Caos na fábrica de tijolos – uma parábola sobre a ciência

Há muito tempo atrás, dentre as atividades e ocupações dos homens, estava a atividade chamada de pesquisa cientifica. Na realidade, entretanto, esses homens eram construtores que construíam edifícios chamados “explicações” ou “leis”, através do agrupamento de tijolos, chamados “fatos”. Quando tijolos eram sólidos e agrupados adequadamente, o edifício era útil, durável e trazia prazer, e as vezes recompensas, para o construtor. Se os tijolos eram falhos ou se eles haviam sido agrupados de maneira inadequada, o edifício viria a ruir e e esse tipo de desastre seria bem perigoso para os inocentes usuários do edifício, assim como para o construtor, que muitas vezes era destruído pelo colapso. Visto que a qualidade dos tijolos é tão importante para o sucesso do edifício, e visto que tijolos são tão escassos, nessa época os construtores faziam seus próprios tijolos. A manufatura de tijolos era uma empreitada difícil e custosa e construtores sábios apenas faziam tijolos da forma e tamanho necessários para a empreitada a frente. O construtor era guiado em sua manufatura pela planta do edifício, chamado “teoria” ou “hipótese”.

Com o tempo, os construtores perceberam que eles eram dolorosamente impedidos em seus esforços pelo atraso na obtenção dos tijolos. Assim, veio a existir uma nova ocupação de artesão de tijolos, chamado de  “cientista júnior” para dar ao artesão o orgulho necessário para o seu trabalho. Esse novo arranjo foi deveras eficiente, e a produção de edifícios progrediu com grande vigor. Algumas vezes, artesãos de tijolos se tornavam inspirados e progrediam para o status de construtores. A despeito da separação de tarefas, tijolos ainda eram feitos com cuidado, e usualmente eram produzidos por encomenda. Agora e então um artesão de tijolos empreendedor era capaz de prever a demanda e preparar um estoque de tijolos antes do tempo, mas, em geral, manufatura de tijolos era feita de forma personalizada porque ainda era um processo difícil e custoso.

E então aconteceu de uma equivocação se alastrar pelos artesãos (há alguns que dizem que esse equivoco se desenvolveu como resultado de um treinamento descuidado de uma nova geração de artesãos). Os artesãos se tornaram obcecados pela manufatura de tijolos. Quando lembrados que o objetivo último eram os edifícios, não tijolos, eles respondiam que, se tijolos o suficiente estivessem disponíveis, os construtores seriam capazes de selecionar o que era necessário e ainda assim construir edifícios. A falha nesse argumento não estava prontamente aparente e então, com a ajuda de cidadãos que estavam esperando para usar os edifícios que viriam a ser construídos, coisas fantásticas aconteceram. O custo da manufatura de tijolos se tornou um fator menor porque grandes somas de dinheiro se fizeram disponíveis; o tempo e o esforço envolvidos na manufatura de tijolos foi reduzida por engenhosas maquinas automáticas; a classe de artesãos foi inchada pela intensificação de programas de trenamento e recrutamento. Foi até sugerido que a produção de um numero equivalente de tijolos adequados era equivalente à construção de um edifício e, por isso, deveria permitir um artesão produtivo a assumir o título de construtor e, com o título, a autoridade.

E então aconteceu que a terra foi inundada de tijolos. Se tornou necessário organizar mais e mais armazéns, chamados de “Publicações”, e mais e mais sistemas elaborados de registro e inventario. E no meio disto tudo os artesãos mantiveram seu orgulho e sua perícia e os tijolos eram da melhor qualidade possível. Mas a produção eram muito aquém da demanda e tijolos não eram mais feitos sob encomenda. O tamanho e forma de tijolos era agora ditado por tendências na moda. De forma que, para competir com outros artesãos, a produção enfatizava aqueles tipos de tijolos que eram mais fáceis de serem feitos e apenas raramente um artesão aventureiro tentava uma projeto difícil ou pouco usual. A influência da tradição no método de produção e nos tipos de produto se tornou o fator dominante.

Infelizmente, construtores foram quase totalmente destruídos. Se tornou difícil de achar tijolos adequados para a tarefa porque necessitava a inspeção de tantos outros. Se tornou difícil de achar uma localidade adequada para a construção de um edifício porque o chão estava coberto de tijolos avulsos. Se tornou difícil completar um edifício útil porque, assim que as fundações estavam discerníeis, elas erram enterradas por uma avalanche de tijolos aleatórios. E o mais triste de tudo, algumas vezes nenhum esforço era feito para manter a distinção entre pilha de tijolos e um verdadeiro edifício.

Bernard K. Forscher

Publicado em 1963, na revista Science.

Acho que não preciso dizer mais nada.

5 respostas para “Caos na fábrica de tijolos – uma parábola sobre a ciência”

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