Tomara que caia
Acho bastante interessante mulheres em vestido (fica a dica). Não entendo nada de moda, então pra mim só há dois tipos: o tomara que caia e o tomara que tire. Se o desejo implícito no apelido carinhoso dado ao vestido sem alça se realiza, polêmica.
Mas por que ele (geralmente) não cai? Diante de uma questão tão importante, obviamente que algum desocupado curioso já tratou de destrinchar os detalhes por trás dessa peça do vestuário feminino. Meninos e meninas, papel e caneta na mão, é hora de Física.
Esse post é baseado em um pequeno artigo do engenheiro Charles E. Siem, com o título “A Stress Analysis of a Strapless Evening Gown” publicado em um livro de mesmo nome. Assumindo que as mulheres não utilizam truques ao usar esse tipo de vestido, o artigo é puramente físico.
Essa figurinha aí (sério, é do artigo) mostra o diagrama das forças que atuam em um tomara que caia.
Começando pela parte de baixo (indicadas por Ya e Xa) considere um pequeno pedaço do tecido. Há uma força W para baixo, o peso do vestido, e uma força V para cima, gerada pela porção de tecido imediatamente acima. Essas duas forças, W e V, se anulam mantendo o vestido em equilíbrio, até a parte de cima, onde o vestido termina e não há mais uma força V para compensar o peso (Yb e Xb, no desenho). Usando as palavras do artigo, uma mulher abençoada com desenvolvimento peitoral suficiente, conseguirá gerar a força que manterá o tomara que caia em equilíbrio. Caso contrário, essa força terá que ser gerada artificialmente.
Culpem o atrito.
A equação da força de atrito é F = µN, onde µ é uma constante que representa o coeficiente de atrito do material usado para construir o vestido, com a pele da mulher (ou com o material do sutiã). N é a força Normal, que é perpendicular ao atrito. Como µ é constante, os engenheiros de roupas devem cria-las de modo a aumentar o valor de N.
Um modo de aumentar a Normal é reduzir o diâmetro da região frontal do vestido. Isso significa apertar o vestido contra os seios da mulher, o que pode ser desconfortável.
E se os engenheiros de vestidos a.k.a. estilistas, não tivessem problemas suficientes com esse modelo, alguns deles vem sem tecido na parte das costas.
Isso faz com que as forças horizontais F1 e F2 do primeiro desenho não sejam exatamente horizontais, mas inclinadas para baixo, aumentando ainda mais a força W. Não havendo tecido pra envolver o corpo da usuária, o engenheiros devem usar a criatividade para criar estruturas que garantam a sustentação do vestido, sem estragar a aparência.
O autor termina o artigo lamentando que tudo isso seja apenas teórico, já que ele não conseguiu realizar a parte experimental… por falta de voluntárias.
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Versão online do artigo aqui.
Discussão - 4 comentários
O vestido do primeiro exemplo parece ser suportado pelo material em si (algum tecido muito rígido ou até uma estrutura metálica, como nos sutiãs empinadores). Os outros parecem mesmo só "falta de material", já que parece que o que está segurando as glândulas é a força de tração entre a parte da frente e a parte de trás, onde fica o zíper.
Complementando, parece que ela teve problemas com o primeiro vestido: http://juliapetit.com.br/moda/corta-fora/
Sobre os outros três, o do meio na verdade não é um vestido. É blusa e saia.
Quanto maior o, digamos, "apelo" ao desejo do vestido cair, menor a possibilidade disso acontecer. Mundo injusto.
(BTW, para os íntimos mesmo, seria Trillian)
Dra. McMillan.