As merdas que os céticos dizem…

Apenas um video bem humorado para lembrar que não importa o que você diga, alguém já disse antes e já é clishé

Shit Skeptics Say (Part 1 of 3)


Minha favorita é “Eu ia escrever uma resposta… mas não queria que me acusassem de ser sexista”.

O Open Access é a solução?


Recentemente houve uma grande exposição do boicote da editora de periódicos acadêmicos Elsevier pela comunidade cientifica. Os motivos para esse motim científico estão colocados no site thecostofknowledge.com (o Custo do Conhecimento), que também permite a assinatura do manifesto contra a editora. O site explica que acadêmicos tem protestado contra as práticas de trabalho da Elsevier a anos, sendo as principais objeções:

  1. Os preços altos para a assinatura de periódicos individuais
  2. A venda de “pacotes” de revistas, que diminuem o preço exorbitante das revistas individuais, mas requer a assinatura de revistas de pouco interesse (a Elsevier negou essa acusação)
  3. O apoio da Elsevier à medidas de restrição de difusão de informação na internet, como o SOPA, PIPA e Research Works Act (RWA, uma espécie de SOPA Acadêmico que impediria os autores de disponibilizar seu próprio trabalho se assim quisessem).
Esse último motivo, ao meu ver, foi o real estopim do boicote, pois restringiria o livre fluxo de informação científica, dificultando de forma quase impeditiva o trabalho dos pesquisadores. 

Essa questão foi rapidamente emoldurada em uma discussão maior, que é sobre o acesso à publicações científicas. No cenário atual, o acesso é feito principalmente de duas maneiras: Acesso restrito, no qual ele é disponibilizado à instituições de pesquisa mediante à uma assinatura, e acesso aberto (Open access, ou OA), no qual o acesso é livre para qualquer usuário da internet. Fica rapidamente evidente que esse debate nada mais é do que um reflexo de um processo de disponibilização de conteúdo online, seja ele música, arte, informação não-academica e, nesse caso, acadêmica.

O sentimento geral é que a adoção do OA como política de publicação seria o caminho. Porém uma questão que não vi ser profundamente explorada é como se daria essa mudança, ou mesmo se essa alternativa é realmente operacional, especificamente para o Brasil.

Um dos argumentos comuns que circulam por ai é que o artigo OA custa menos por acesso: com apenas o lucro derivado da venda de assinaturas dos periódicos científicos da Elsevier, seria possível financiar OA para metade de todos os artigos publicados anualmente no mundo, de todos os países. Em outras palavras, apenas uma fração do que é investido em acesso (o equivalente ao lucro anual de algumas editoras apenas) poderia ser usado para financiar a produção cientifica mundial e torna-la disponível à todos. No Brasil, gastamos anualmente cerca 80 milhões de dolares em acesso a periódicos, dos quais um terço poderia ser gasto para financiar nossa produção anual.

Esse argumento, entretanto, me parece partir de uma confusão entre dois custos diferentes da publicação científica: um é o pagamento realizado para se ter acesso através de assinaturas das revistas e o outro é o pagamento realizado para publicar, efetuado no momento do aceite do artigo. Essa confusão parece decorrer do fato de que revistas OA normalmente cobram uma taxa de publicação dos pesquisadores*, porém não cobram pelo acesso, enquanto grandes editoras normalmente cobram pelo acesso, porém nem sempre pela publicação. A consequência disso é que os artigos que são comprados das editoras não são os mesmos que são produzidos nas instituições de pesquisa de um dado país. Ou seja, o dinheiro que fosse transferido para à publicação OA restringiria o acesso a revistas controladas pelas editoras, que podem ser essenciais para algumas áreas. Para países desenvolvidos, isso talvez implicasse em uma perda pouco significativa de artigos publicados (e de qualquer forma, eles provavelmente nem notariam a perda). Mas para o Brasil, que contribui com aproximadamente 2% da publicação mundial, isso implicaria em perda significativa de acesso a pesquisa de ponta**. Isso não significa que o OA não é desejável***, mas não acredito que ele seja parte de uma decisão institucional que possamos tomar agora.

Ou talvez eu só esteja racionalizando minha resistência em assinar o boicote. O que for mais plausível.


**********Notas adicionais**********


* Como evidenciado pelo Valdi Tutunji, existem publicações OA que não são pagas em nenhum momento. Eu estou ciente de tais iniciativas, como o SciELO, que oferecem conteúdo de qualidade de graça e algumas revistas filiadas (as que conheço, ao menos) não cobram taxa de publicação. E, de fato, se estivermos falando apenas de revistas inteiramente sem custo, então todo argumento baseado no custo do OA (tanto em favor ou contra) é inválido. O que importa nesse momento é avaliar o quanto da produção acadêmica, principalmente da brasileira, está disponibilizado por alguma forma de OA.


