente, os benefícios ao meio ambiente de uma floresta mantida intacta. Em dezembro publiquei aqui no Geófagos o post Como pagar ao meio ambiente?, infelizmente muito pouco lido, introduzindo aos leitores como seria a prestação de serviços ambientais e sua valoração. Vê-se agora um país vendendo os serviços de 405000 hectares de mata, entre os quais “regulação de chuvas, armazenagem de carbono e regulação do clima”. Os que não conhecem a realidade da pequena agricultura brasileira descapitalizada, criticam, a partir de seus escritórios com ar condicionado, a derrubada de matas para fazer carvão por agricultores ignorantes e de pequena visão. Mas a visão tem que ser pequena e de curto prazo: de que adianta salvar as florestas para o futuro e morrer de fome hoje? É inútil tentar-se salvar o mundo apelando para as consciências, principalmente quando estas estão famintas. O agricultor em geral não derruba matas por maldade, mas por necessidade. A forma mais eficaz de se evitar isto é pagando de forma justa para que eles mantenham a vegetação de pé, pagando os serviços ambientais prestado pelas matas intocadas. E não só das matas, o solo acumula muito mais carbono que a vegetação e isto é um grande e potencialmente caro serviço, deveria também ser pago. Aliás, isto seria uma alternativa interessante para auxiliar a conservação da caatinga e do cerrado, a primeira ameaçada pela completa ausência de fonte de renda de agricultores do semi-árido, o segundo pela voracidade entomológica de sojicultores et allii. Há regiões de difícil agricultura que poderiam ser usadas extensivamente para isso. A Zona da Mata mineira, por exemplo, é uma região extremamente montanhosa e de solos nutricionalmente pobres. As áreas mais produtivas são os terraços nos vales. Mesmo assim, os morros estão quase completamente desmatados para a formação de pastagens, aliás muito degradadas, e a madeira restante é em geral usada para fazer carvão. Os topos dos morros se prestam à regeneração das matas e prestariam um serviço ambiental essencial para a região: a captura e manutenção da água que alimenta as nascentes de rios da região. É necessário buscar-se alternativas ousadas para a resolução dos grandes problemas ambientais de nosso tempo e usar o realismo monetarista como aliado, revertendo o papel do dinheiro como grande causador das tragédias mundiais modernas.