Tetristerapia

A Fox News divulgou nos EUA que, segundo pesquisas, o jogo de video game “Tetris” pode diminuir flashbacks de eventos traumáticos. Os mais desavisados poderiam achar que é verdade. Como vi no blog Neurocritic (meu mais novo na lista dos favoritos), a realidade é um pouco diferente, mas nem por isso menos interessante.
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No experimento realizado, 60 pessoas (sem histórico de transtornos mentais, 30 mulheres) assistiram a um clipe de 21 minutos que continha cenas fortes como acidentes de carro e avião, seguido de um intervalo de 30 minutos. Depois da pausa, eram divididos em três condições experimentais: um grupo jogava Tetris por 10 minutos, outro jogava “Pub quiz“, um jogo de perguntas e respostas estilo Show do Milhão, e o último não fazia nada (controle). Depois disso, durante uma semana, os participantes anotavam em um diário a ocorrência de lembranças intrusivas de imagens do vídeo. No final, um teste de memória voluntária foi aplicado.
Os resultados mostraram que aqueles que jogaram Tetris sofreram menos interferência de memórias “traumáticas” involuntárias do que os que não fizeram nada. E os que jogaram o “Pub quiz” sofreram mais! Provavelmente pelo Tetris envolver mais atividade visual e espacial, assim como ver o vídeo, sei lá.
20101116_tetris-img.jpgNa verdade o vídeo não é exatamente traumático por, devido a necessidades éticas, haver um aviso prévio de que serão apresentadas tais imagens (o trauma na vida real ocorre de maneira imprevisível). Além disso, os flashbacks de pessoas com Transtorno do Estresse Pós-Traumático são lembranças que envolvem sensações físicas, é como estar novamente no evento, não apenas lembranças visuais como as observadas no experimento. Portanto, principalmente, nenhum médico está receitando Tetris como disse o noticiário da Fox.
Mas que o experimento é legal, é! Já tenho mais um motivo pra queimar horas do final de semana jogando Starcraft.
ResearchBlogging.org
Emily A. Holmes, Ella L. James, Emma J. Kilford, & Catherine Deeprose (2010). Key Steps in Developing a Cognitive Vaccine against Traumatic Flashbacks: Visuospatial Tetris versus Verbal Pub Quiz PLoS ONE, 5 (11) : 10.1371

Por que os homens fazem sexo e as mulheres fazem amor?

20101111_peases.jpgAntes de começar a falar do livro, gostaria de dizer que estou muito contente em saber que a maioria das pesquisas afirmam que este blog é o melhor blog de psicologia (pausa dramática). Mentira, não é. Nunca houve uma pesquisa dessa, mas quando eu falo assim parece verdade, né?
Bom, sobre o livro: é divertidíssimo. Peguei emprestado da minha namorada e gostei muito! Na verdade ele não é sobre sexo, é sobre as diferenças entre homens e mulheres e suas influências nos relacionamentos. O sexo é só um capítulo. Ao fazer estas explicações os autores relatam exemplos do cotidiano que certamente são familiares a muita gente! Confesso que muitas discussões ocorridas entre eu e minha namorada teriam sido evitadas se tivéssemos lido este livro antes.
No entanto, duas coisas me incomodam no livro e a primeira é o determinismo em suas explicações. É verdade que uma parte de nosso comportamento acontece devido a predisposições biológicas, mas os autores exageram demais nesse tipo de explicação. E aí falam coisas como “os homens não pedem ajuda no trânsito porque sempre foram caçadores e isso é sinal de fracasso”. Sinceramente? Acho isso absurdo. Se os homens pedissem ajuda no trânsito poderíamos simplesmente dizer que “os homens eram caçadores e precisavam da colaboração dos outros para atingir a presa”. É muito fácil inventar uma explicação quando não se tem como comprová-la.
Ainda no determinismo biológico, eles falam muito em como injeções de hormônio no feto vão determinar o que você gosta e não gosta quando cresce, portanto o quanto você é feminino ou masculino, independentemente do seu sexo. Como se as experiências da vida e os fatores culturais não importassem também. O capítulo sobre preferências sexuais é tenebroso.
A outra coisa que me incomodou no livro foi que, para dar mais credibilidade (ou não) à estas explicações, os autores falam que são oriundas de “pesquisas”, “pesquisadores” “cientistas”, entre outros, mas raramente citam de qual pesquisa ou pesquisador essa afirmação veio. Igual eu fiz ali em cima neste post. Eu entendo que o público leigo (povão) não está interessado em conferir as referências bibliográficas, mas não custa nada colocá-las ao final do livro. Pelo menos isso não me deixaria tão desconfiado.
Resumindo: o livro é muito legal, divertido e com exemplos fáceis da gente se identificar. Só aconselho que fiquem com um pé atrás (ou os dois, se possível) quanto às explicações “científicas” apresentadas.
Concluirei com algumas cenas da vida real:
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Amor e paixão: tem diferença?

juno.jpgEscrevi este post mais cedo enquanto participava do X Encontro de Psicologia Comportamental do Centro-Oeste, em Brasília. Embora tenha chegado atrasado e perdido as falas dos profs. Todorov e Maria Martha Hubner, que sou grande fã, pude assistir o prof. João Vicente Marçal em uma palestra interessantíssima sobre “amor e análise do comportamento”.
Entre as várias discussões apresentadas sobre amor, a que mais me chamou atenção foi com relação à diferenciação entre amor e paixão. Acho que cada pessoa relataria diferenças baseada em suas experiências pessoais e uma diferença apontada na apresentação foi a seguinte: ambos indicam um forte poder reforçador do estímulo amado (já dizia Skinner “O que é o Amor se não outro nome para reforçamento positivo?”), no entanto, em termos comportamentais, a paixão tem o efeito de reduzir o valor reforçador de outros estímulos, enquanto que o amor não.
Para esclarecer este conceito, emprestarei o mesmo exemplo utilizado pelo prof. Marçal: a paixão por futebol. Em época de copa do mundo, é comum pessoas assistirem mais jogos, debates, comprarem camisas de seleções, álbum de figurinhas, etc. As outras coisas “perdem sua importância” e alguns até deixam de trabalhar.
Esta paixão é bem semelhante àquela de início de um namoro, principalmente quando se tem o fator novidade ou o estado de privação era muito grande. O amor envolve todas estas relações de reforçamento, mas não necessariamente há perda do valor reforçador das outras atividades. Podemos amar nossa família ou o(a) namorado(a) e ainda assim, quando necessário, fazer uma viagem de negócios ou, quando queremos, sair com os amigos para ver a final de um campeonato de futebol no bar ou com as amigas fazer compras no shopping. Neste caso não há tanta obsessão.
Mesmo assim, são comuns relacionamentos baseados na obsessão, seja por parte de uma só pessoa ou do casal. O que não impede que o relacionamento funcione, mas imagine só: se perder um estímulo agradável já é ruim, imagine então perder o estímulo que é o centro de quase todas suas ações. Em casos extremos, os resultados podem ser assustadores.

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