Paralisia do sono e sexo com fantasmas
Já ouviu falar em “paralisia do sono”? É um fenômeno muito comum para algumas pessoas mas completamente estanho para outras. É um estado em que nosso corpo não está nem acordado e nem dormindo, e aí coisas estranhas podem acontecer.
Quando dormimos, algumas partes do nosso corpo “se desligam” para que a gente não saia andando por aí. No entanto, algumas vezes é possível a pessoa acordar mas o seu corpo não. Muitas vezes a pessoa não acordou completamente e pode ver, por exemplo, seu quarto com influência dos sonhos. É nesse estado que muita gente relata ver vultos, extraterrestres ou espíritos. Na Idade Média era muito comum pessoas relatarem que viam bruxas, espíritos e criaturas malignas. Hoje a tendência é ver extraterrestres. O Gabriel do RnaM fez um ótimo post sobre o assunto.
Curiosamente, nem todo mundo se sente mal nessa situação. Embora uns fiquem bastante ansiosos e, quem sabe por isso, vejam imagens negativas, outros ficam bem relaxados e tiram proveito da situação. Neste link (em inglês) o autor relata que com o tempo aprendeu a “flutuar” nestes momentos de quase-vigília. Algo como uma experiência de estar fora do corpo que muitos pacientes cirúrgicos relatam.
Mas nada que eu já tinha lido se compara à este vídeo (em inglês). A mulher descreve como foi seu encontro sexual com um fantasma. Mas este encontro tem todas as caracteríticas de um episódio de paralisia do sono: foi ao acordar durante a note, não conseguia se mover direito, um peso no peito e nos braços e sensações que encerraram ao acordar. Muito suspeito! Alguem tem alguma explicação melhor para isso?
Os estranhos poderes do efeito placebo
Encontrei este vídeo nas internets e resolvi legendar para compartilhar aqui. Ele mostra alguns fatos sobre o efeito placebo.
Engraçado que o placebo funciona tão bem que muitas pessoas até mesmo ganham a vida com ele, sob o nome disfarçado de homeopatia.
“Embrulhando” crianças autistas
Essa é mais uma para a série “Loucuras da Psiquiatria”: na última edição do Journal of the American Academy of Child & Adolescente Psychiatry (Fev. 2011) foi apresentada uma nota alertando sobre um tratamento ridículo originado da França para crianças autistas, o “Le Packing“. Dá só uma olhada:
Esta suposta terapia consiste em embrulhar o paciente (vestido apenas pelas roupas de baixo ou nus em caso de jovens crianças) várias vezes por semana durante semanas ou meses com toalhas encharcadas de água fria (10ºC à 15ºC). O indivíduo é também enrolado com cobertores para ajudar o corpo a se esquentar em um processo que dura 45 minutos, tempo em que a criança ou adolescente é acompanhada por duas pessoas da equipe.
E se você achou isso ruim, dê uma olhada nas explicações completamente pseudocientíficas:
A suposta meta desta técnica é “permitir a criança a se livrar progressivamente de seus mecanismos de defesa patológicos contra ansiedades arcaicas”, alcançando “uma maior percepção e integração do corpo, e um maior sentimento de confinamento”.
Embora possa parecer absurdo, temos que lembrar que em alguns casos as pessoas com autismo apresentam comportamentos extremamente bizarros, podendo chegar até mesmo à automutilação, levando seus pais (e pesquisadores) a buscar medidas extremas para tentar controlas estes comportamentos.
Não é a primeira vez que se utilizam medidas drásticas para se controlar comportamentos bizarros e me dá medo imaginar que provavelmente esta não será a última. Se você tem alguém assim na sua família, antes de prendê-lo à força ou com sedativos, procure por técnicas comprovadamente mais eficazes.
Vi primeiro no Neuroskeptic.
Amaral D, Rogers SJ, Baron-Cohen S, Bourgeron T, Caffo E, Fombonne E, Fuentes J, Howlin P, Rutter M, Klin A, Volkmar F, Lord C, Minshew N, Nardocci F, Rizzolatti G, Russo S, Scifo R, & van der Gaag RJ (2011). Against le packing: a consensus statement. Journal of the American Academy of Child and Adolescent Psychiatry, 50 (2), 191-2 PMID: 21241956
Comer na frente da TV pode engordar
Existem muitos fatores que influenciam a quantidade de coisa que comemos. Um destes fatores é a lembrança que temos do quanto já comemos, como mostra o caso de H. M., um rapaz com amnésia que sentava para comer uma segunda refeição simplesmente por não se lembrar que já havia comido. Uma nova pesquisa mostrou que comer enquanto se assiste TV pode levar pessoas a comerem uma maior quantidade mais tarde pois ela afetaria a memória de quanto ela já comeu.
