Tecnologias na educação: as máquinas de ensinar de Skinner
Muito se fala hoje do poder das novas tecnologias na educação. Assisti há pouco tempo uma psicopedagoga falando sobre o impacto das novas tecnologias no ensino e como os professores devem se adiantar e usar os celulares e notebooks a seu favor na sala de aula. O número de cursos à distância também tem crescido muito, graças à Internet.
Bem bacana mas um questionamento que levanto é: adianta usar as tecnologias para fazer o mesmo que era feito sem ela? De que adianta eu apresentar minha aula no powerpoint da mesma maneira que faziam com o giz? Ou enviar uma lista de exercícios por e-mail que eu poderia entregar ao aluno diretamente na sala de aula?
As novas tecnologias de ensino podem nos ser favoráveis se encontrarmos novas metodologias que não eram possíveis (ou eram mais difíceis de serem aplicadas) sem elas. B. F. Skinner, lá na década de 60, desenvolveu as “máquinas de ensinar”, que junto ao ensino programado, se mostrou muito a frente de seu tempo.
Resumindo brevemente as máquinas eram programadas com vários exercícios que deveriam ser respondidos por cada aluno. Cada resposta correta era corrigida na mesma hora (reforço imediato) e cada aluno resolvia os módulos (grupo de exercícios) em seu tempo. Simples e eficaz. O professor passa a ser um monitor, tirando dúvidas e explicando apenas o necessário para cada módulo. Mas quem melhor para explicar isso do que o próprio Skinner?
Alguns cursos à distância se assemelham com as tarefas divididas em módulos, mas a maioria das escolas de ensino fundamental, médio e superior ainda podem melhorar muito. Sem dúvida hoje está muito mais fácil e barato fazer este tipo de trabalho. Só falta o investimento.
Skinner, B. (1965). Review Lecture: The Technology of Teaching Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 162 (989), 427-443 DOI: 10.1098/rspb.1965.0048
Gatos vs Internet
Muito legal essa tirinha: mostra um gato lutando para conseguir a atenção de seu dono, que não larga a internet.
O gato mia, entra na frente e até monta uma festa pro seu dono. Mas ele só o dá atenção quando o felino arranha o sofá da sala. Da próxima vez o gato irá mais rápido ao que funciona, que é arranhar o sofá.
O mesmo princípio vale para o namorado(a), filho(a) ou aluno(a) que precisa de atenção. Não espere algo dar errado: reforce o comportamento adequado!
Se animais falassem: o comportamento governado por regras
Outro dia estava levando minha gata para passear na casa de um amigo e lembrei de uma aula em que o prof. Simonassi perguntou para nós alunos: “qual a maior vantagem do comportamento governado por regras?” (leigos: pensem em algo como comportamentos influenciados pela fala de outras pessoas, em que seguimos instruções). A resposta era: serve como um atalho na aprendizagem.
Como assim um atalho? Imagine que você está em uma cidade desconhecida procurando a casa de um amigo: você pode tentar entrar em toda rua que vê até eventualmente acertar ou usar um mapa ou seguir as instruções de alguém. Assim você poupa um trabalhão imenso. O mesmo vale aprender a dirigir: a aprendizagem é muito mais rápida quando se tem alguém do lado no início do que irmos somente na experiência própria.
Eu lembrei disso porque estávamos em um apartamento com uma gata de aproximadamente 2 meses. A minha gata (que é irmã da outra, embora provavelmente elas não soubessem disso) chegou lá e logo ficou à vontade no ambiente novo. Já a moradora estava muito ansiosa e, embora muitos dissessem “ela é sua irmã, não precisa ficar assim”, ela continuou apreensiva até a invasora ir embora. Tudo isso seria evitado se ela pudesse nos entender…
Nossa espécie evoluiu rapidamente nos últimos milhares de anos porque de certo modo cada geração continua onde a última parou: aprendemos por regras o que nossos antepassados passaram e a partir daí temos nossas experiências próprias, que por sua vez serão passadas para a próxima geração em forma de regras.
No final da aula perguntei assim “então quer dizer que se de repente uma outra espécie animal, como os macacos, desenvolvesse o comportamento verbal, ela também evoluiria rapidamente como a nossa?” e a resposta do professor foi: “essa é a história do Planeta dos Macacos”. Quanta viagem!