Haeckeliano no ScienceBlogs!

Sim, aconteceu: o pessoal do ScienceBlogs resolveu diminuir seus critérios de admissão. Fico muito feliz de estar aqui, na companhia de muitos que sigo a anos e que muito admiro. Como esse é um post introdutório, acho que é de bom tom uma breve introdução sobre mim e sobre o blog.

Meu nome é Fábio e atualmente sou doutorando da Universidade de São Paulo. Por ser uspiano, muitos de vocês podem pensar que isso me torna prepotente e convencido. E, segundo o que escuto regularmente, muitos de vocês estarão corretos.

Minha história com blogs sempre foi ambivalente. No inicio da faculdade eu era um blogueiro compulsivo, escrevendo sobre coisas que adolescentes escrevem. Acabei largando a prática por ter entrado em conflitos com minha namorada da época, em decorrência de algo inconsequente, inócuo, ou ambos, que eu tenha escrito. Desde então, me mantive longe de blogs e redes sociais. Nessa época ainda, meu colega de faculdade Átila (autor do Rainha Vermelha) começou a desenvolver uma plataforma de blogs de divulgação científica (que mais tarde se tornaria o ScienceBlogsBrasil) e, desde o inicio, nunca perdi uma única oportunidade de tirar sarro da cara dele por conta disso. Porém, como muitos vão aprender, hipocrisia é uma das minhas maiores qualidades (ex: já passei de critico de vegetarianos à vegetariano, e agora a onívoro apoiador do vegetarianismo), e quando quebrei minha perna no inicio do doutorado acabei iniciando um blog intitulado Haeckeliano, e me afundei nas mídias sociais.

Uma pergunta que muitos me fizeram foi “Porque Haeckeliano?”*. Pois bem, meu fictício Eu-Lírico, a resposta para isso, assim como para muitas coisas na minha vida é “eu não faço a menor idéia”. Mas isso não significa que eu tenha algumas explicações. A primeira é que “Haeckeliano” é uma referencia óbvia a Ernest Haeckel, um dos grandes popularizadores da biologia evolutiva durante o fim do sec XIX e inicio do séc. XX na Alemanha. Haeckel era um daqueles caras que te faz ter vergonha de ter preguiça de acordar cedo para ir na academia: ele era um naturalista, divulgador, artista talentoso, comunicador, criador do monismo alemão (um movimento cientifico-filosofico de cunho materialista). Foi Haeckel que criou muitos dos termos que usamos na biologia moderna, como filogenia e ontogenia (o que torna a piada abaixo muito mais engraçada):

2012-02-24-haeckel

– Eu tenho a coisa mais emocionante para te dizer: “Ontogenia recapitula a filogenia”. Deixe-me saber o que você acha disso. Obrigado.Sinceramente, Ernst Haeckel.

– ?… Você acabou de inventar essas palavras, não? -Darwin

– Sim. De fato eu inventei!

Fonte: http://sci-ence.org/haeckel/

Claro, Haeckel nunca foi perfeito, muito pelo contrário. Ele tinha idéias muito estranhas sobre evolução. A mais famosa delas é sua teoria de recapitulação, onde (como no cartoon acima) a “ontogenia recapitula a filogenia”, ou seja, durante o seu desenvolvimento embriológico, um organismo passaria por todos os estágios prévios evolutivos, retomando a história evolutiva de sua espécie. Isso se daria porque, segundo Haeckel, a evolução ocorreria por um processo de “adição terminal” de etapas de desenvolvimento: um organismo se modificaria de seu ancestral pela adição de um processo no fim de seu desenvolvimento que iria modificar a forma final do seu organismo. Haeckel tomou, por exemplo, a existência de fendas branquiais nos embriões de mamíferos, répteis e aves como evidencia de sua teoria, pois esses organismos passariam por “fases de peixe”, antes de atingir a fase adulta. Com base nesse tipo de idéia, Haeckel resolveu propor um organismo hipotético, que seria ancestral de todos os animais. Tudo isso é a mais completa bobagem, e nós sabemos hoje que por mais que algumas coisas possam ser compreendidas nessas linhas, nada torna esses processos uma necessidade ou uma lei natural. Haeckel estava errado sobre isso, assim como estava sobre muitas outras coisas.

Então, a homenagem pode ter vários significados: uma pretensa identificação com sua criatividade ou com suas motivações ideológicas, ou o reconhecimento da falibilidade das suas idéias, ou até mesmo um interesse por seu assunto de preferência (desenvolvimento biológico)…? Eu honestamente não sei, e até prefiro que seja assim.

Então, para os recém chegados: Bem vindos! Aproveitem para dar uma olhada nos posts passados. Para os leitores de longa data: é ótimo recebe-los aqui! Sim, eu sei que devo muita coisa para vocês (como continuar aquela série sobre como Evolução não é um Fato). Mas prometo tentar ser um bom menino.

Vamos às atividades do dia!

* Na verdade ninguém nunca me perguntou isso. Talvez isso seja de fato a parte mais estranha.