Patentes Patéticas (nº. 73)

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AAAAAAHHHHH, MEUSOLHOS!!11!!

Diz-se que pimenta nos olhos dos outros é refresco. Mas não seria melhor usar ácido? Igualmente, há métodos de auto-defesa que consistem no uso de gás de pimenta. De novo, não seria melhor usar ácido? O casal Martineau acha que, em ambos os casos, a resposta é positiva. Tanto que patentearam seu próprio (e simples) Attack Prevention Method [Método de Prevenção de Ataque]:

Um método de auto-defesa, particularmente para mulheres, para defender-se [d’oh!] contra um assalto físico. O método consiste no uso de uma cápsula de cera em forma de ovo e de construção oca, contendo uma solução de ácido cítrico concentrado na cavidade interna, para ser carregado na boca sem liberar o ácido cítrico até o momento desejado. O usuário, pelo simples mastigamento do contêiner de cera libera o ácido cítrico dentro de seu/sua boca para expectoração nos olhos de um possível atacante. A cera usada na construção da cápsula para formação da cápsula encapsuladora [sic] consiste preferencialmente de cera purificada.

Sim, senhoras e senhores! Paul P. Martineau e Anne E. Martineau acharam a solução para os crimes sexuais na combinação de chicletes recheados (tipo babalu) com suco de laranja concentrado!

Nativo de Pocasset, Massachussets, o casal entrou com o pedido de patente em 21 de agosto de 1990. Praticamente dois anos mais tarde, em 11 de agosto de 1992, era emitida a patente nº. 5.137.176 [pdf].

A demora foi protocolar, pois o texto da patente é simplíssimo e o documento tem apenas quatro páginas (sendo uma de introdução, outra de ilustrações e as demais com o texto integral). Há referências a mais de 20 patentes, a maioria relativa a gomas de mascar, recheios de goma de mascar, pirulitos e outras guloseimas e sistemas de auto-defesa — entre os quais há um curioso “anel de auto-defesa” dos anos 1970 que não só foi patenteado como foi licenciado para a Mattel(!!).

Na discussão do estado da arte de então, o casal de inventores descreve o uso de dispositivos de auto-defesa que “liberam substâncias, tipicamente um fluido nóxio, com um odor ofensivo […] para o assaltante e que, consequentemente, provê uma defesa temporária contra um potencial assalto.” Em outras palavras, sprays de gás de pimenta, por exemplo.

Só que Mr. e Mrs. Martineau pareciam insatisfeitos com os resultados daqueles dispositivos clássicos. Preocupava-os especialmente o efeito surpresa e a prontidão. Para usar um spray, é necessário tirá-lo da bolsa, abri-lo e só então apertar o botão sobre a fuça do meliante.

Para simplificar tudo isso o casal propunha um método que é “prontamente oculto, de uso rápido e […] cujo efeito não é ofensivo para o usuário.” Sim, porque a pobre dozela indefesa munida de seu spray de pimenta também pode ficar irritada (e vulnerável). A solução, claro, seria usar ácido cítrico (ou melhor, ácido 2-hidroxi-1,2,3-propanotricarboxílico) concentrado escondido em um chiclete. Genial, só que não.

Não há dúvidas quanto ao efeito surpresa. Nenhum malfeitor espera uma cusparada de ácido cítrico (ou qualquer outro) sobre seus olhos. O problema é que, embora seja menos perigoso que outros ácidos — por ser orgânico —, o cítrico também pode causar queimaduras, especialmente durante uma exposição ao sol. Mesmo a donzela indefesa mais precavida poderia se queimar, especialmente se ela tiver pele sensível.

Outra ingenuidade do casal Martineau é recorrente no campo dos sistemas de segurança (e da tecnologia em geral): é achar que apenas pessoas de bem teriam acesso ao acessório e que o mesmo nunca seria usado para fins criminosos. Exatamente por seu efeito surpresa e sua capacidade ofensiva, o chiclé cítrico de Martineau seria uma ferramenta útil nas mãos de assaltantes que desejam imobilizar (ou mesmo cegar) temporariamente a vítima.

Por fim, não importa quem seja o alvo. Evitar uma cusparada cítrica é simples: basta fechar os olhos!

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