** Em 2008, aproximadamente 20% da produção mundial era publicada em alguma forma de OA, sendo que essa fração da produção científica mundial não poderia ser perdida por qualquer mudança no orçamento.


*** Existem duas principais subdivisões do OA: o Green OA, que consiste na disponibilização de artigos científicos através de repositórios independentes (p.ex: institucionais) que são publicados em revistas OA ou não-OA; e o Gold OA, que consiste na disponibilização dos artigos pela editora diretamente na rede. Essa distinção é importante pois o Green OA não tem custos para quem publica, porém não é um sistema sustentável por depender diretamente do trabalho editorial pago. Já o gold OA pode ser pago e é envolve todo o processo editorial (ou seja, é sustentável). Aparentemente a maioria do OA é na forma green, através de repositórios institucionais por exemplo, e seria esse tipo de OA o principal afetado pelo RWA.


—–Atualização——


27/02/2012 – A Elsevier resolveu não apoiar mais o RWA. Eu acho que essa é a maior vitória que se podia ter.

Doze (ou quatorze) mortos por causa do Corão

Doze, talvez quatorze pessoas perderam suas vidas em confrontos entre a polícia e manifestantes no Afeganistão numa onda de protesto que já dura 3 dias.

O motivo?

A revolta começou anteontem, quando trabalhadores afegãos de uma base militar americana viram soldados colocando o Corão e outros livros religiosos em uma fossa onde é depositado o lixo para ser queimado.

(fonte: Folha impressa)

Exatamente. Mais um capitulo insano na história da “Religião da Paz”. Nada exatamente inesperado. Alguém mais se lembra do pastor norte-americano Terry Jones que queimou um exemplar do Corão na Florida em 2011, resultando na morte de pelo menos 30, incluindo 7 oficiais das Nações Unidas? Ou o infame incidente das charges de Mohamed, que já colecionam 139 mortos e mais de 800 feridos? Alguém pode honestamente dizer que isso não é um padrão?

Foto: Ahmad Masood/Reuters

Eu não vou ser ingenuo à ponto de não reconhecer que grande parte desses eventos está sendo raptado por extremistas. Porém é válido notar como ele está sendo raptado: através de incitação ao ódio. Ou seja, tais mortes provavelmente apenas são possíveis porque existe um contingente grande de pessoas que é influenciável por esse tipo de discurso corrosivo. Se eles são extremistas ou moderados com baixa capacidade de discernimento, isso me parece ser inteiramente irrelevante. O ponto é que existem pessoas dispostas à matar e morrer por tinta em papel e isso, por sí só, é um problema.

Criacionismo no Research Gate?

Eu gosto de bate-bocas online tanto quanto o próximo detentor de banda-larga com tempo demais nas mãos, mas acredito que haja lugar e tempo para tudo.

Não é que hoje, para minha surpresa, ao abrir minha conta no ResearchGate me deparo com os seguintes posts


*
Quais são as ‘provas’ da Evolução??
Bem, eu gostaria de explanações formais, e não comentários desconexos..

Porque a teoria da evolução é científica?
Usando a premissa da logica indutiva:

Se a probabilidade matemática sobre uma teoria é alta, ela é científica. Se é pequena ou tende a zero, ela não é.
*

Essas pessoas só podem estar de brincadeira.

Confesso que estou bastante decepcionado com o ResearchGate. Meu objetivo ao entrar nesta rede era, talvez, tentar participar de debates mais acadêmicos e fazer contatos profissionais. Porém o site sofre do mesmo problema que o Academia.edu: falta gente. (clique aqui para ver uma exposição mais completa sobre a rede social).

E agora isso. Eu esperava que o ResearchGate estivesse livre de criacionistas, ou que talvez os tivesse em extrema raridade. Eu posso estar completamente equivocado no meu julgamento, apesar de eu achar bastante improvável. É por esse motivo que só estou emitindo um alerta de DEFCON 4.

Visto que essas questões foram postadas em tópicos com um número relativamente razoável de seguidores, talvez fosse sábio da minha parte simplesmente deixar passar. Mas nós sabemos que isso não vai acontecer. Eu já postei respostas (bastante exploratórias e não-confrontadoras, eu prometo) e convido quem participa da rede à fazer o mesmo aqui e aqui, respectivamente.

Macacos não vieram dos seres humanos

Que o estado do jornalismo científico no Brasil é deplorável não é nenhum segredo. Pelo menos não deveria ser. Foi por isso que não fiquei nada surpreso quando me deparei com esse videocast da Veja sobre evolução humana liberado recentemente chamado Eles Vieram de Nós:





(o video pode ser visto aqui também)


A chamada do vídeo lê:

A máxima que nós viemos dos macacos pode estar errada. Um grupo de cientistas da California inverteu essa idéia. 