Vinte mulheres (peso na média, sem nenhuma dieta específica) passaram 20 minutos de sua manhã consumindo todo lanche que pudessem, incluindo chocolate, batatas fritas e refrigerantes. Metade delas o fez assistindo à um episódio de Friends ou Seinfeld (adoro!) e a outra não. Não havia nenhuma diferença na quantidade de comida que os dois grupos consumiram. Aproximadamente uma hora depois, as mulheres se sentaram para comer um almoço de sanduíches, biscoitos e bolachas. O grupo de mulheres que antes comeram assistindo à TV comeram significativamente mais do que o outro nesta segunda refeição. Além disso, elas também foram menos eficazes em se lembrar do quanto comeram pela manhã. A conclusão dos pesquisadores foi que a televisão afeta nossa memória de quanto comemos, levando-nos a comer mais no futuro.
Uma replicação do experimento foi feita mas dividindo o grupo entre tipos de programas, incluindo programas chatos (competição de boliche – será que é chato assim?), programas tristes (uma cena de Sociedade dos Poetas Mortos) e programas engraçados (um episódio de Friends). O resultado foi o mesmo, mas o tipo de programa não fez diferença.
Até o momento esse efeito só foi demonstrado para as mulheres, pois em um estudo piloto feito com homens, eles trataram o experimento como um oportunidade para comer o máximo possível, atrapalhando os resultados. Um outro delineamento deve ser feito para trabalhar com os homens.
Vi primeiro no British Psychological Society.
Mittal, D., Stevenson, R., Oaten, M., & Miller, L. (2010). Snacking while watching TV impairs food recall and promotes food intake on a later TV free test meal Applied Cognitive Psychology DOI: 10.1002/acp.1760
Algumas polêmicas do DSM-V
Pra quem não sabe, o DSM (Manual Diagnóstico e Estatístico de Transtornos Mentais) é o manual onde estão listados os diversos transtornos psicológicos e suas características. Atualmente ele está na 4ª edição e a 5ª já está em desenvolvimento por algum tempo. Algumas críticas costumam ser levantadas quanto à confiabilidade deste manual e muitas polêmicas têm sido levantadas durante a elaboração da sua 5ª edição.
Eu tenho evitado tocar neste assuno aqui no blog justamente para não levantar polêmicas e não acabar prejudicando ninguém nem nenhuma profissão, mas tenho lido tanta notícia que não dá mais pra passar em branco.
Na edição de janeiro da revista online Wired há uma publicação sobre a oposição de Allen Frances ao modo como o DSM-V tem sido construído. Embora ele seja apenas um de muitos insatisfeitos, o que chama atenção é que além de psiquiatra, ele trabalhou na construção da 4ª edição.
Ele chega a dizer coisas como “Não há definições de doença mental, é tudo porcaria” (“There is no definition of a mental disorder. It’s bullshit,”) e “cometemos erros que tiveram terríveis consequências” (“We made mistakes that had terrible consequences“). Certamente ele se refere a casos como a extensão do transtorno bipolar para crianças, acarretando em um aumento de aproximadamente 40% de diagnósticos do transtorno e prescrição de antipsicóticos para estas crianças, mesmo que muitos dos efeitos destas drogas em cérebros em desenvolvimento sejam desconhecidos e podem levar à obesidade e diabetes. Ele ainda cita que em 2007, Joseph Biederman, um psiquiatra de Harvard que era a favor do diagnóstico de transtorno bipolar infantil, não quis revelar o quanto recebe da Johnson & Johnson, fabricante do medicamento risperdal (risperidona). O aumento de diagnósticos de TDAH então, fica em outro post.
Outra crítica que Frances levanta é o diagnóstico de síndrome de risco à psicose, em que apenas um quarto dos pacientes realmente desenvolveriam a psicose. Segundo ele, nada impede que novos tratamentos (e medicamentos) sejam criados para lucrar em cima desse “risco”.
Em resposta à estas críticas, a APA disse que Allen tem muito orgulho da 4ª edição e que deixará de receber os pagamentos pelos royalties da mesma assim que a nova edição for lançada e isso deve ser considerado ao avaliar suas afirmações. Ao meu ver, ao invés de criticar a personalidade de Allen, a APA deveria publicar os estudos científicos por trás das decisões do DSM-V. O problema é que não existem.
O artigo da Wired fala muito mais profundamente sobre o assunto, inclusive críticas a diagnósticos que eu já fiz muitas vezes no blog e pretendo continuar fazendo. Quem tiver um tempinho de sobra recomendo muito a leitura. Quem não tiver, pelo menos dê uma olhada na tabela que mostra como “do DSM-I ao DSM-V, definições de transtornos mentais têm evoluído com a cultura.”
Fontes:
Advances in the history of psychology
Wired Magazine