Admirável Mundo Novo (Aldous Huxley)
“O brave new world, That hath such people in’t!“
Nós analistas do comportamento buscamos maneiras de aprender a prever e controlar o comportamento humano de modo a trazer o bem-estar social assim como as diversas outras áreas da ciência o fazem com seus respectivos objetos de estudo. O próprio Skinner imaginou uma sociedade onde os princípios da AC fossem aplicados ao bem comum (Walden II) e Aldous Huxley nos trouxe a sua visão de uma sociedade semelhante, onde os avanços da medicina, da biologia, psicologia e sociologia estão avançados em um ponto onde é possível controlar todos seus membros. O mais interessante é o tipo de controle exercido (e como é detalhado) e as repercussões que este mesmo controle traz a seus membros.
De maneira geral, a sociedade é dividida em 5 castas e cada pessoa se mostra bem satisfeita com sua vida, com suas regras e principalmente com sua posição social. As castas são: os Alfas, Betas, Gamas, Deltas e os Ípsilons. Cada ser é manipulado desde seu desenvolvimento embrionário de modo que não só tenham uma aparência física de acordo com sua casta (sendo os alfas os mais desenvolvidos, e os Ípsilons apenas grupos clonados de baixa estatura) mas também que estejam psicologicamente satisfeitos com sua posição: isto é feito através do condicionamento pavloviano e da hipnopedia (repetição durante o sono de frases previamente gravadas). É realmente incrível a descrição feita do processo de condicionamento realizado com os bebês Delta para que não gostassem de flores nem livros. No final das contas, cada um está satisfeito com sua posição e é capaz de relatar boas razões para tal.
A primeira questão que pode ser levantada é: “Tal controle é necessário? É possível uma pessoa estar sempre 100% contente?” Acho improvável, pois manipular TODAS as contingências de uma pessoa é uma tarefa muito difícil (talvez impossível) e também sabemos que saciação não é necessariamente equivalente à felicidade. Mas neste Admirável Mundo Novo a solução para os momentos de tristeza ou cansaço é simples: uma droga levemente alucinógena chamada Soma que relaxa a pessoa e gera um eficiente reforçamento negativo (assim como drogas existentes em nossa própria sociedade).
Mas não é em todo o mundo que estas regras se aplicam, em algumas regiões vivem os “selvagens“, que ainda mantém hábitos primitivos como a monogamia e a constituição familiar. As interações dos selvagens no mundo moderno (e vice-versa) são bem exploradas no livro e são um prato cheio para os analistas do comportamento.
Enfim, me perguntaram se eu achava que este livro fosse uma crítica ou um apoio ao Behaviorismo. A minha resposta é que não é nem um nem outro. Primeiro porque o livro foi escrito em 1932, antes mesmo até do “Behavior of Organisms” de Skinner, portanto se o livro estivesse criticando alguma corrente do Behaviorismo seria o clássico de Pavlov, e mesmo assim este condicionamento só é citado em alguns trechos (e se mostra extremamente eficaz). Também não é um livro que argumenta a favor do Behaviorismo pois, como já disse, o tema é pouco explorado nele. A verdadeira questão levantada pelo livro é a do livre-arbítrio das pessoas e até que ponto os avanços na ciência e tecnologia o influenciarão: Será que existe um ponto ideal de felicidade? A sociedade deve ser tão manipulada? As pessas em um meio controlado por um ser superior são mesmo mais felizes do que os “selvagens”? São questionamentos que não concernem apenas analistas do comportamento, mas todos profissionais que de certo modo são capazes de influenciar o comportamento humano, ou seja, todos.
O Porco de Botas
Neste blog encontrei a curiosissima notícia de uma porquinha que não encosta na lama, a não ser que esteja usando botas. Estão a chamando de porca com misofobia, que é o rótulo usado para quem apresenta medo de germes, contaminação ou sujeira.
Ao que parece, em uma fazenda de porcos de um casal vendedor de carnes, a porquinha Cinders tremia e se recusava a encostar na lama enquanto seus companheiros se deliciavam na sujeira. A caçula da família, de 5 anos, sugeriu dar a ela pequenas botas e por incrível que pareça deu certo!
Difícil imaginar que emparelhamentos levariam um porco à apresentar essas respostas, já que terra, lama e sujeira são estímulos tão presentes em seu cotidiano. Mas também existe sempre a possibilidade de um condicionamento feito pelo marketing, não é mesmo?!