O que eles querem dizer exatamente com “máxima” me foge completamente. Afinal, não é uma “máxima“, mas uma conclusão baseado em evidencias anatômicas, paleontológicas e moleculares! O ponto do filme que remete ao título é colocado logo no início:

“Mas em 2009, um grupo de arqueólogos e antropólogos, liderados pelo americano Tim White, professor da Universidade da California, questionou essa idéia. Na verdade, eles a inverterãoam, dizendo que Chimpazés e Gorilas é que teriam vindo de nós”

O apresentador segue explicando que tal conclusão foi tirada através das analises de um dos esqueletos mais completos de hominídeos já achados, pertencente à espécie Ardipithecus ramidus, apelidado de Ardi. A seguir o filme apresenta uma representação relativamente boa das relações de parentesco entre  gorilas, chimpanzés, bonobos (que não possuem rabo, diferente do que é apresentado no vídeo) e os humanos. O filme explica que Ardi ilustra a morfologia ancestral da linhagem dos hominídeos, apresentando várias características presumidamente derivadas associadas à dentição e o bipedalismo, sugerindo que tal ancestral seria “muito mais homem do que macaco”. Porém ser “muito mais homem do que macaco” não iguala Ar. ramidus a um membro da espécie humana, nem sob a luz mais benevolente. Isso é apenas sensacionalismo barato.


Mas de onde veio essa informação? Dos 11 artigos publicados em uma edição especial da Science é que não foi. Uma rapida avaliação desses artigos revela que muitas das características que tornam Ar. ramidus “mais humano” assumem estados mais primitivos dos que os observados em AustralopithecusDizer que Ar. ramidus é mais humano do que símio me parece uma questão de gosto.


Uma possível origem para a matéria está no site UPI.com:

“As pessoas normalmente pensam que nós evoluimos dos símios, mas não, símios de diversas maneiras evoluíram de nós” disse Lovejoy [autor e co-autor de muitos dos artigos publicados na edição especial].

O site oficial da Universidade de Kent, à qual o Dr. Lovejoy está filiado, tem uma versão levemente diferente. Eu acho a colocação um tanto infeliz. Primeiro porque ela apela à uma noção equivocada de evolução humana, representada no famoso diagrama:





Em outras palavras, uma pessoa que não entende o conceito vai simplesmente inverter o diagrama e chegar a, novamente, a uma conclusão errada. Isso é uma péssima estratégia de divulgação científica.


Um segundo ponto é que isso obscurece a real revolução do achado que, ao meu ver, é a conclusão (não totalmente imune de críticas) de que o ancestral comum dos homens e dos chimpanzés apresentava uma morfologia muito mais generalizada. Isso, por sí só, é o suficiente para re-escrever grande parte do que sabemos sobre evolução morfológica e cultural humana. Mas visto que o grande publico não conhece tais assuntos, parece ser necessário gerar uma revolução falsa, mesmo que ela oculte um achado igualmente revolucionário.

Aborto dos “Justos”: Como o Cristianismo Conservador Promove Aquilo que Diz Odiar

Original: Away Point

Uma das grande ironias da sociedade americana é que a maioria dos abortos nos EUA são causados por cristãos conservadores. Leia as estatísticas: 49% das gestações nesse país não são intencionais, uma taxa que tem se mantido dolorosamente estável por aproximadamente 30 anos. Quase metade dessas gestações terminam em aborto. Ou, para avaliar no sentido oposto, mais de 90% dos abortos nos EUA são resultados de gravidez acidental. As taxas dos EUA de gravidez acidental e aborto excedem em muito a de outros países com similar desenvolvimento econômico. Assim como nossa taxa de religiosidade. O fato de estarmos fora do padrão para ambos não é coincidência.

