O oceano está aqui, ali e acolá

“Em meio àquela serena natureza, céu e oceano rivalizavam em tranquilidade, e o mar oferecia ao astro das noites o mais belo espelho que teria refletido sua imagem.” Este trecho do livro Vinte Mil Léguas Submarinas, publicado em 1869 pelo escritor francês Júlio Verne (1828-1905), já nos dizia que as águas salgadas são o mais belo espelho. Sabemos que, para além de imagens, esse espelho reflete água, vida, oxigênio, mistério, poluição e muitas outras coisas. 

Há dias que temos mais motivos para celebrar, como hoje, o Dia Mundial dos Oceanos. Em 2009, a Organização das Nações Unidas (ONU), oficializou o dia 08 de junho para celebrar o oceano, refletindo sobre todas as coisas que dele advém e que indiretamente ou diretamente dependem dele, ou seja, todas as formas de vida que agora pulsam no planeta. O que significa que, não importa quem você é, onde mora, em que acredita, do que gosta, o que faz… você está conectado ao oceano. 

Mas, por habitarmos a terra firme, por vezes não é claro o quanto o oceano está entre nós. Primeiro: o oceano é o coração da Terra, já que bombeia água para diferentes partes do planeta como um todo. Segundo: é o pulmão da Terra, fornecendo mais da metade da produção de oxigênio no planeta, que vem do processo de fotossíntese de organismos marinhos microscópicos. Terceiro: regula o clima da Terra, levando calor para os lugares mais frios e o contrário também. Quarto: abriga uma das maiores biodiversidades da Terra (cerca de 240 mil espécies marinhas já foram descritas, mas há milhares – ou milhões – ainda desconhecidas). A lista de importâncias não para aqui. Mas a clareza sobre elas está longe de ser uma realidade de todas as 8 bilhões de pessoas! 

Embora haja uma distinção conforme a região – Atlântico, Pacífico, Índico, Ártico e Antártico –, o oceano é um continuum, grande, profundo e único ambiente; e a sua imensidão sempre significou para nós, humanos, uma quase certeza de sua infinitude! Porém, hoje sabemos que estamos atingindo muitos dos seus limites! São diversas as ameaças ao oceano, que se distribuem facilmente, porque nele não há fronteiras: destruição de habitats, sobrepesca, mudanças climáticas, poluição – que inclusive já chegou na Fossa das Marianas, o ponto mais profundo do oceano

A fim de mobilizar um maior número de pessoas, desde cidadãos comuns a governantes, para gerar o conhecimento, divulgar a informação e promover a conservação do ambiente marinho, uma ação fundamental foi a criação da Década da Ciência Oceânica para o Desenvolvimento Sustentável pela ONU. De 2021 a 2030, espera-se que aconteçam mudanças profundas na relação da humanidade com o oceano, e que estas possam ressoar pelos anos seguintes.

Um dos objetivos da Década do Oceano é justamente aproximar o oceano da sociedade! Assim sendo, aqui no Brasil, país com uma imensa área marítima, em 2023 nasceu a Rede Ressoa Oceano, uma parceria entre diferentes instituições brasileiras (o Laboratório de Estudos Avançados em Jornalismo (Labjor) da Universidade Estadual de Campinas, a Cátedra UNESCO para Sustentabilidade do Oceano da Universidade de São Paulo, a Liga das Mulheres pelo Oceano e o Projeto Ilha do Conhecimento), com o objetivo de transbordar o oceano para todos, inclusive aos que moram longe ou nunca foram até ele. O projeto é financiado pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq), e é um exemplo de como podemos agir em prol do oceano: informando as pessoas sobre ele – de maneira acessível, objetiva, informativa e reflexiva – para ressoar a cultura oceânica.

Seja pelo que fazemos ou pelo que deixamos de fazer, cada um de nós tem sua responsabilidade em manter o oceano vibrando! Então, convido você a usar o dia de hoje para refletir sobre quais atitudes você tem tomado para cuidar do oceano (e também do planeta): realizar coleta seletiva, consumir menos, informar as pessoas etc. – atitudes simples, mas com grande poder de transformação! E claro, sempre podemos ir além…

O dia do oceano ressoa para nós sob a forma das ondas batendo nas rochas, dos saltos das baleias, do borbulhar de diferentes peixes, do vento que sopra no litoral… Todos esses sons cantam uma melodia comum, que nos dizem, sobretudo, que precisamos compreender quais são os mistérios, as belezas, as importâncias e os sofrimentos do oceano. Para o bem de tudo e todos.

Vamos juntos, promover o oceano que precisamos? Eu estou nessa onda, vem comigo?

Viva o oceano!


Tássia Oliveira Biazon

Bióloga, jornalista científica, professora e membro da Cátedra Unesco para a Sustentabilidade do Oceano da USP e da Rede Ressoa Oceano. 

 

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