De qualquer maneira, ela não vai ao abatedouro e ainda virou mascote da fazenda – o comportamento estranho garantiu sua sobrevivência!
Aqui ter Dragões: Introdução ao Pensamento Crítico
Brian Dunning é o autor do site Skeptoid, dedicado à divulgação do pensamento crítico, combatendo assim as idéias pseudocientíficas que costumam aparecer em nosso cotidiano, como a face em Marte como sinal da existência de uma civilização antiga, abduções alienígenas e caçadores de fantasmas.
Recentemente foi publicado pelo autor um vídeo de 40 minutos destinado ao público geral entitulado “Here Be Dragons: An Introduction to Critical Thinking” (Aqui Ter Dragões: Uma Introdução ao Pensamento Crítico), ensinando como reconhecer e entender os perigos da pseudociência, além de como apreciar os benefícios do verdadeiro conhecimento científico.
Achei bem interessante, e ele cita alguns assuntos comuns em algumas psicologias como energias internas do corpo. No final ele ainda faz referência ao grande Carl Sagan e seu livro O Mundo Assombrado por Demônios.
Mais legal ainda seria ter este vídeo legendado em português, alguém se disponibiliza a me ajudar na tradução?
Link original: http://herebedragonsmovie.com/.
Videogames viciam?
É muito comum vermos notícias e pesquisas relacinadas aos jogos de videogame como estimuladores de violência entre seus usuários. No Brasil, alguns jogos até mesmo chegaram a serem proibidos pelo conteúdo violento, como o Carmageddon e, mais recentemente, o Counter-Strike e o Everquest.
Hoje existe uma nova onda de jogos, que se diferenciam dos clássicos: os MMORPGS, ou RPGs online de múltiplos jogadores. Nestes jogos você cria um personagem e participa de, literalmente, outro mundo: os mapas são gigantescos e as milhares de pessoas que participam do jogo são outros jogadores de várias nacionalidades. Este tipo de jogo costuma incentivar a disputa através da cooperação; os jogadores formam grupos, ou guildas, e se unem para alcançar diversos objetivos ou batalhar com outras guildas. Este estudo chegou a mostrar que os jogadores de mmorpgs não seriam tão agressivos pela cooperação entre eles.
Neste tipo de jogo, a verdadeira preocupação não é a violência, é o vício. Joshua Smyth recrutou 100 estudantes universitários para jogarem um entre quatro tipos de jogos, selecionados aleatoriamente. Eles jogavam os jogos quando quisessem, em um laboratório do campus. O requerimento era que jogassem pelo menos uma hora por semana. E o resultado foi:
O grupo que jogava MMORPG foi o que mais gastou tempo na atividade: uma média de 14.4 horas! Mas só o fato de jogarem mais não quer dizer que estavam desenvolvendo um vício. Então, outras questões foram levantadas: (1) Como você dormiu? (2) Você continuaria a jogar? e (3) O jogo interferiu nos estudos?
Ainda não dá para dizer que o jogo se tornou necessariamente um vício, mas é espantoso como eles próprios relatam impactos negativos em outros aspectos de suas vidas, e ainda assim, o grupo do MMORPG foi o que mais quis continuar jogando.
Esta é uma área interessante para pesquisas, pois eu já vi gente querendo largar a faculdade porque estava ganhando dinheiro com jogos. Eu mesmo já ganhei alguns prêmios em campeonatos durante a faculdade (e quase deixei de entregar trabalhos por causa deles também…) e também já vi psicólogos com clientes que passam tempo demais no computador. Não sei dizer exatamente porque esses jogos acabam sendo tão viciantes mas sempre lembro de um professor meu dizendo uma vez na sala de aula que “o reforço social é o mais forte nos humanos“, e é justamente esta interação social que os MMORPGs priorizam.
Vou finalizar este post com um vídeo do youtube que tinha visto há muito tempo atrás e acabei lembrando após ler este estudo. Mostra um garoto “viciado” no jogo World of Warcraft (o mais popular MMORPG da atualidade) dizendo que não é viciado e “pode parar quando quiser” e a preocupação da mãe. Em um momento ela até cita o DSM. Acho que vale a pena legendar este vídeo e continuar o assunto em outro post…
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Fonte: Cognitive Daily.