A “Seleção Natural do comportamento”
Tenho três grandes ídolos na esfera científica: Darwin, Sagan e Skinner. E hoje comemora-se 150 anos da publicação do “Origem das Espécies” de Darwin, um livro que mudou radicalmente a biologia, a visão do mundo sobre o homem, e que também serviu de influência sobre Skinner na formulação do comportamento operante. Não sabia? É só fazer as comparações:
A Seleção Natural:
- Diferentes membros de uma espécie vivem em um ambiente.
- Variações entre os indivíduos, por menores que sejam, podem garantir sua reprodução, transmitindo estas variações para sua prole.
- Em pequenos passos, a Seleção Natural “seleciona” as espécies, rejeitando as variações ruins e preservando as boas.
- Por fim, estas variações levam à formação de novas espécies, cada vez mais complexas e com suas especificidades.
O comportamento operante:
- Diferentes comportamentos são emitidos por um indivíduo em seu ambiente.
- Variações entre comportamentos, por menores que sejam, trazem mais reforçadores do que outros, aumentando sua frequência.
- Em pequenos passos, o ambiente “seleciona” os comportamentos, diminuindo os que não trazem reforçadores, e aumentando os que trazem.
- Por fim, o indivíduo possui novos comportamentos, cada vez mais complexo e específico para cada ambiente.
O comportamento operante é um pouco mais complicado que isso, mas a coisa funciona mais ou menos assim. Enfim, recomendo celebrar o dia visitando os posts do tema dos outros Sciencebloggers e assistindo à apresentação de Richard Dawkins sobre o tema: “There is grandeur in this view of life“.
Atualização: o Alessandro, do Olhar Comportamental, também fez um post do assunto: link aqui.
Discussão - 5 comentários
E viva Darwin! =)
Não concordo com algumas de suas colocações sobre a teoria da seleção natural. No item 2, a variabilidade gerada aleatoriamente pode ser que traga algum benefício para o indivíduo (na grande maioria das vezes não traz) e esse benefício pode se refletir em uma maior chance de deixar mais descendentes que outros indíviduos. A questão não reside em a variação permitir ou não a reprodução. No item 3, a seleção natural não seleciona espécies e sim indíviduos. Até porque, grande parte da competição que um indíviduo participar será contra outros de sua própria espécie. Espécie é só uma maneira que nós inventamos para organizar os seres vivos que vemos (tanto que para bactérias e archeas esse conceito não funciona direito). No item 4, você coloca que a evolução leva a uma maior complexibilidade, fato este que não é verdadeiro. Complexibilidade é algo controverso na biologia, por exemplo, uma ameba tem mais genes que humanos. Quem é mais complexo?
Abraços
Sério que a ameba tem mais genes que humanos? Hauha, sabia não. Bom, isso que dá psicólogo querer falar de biologia né?
O item 2 não entendi o que você quis dizer, eu disse que as variações PODEM resultar na reprodução, o mesmo que você.
O item 3 concordo que ele seleciona os indivíduos, mas pelo menos não podemos negar que as espécies existentes hoje foram selecionadas pelo ambiente, então a “idéia geral” está ok. Assim como o ambiente seleciona uma instância específica de comportamento, e em maior escala uma gama de respostas do mesmo.
O termo complexidade é controverso nos 2 contextos, pois um comportamento aparentemente simples, como um choro de uma criança, pode ter inúmeras variáveis controlando e consequências a mantendo, o que acaba sendo muito mais complexo do que aparenta. Como a ameba.
Sobre a complexidade, você coloca que a evolução está sempre promovendo o surgimento de espécies mais complexas, o que é um erro. Existem muitos exemplos de “perda de complexidade”, como insetos sem asas que tiveram ancestrais alados (pulgas), espécies de salamandras que “perderam” o pulmão, peixes cavernícolas cujos olhos se deterioraram e a visão é inexistente. Evolução biológica é, de modo muito resumido, mudança e adaptação, e esses exemplos mostram claramente isso. Abraços.
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“O problema não é inventar. É ser inventado hora após hora e nunca ficar pronta nossa edição convincente.” C.D.Andrade.