Amor e relacionamento: construindo uma relação a dois
Nas últimas semanas em meu grupo de estudos na graduação discutimos vários textos e artigos relacionados a amor e relações a dois. Como rendeu muito, resolvi fazer um post sobre o assunto. E o próximo também deve seguir este tema!
Falar sobre o amor nunca é fácil, pois na verdade, cada um tem a sua própria explicação do que ele é. O amor é um conjunto de sentimentos internos que só nós mesmos temos acesso. Não dá para a gente saber como uma pessoa apaixonada se sente a não ser quando passamos por uma situação semelhante, mas quem garante que o que eu sinto e chamo de amor é o mesmo que outra pessoa sente?
Vemos alguém fazendo declarações, dando flores e bombons para outra pessoa e aí dizemos: “ele está apaixonado”. Mas será que ele realmente se sente apaixonado? Isso a gente não tem como comprovar. Por isso, no decorrer de nossas vidas, cada um de nós temos diferentes explicações para o que é estar apaixonado (e descrevemos diferentes sensações para o amor), além de termos diferentes “regras” do que se deve fazer quando se está apaixonado.
E quem garante que estas regras estão sempre corretas? A maioria dos relacionamentos amorosos acabam. É só olhar ao seu redor e reparar em quantas pessoas se casaram ou ficou o resto da vida com o primeiro parceiro. Viver a dois não é fácil. Assim como qualquer comportamento, envolve treino. Ninguém aprende a se relacionar de uma hora para a outra, muito menos nasce sabendo. Ainda mais quando duas pessoas têm ideias muito diferentes sobre o que é e o que se deve fazer quando se está apaixonado.
Muitos estudos têm buscado identificar quais são os principais motivos que levam aos conflitos de relacionamentos. Torres e Wielewicki (2009), em um artigo sobre relacionamentos amorosos, apresentam a ideia de Smith (2008) que resume alguns desses pontos, diferenciando o “amor infantil”, que torna difícil uma relação, do “amor adulto”.
Segundo o autor, no amor infantil a pessoa:
- Vê o outro como extensão de si mesmo;
- Apresenta medo do abandono;
- Necessita de constante reforço para sentir/saber que é amada;
- Tem comportamentos de dependência com relação aos outros a fim de satisfazer suas necessidades físicas e emocionais;
- Demonstra grande dificuldade em controlar comportamentos relacionados às suas emoções;
- Precisa, frequentemente, de comportamentos que denotam certezas;
- Sente que inexiste fora da presença da pessoa amada;
- Vive apenas o momento; Vê-se como o centro do universo;
- Apresenta comportamentos de medo com relação às mudanças e comportamentos de esquiva ao esforço excessivo para fazê-las;
- Lança mão de quaisquer comportamentos para não perder seu relacionamen-to, optando até por perder a si mesmo, e
- Suas necessidades são consideradas imediatas e desesperadas.
Segundo as autoras, ser adulto em uma relação envolve principalmente autoconhecimento e conhecimento do outro. Deste modo fica mais fácil identificar o que você pode fazer para produzir consequências reforçadoras para os dois. Smith (2008) demonstra que no amor adulto a pessoa:
- Contempla suas necessidades sob uma perspectiva adequada e comporta-se na direção de satisfazê-las;
- Considera-se inteira como é, não dependendo, dessa forma, de outra pessoa para deixá-la completa;
- Sente-se emocionalmente segura e assim consegue tolerar/aceitar sentimentos de tristeza e ansiedade (por exemplo), sem se deixar consumir por eles;
- Identifica/observa que é amada e não precisa procurar comportamentos na outra pessoa que possam provar isso;
- Sente-se capaz de avaliar as situações e fazer julgamentos baseados em dados de realidade, além de buscar atitudes saudáveis no que se refere à satisfazer suas necessidades;
- Aceita comportamentos de imperfeição em si mesmo e nos outros e não se sente humilhada ou temerosa quando comete erros;
- Assume atitudes de responsabilidade por sua vida, porém, discrimina que não pode controlar tudo que acontece;
- Sente-se completa em si;
- Planeja o futuro enquanto vive o momento (aprendeu com o passado);
- Possui a habilidade de lidar com a empatia, o sentimento de culpa e a flexibilidade para mudança;
- Discrimina que ir além de sua zona de conforto é reforçador e essencial para o seu bem-estar geral;
- Consegue aceitar a perda, todavia, nunca a de si mesmo.
As autoras do artigo completam a ideia de Smith trazendo algumas habilidades necessárias para manter um bom relacionamento, que são: Ser empático, ou seja, compreender e sentir o que o outro pensa e sente; Ser flexível, ou conceder ao outro sem que isso seja desagradável para si; e habilidade de dar suporte emocional – poder se doar, de tolerar e compreender o outro.
O mais interessante de se estudar o amor é que sempre acabamos pensando em nossa própria vida e nossos próprios relacionamentos. Com o que eu escrevi aqui já dá para fazermos boas reflexões, mas se você quiser ler o artigo na íntegra, é só seguir o link a seguir.
Torres, N. & Wielewicki M. G. (2009). Aprendendo a construir uma relação a dois: repertório do casal, em Wielenska R. C. (org.) Sobre Comportamento e Cognição: Vol. 24. desafios, soluções e questionamentos (1ª ed., pp. 240-248), Santo André: Esetec.