O Caso do Cão Vivissecado

Oitenta anos depois da primeira vitória judicial a favor dos animais e de uma lei sobre maus-tratos, o precedente estabelecido por Richard Martin e seu burro era francamente ignorado. O assim chamado “caso do cão castanho” dividiu a Inglaterra Eduardiana. William Bayliss, um fisiologista da faculdade de medicina do University College de Londres havia, alegadamente, dissecado um terrier consciente diante de 60 estudantes de medicina.

Indignado, o secretário da Sociedade Nacional Anti-Vivissecção, Stephen Coleridge processou o fisiologista por maus-tratos. Em discursos inflamados e detalhados, Coleridge acusava o cientista não apenas de usar o terrier em uma operação sem anestesia, mas também de usar o mesmo animal em três operações diferentes (a lei de maus-tratos de 1876 permitia o uso de animais em apenas um experimento). Após um julgamento de grande repercursão, que teve até mesmo uma reconstituição, Bayliss acabou absolvido. Mesmo assim ele ainda processaria Coleridge por danos morais, pois considerava que sua vida profissional havia sido desonrada. Novamente, ele venceu.

Para não deixar o caso cair no esquecimento, os opositores do Dr. Bayliss se uniram para levantar uma estátua em memória do cão:

Em Memória do Cão Terrier Brown [Castanho], levado à Morte pelos Laboratórios da University College em Fevereiro de 1903, após passar por Vivissecção por mais de dois meses, tendo passado pelas mãos de um Vivissector após outro até que a Morte veio Libertá-lo. Também em Memória dos 232 cães viviseccionados no mesmo local durante o ano de 1902. Homens e Mulheres da Inglaterra, até quando isso continuará?
A estátua, um silencioso protesto que deveria apenas causar reflexão, causou quatro anos de arruaças, vandalismo e controvérsias em plena Metrópole do Império Britânico — que então se considerava a maior força civilizadora do mundo. Um conselho de moradores decidiu fundir a estátua para evitar maiores problemas. Uma réplica foi reconstruída apenas em 1985.
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  • JOAO DE GOES

    PARABENS PELO BELISSIMO TRABALHO / REF: AO DITO CUJO (VIRUS) INFLUENZA

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