Três aspectos do cristianismo conservador promovem o aborto: pró-natalismo, a obsessão com pecado sexual, e a ênfase no sentimento de certeza e retidão em detrimento da compaixão.
  1. Cristianismo biblico não é pró-vida. Não é nem mesmo pró vida humana. As estimativas recentes de Steven Pinker são que apenas no Velho Testamento são descritas 1.2 milhões de mortes nas mãos de Yahweh ou seus serventes. Ele é, no entanto, pró-nascimento. Sejam férteis e multipliquem-se (Genesis 1:28) A mulher será salva dando à luz filhos (1 Timóteo 2:15). Martin Lutero, lider da reforma protestante, colocou em suas próprias palavras: “Se uma mulher eventualmente se esgota e morre, não importa. Que morram dando à luz, pois para isto existem”. A reprodução competitiva cristã, uma estratégia para aumentar os adeptos, está no coração da postura anti-contracepção Católica e o movimento Quiverfull protestante.
  2. Filhinho da mamãe, talvez do papai. Todos nós sabemos o que isso significa. Na época que as religiões Abrahamicas emergiram, o desejo masculino de investir apenas em sua própria prole tomou a forma da objetificação da mulher e da sua posse pelos homens. Não cobiçarás a mulher do teu próximo, nem o seu servo, nem a sua serva, nem o seu boi, nem o seu jumento, nem coisa alguma do teu próximo (Êxodo 20:17). Mulheres flagradas em adultério (ou sem seus himens intactos) eram mortas pelos antigos hebreus, assim como elas são por muçulmanos conservadores hoje em dia. A obsessão cristã com pecado sexual ou até com a pureza feminina produziu o mito da virgindade americana. Em contraste com sociedades seculares mais abertas, adolescentes americanas tipicamente não procuram contraceptivos por até um ano depois de se tornarem sexualmente ativas. Contracepção as fariam culpadas do pecado de sexo premeditado.
  3. 38.000. Esse é o número de denominações cristãs. Já se perguntou porque? O cristianismo tradicional diz respeito à crença correta, à ortodoxia, e não à viver corretamente. Crê no Senhor Jesus Cristo e serás salvo Atos 16:31. Contraste isso com a virtude central do budismo, ahimsa, de não-violência. Católico (significando universal) e ortodoxo (significando crença correta) são resquícios de uma das primeiras divizões do cristianismo depois que ele derrotou o paganismo. Mas o cisma e a fragmentação são apenas uma das consequências do enaltecimento da crença. Muitos crentes preferem estar corretos a estar em comunidade. Eles preferem estar certos a demonstrar compaixão. Eles preferem estar certos à resolver problemas. Eles preferem se opor ao aborto do que preveni-lo.
Os resultados são claros. A forma mais eficiente de reduzir o aborto é de-estigmatizar a educação sexual, des-mitologizar a virgindade, e investir em amplo acesso aos contraceptivos mais eficientes disponíveis. Em uma Holanda altamente secular, esta formula nocauteou o aborto para 7 em cada 1000 mulheres anualmente, um terço da taxa dos EUA. Então, porque a Direita Religiosa mantêm o foco em leis restritivas, ao invés de acesso à contraceptivos? Porque eles conferem direitos de pessoas a zigotos, em contradição com a essência da “pessoalidade”? Porque eles se opõem à educação sexual medicamente precisa? Porque eles prometem desfinanciar programas de planejamento familiar?

Porque aborto não é o que realmente interessa a eles. Eles querem pureza, eles querem retidão. Alguns querem reprodutoras designadas. Até aqueles que conscientemente promovem mais nascimentos são sujeitos às estratégias competitivas que estão nos ingredientes das religiões do deserto desde o começo.

O mundo está no cume de uma revolução dos contraceptivos. Comparado com o melhor controle de natalidade disponível para os seus pais (a Pílula), as ultimas gerações de contraceptivos de longa duração reversíveis, também conhecidos como LARCs, diminuem o risco de gravidez acidental em 10 a 50 vezes. Cada ano uma em cada doze mulheres que toma a Pílula engravida. Isso significa duas ou três gestações extra por mulher durante sua idade reprodutiva – crianças não desejadas ou abortos. Com DIUs hormonais ou implantes, essas taxas caem para uma em 500, porque os LARCs agem desligando a fertilidade da mulher. Como se isso não fosse o suficiente, alguns LARCs também se livram da impureza mensal (Levítico 15:19-24) causada pela maldição da Eva.

Se alguem quisesse prevenir abortos, ele iria advogar pela demonstração de LARCs em toda sala de aula no país. Eles iriam se certificar que os contraceptivos mais eficientes estão disponíveis para todos. Eles iriam focar em gravidez consciente e não em virgindade. Aqueles que dizem querer acabar com o aborto não o fazem, porque eles não o querem.

Nota: Publicado originalmente em 22 de Janeiro de 2012, na semana da Confiança na Mulher, para honrar a sabedoria moral e espiritual que as mulheres investem ao tomar decisões sobre seus direitos reprodutivos.

Sobre a Autora: Valerie Tarico é uma psicologa e escritora de Seattle, Washington. Ela é autora de Trusting Doubt: A Former Evangelical Looks at Old Beliefs in a New Light e Deas and Other Imaginings, e é fundadora da www.WisdomCommons.org. Seus artigos podem ser vistos em Awaypoint.Wordpress.com.