O “pingue-pongue” de pombos
E mais uma vez a Análise do Comportamento foi citada em The Big Bang Theory (The Focus Attenuation, S08E05)!
No episódio, os protagonistas estão tentando iniciar um novo projeto científico mas têm dificuldades para se concentrar. Para resolver o problema, Sheldon sugere o uso de técnicas de condicionamento operante (que Howard chama de “modificação de comportamento”, um termo ultrapassado, utilizado lá nas décadas de 50 e 60).
Sheldon cita que estas técnicas foram usadas para ensinar pombos a jogar pingue-pongue, o que é verdade e pode ser visto no video a seguir:
[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=MFC62xcOQuQ”]
E isso não é nada, Skinner também chegou a treinar pombos para guiar mísseis para a 2ª Guerra Mundial, escrevi um post sobre isso aqui no ano passado, e aqui você pode ver um vídeo dos pombos em treinamento.
Como as drogas interferem na percepção do tempo
Este vídeo incrível da BBC mostra dois ratinhos sob efeitos de diferentes drogas e como elas interferem na realização de uma tarefa. O objetivo dos pesquisadores era investigar como a droga interfere na percepção temporal do rato.
O experimento é bem simples: primeiro os ratos são treinados a pressionar uma barra após exatos 12 segundos, ganhando assim uma porçãozinha de comida. Para o teste realizado, um rato foi injetado com substâncias da maconha, outro com cocaína e um terceiro com salina (que não produz efeito nenhum).
O rato injetado com salina continuou fazendo o mesmo trabalho de sempre, pressionando a barra a cada 12 segundos. O injetado com cocaína, além de ter ficado um pouco hiperativo, pressionou a barra com apenas 8 segundos. E o rato injetado com a maconha pressionou a barra só após 16s.
Agora falta distinguir se o rato demorou para pressionar a barra porque teve a percepção do tempo alterada ou porque esqueceu o que tinha que fazer!
O ataque dos pombos assassinos
Dá só uma olhada nessa notícia que O Estadão publicou essa semana:
Três golfinhos treinados pelas forças especiais da Ucrânia para desarmar minas e assassinar mergulhadores inimigos fugiram da base naval de Sebastopol. Em suas missões, os amáveis cetáceos carregam facas e armas de fogo – não está claro se os “fugitivos” estavam com o armamento. Os golfinhos teriam saído a procura de pares para acasalar.
Incrível não? Até parece mentira… e é. Ela foi desmentida dois dias depois (apesar de que, segundo este site, o exército ucraniano, russo e americano treinam golfinhos e outros animais marítimos para fins militares).
E esta nem é a primeira vez em que animais são treinados para fins militares. Na Rússia, desde 1930, cães “suicidas” foram treinados a correr em direção a tanques carregando minas e foram usados contra os alemães na IIª Guerra Mundial. O treino nem era tão complicado: eles deixavam o cão privado de alimento (ou seja, com fome) e colocavam comida debaixo de tanques. Deste modo, quando o cão estivesse com fome e visse algo parecido com um tanque, corria para debaixo dele, mesmo com uma mina de 10kg nas costas. Outros países tentaram usar procedimentos semelhantes usando cachorros mas nem sempre com o mesmo sucesso.
Ainda na 2ª Guerra, um outro projeto quase foi colocado em prática: o “Project Pigeon“, ou Projeto Pombo.
Encabeçado por B. F. Skinner, o pai do Behaviorismo Radical, o projeto envolvia mísseis guiados por pombos. O sistema de controle funcionava mais ou menos assim: na frente dos mísseis uma lente projetava a imagem de fora em uma tela e o pombo era treinado a bicar em um alvo nesta tela (por exemplo, um tanque ou um navio). Se o pombo bicasse no centro da tela, o míssil seguia reto, e bicadas fora do centro faziam a tela se mover, fazendo o míssil mudar de direção.
Skinner recebeu fundos para seu projeto (U$25,000) e até conseguiu algum sucesso, mas sua ideia foi considerada excêntrica demais, e o projeto nunca foi colocado em prática.
Se você ficou curioso ou acha que estou mentindo, assista neste link um vídeo dos pombos em treinamento.
Transtorno Obsessivo-Compulsivo: a visão comportamental
Acabei de publicar no Youtube este vídeo do programa TBC News sobre Transtorno Obsessivo Compulsivo com a participação da Profª Drª Ilma Britto (PUC-GO). O programa, voltado para o público leigo, traz algumas informações interessantes sobre o transtorno, mas o que chama mesmo a atenção é o contraste entre a visão da psiquiatra clássica e da Análise do Comportamento.
[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=GqgL_qg6G0k”]
A visão da Análise do Comportamento não desconsidera a influência hereditária nem os desequilíbrios químicos cerebrais dos transtornos. Ela complementa esta visão explicando os comportamentos-problema dos transtornos (neste caso as obsessões e compulsões, que seriam os “sintomas” para a psiquiatria) da mesma maneira que explica outros comportamentos ditos normais. Todo comportamento pode ser analisado de acordo com seu ambiente.
Deste modo, a AC se diferencia da psiquiatria por não tratar os transtornos mentais apenas como “doenças” incontroláveis, mas sim como comportamentos que são passíveis de serem analisados e modificados como quaisquer outros. Parece uma visão estranha à primeira vista, mas ela têm produzido bons resultados, e até o psiquiatra disse ao final do programa que recomenda a seus pacientes buscarem a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental).
Procrastinação: por que deixamos tudo para última hora?
O vídeo a seguir mostra uma entrevista feita com o prof. Roberto Banaco no programa “Sem Censura” da TV Brasil, cujo tema é a procrastinação – a arte de deixar para fazer as coisas na última hora.
Para quem não o conhece, o Prof. Banaco é um dos grandes nomes da Análise do Comportamento no Brasil e recentemente foi destacado como estando entre os “dezoito renomados profissionais da cidade de São Paulo” em reportagem da Revista Veja São Paulo.
É suborno presentear um bom aluno?
Imagino que essa dúvida passe pela cabeça de muitos pais e professores: eu posso dar estrelas ou presentes para o bom aluno? Será que desta maneira eu não estaria “subornando” a criança e ensinando ela a se comportar só para ganhar presentes? A resposta é fácil: sim, você pode presentar o bom aluno, mas com certas ressalvas, que explicarei a seguir.
A criança pode até gostar de ir à escola, mas ela gosta muito mais da hora do recreio e de brincar com os amigos do que de ter que aprender cálculos matemáticos e regras gramaticais. A prática de se “presentear” os bons alunos com estrelas, pontos, ou coisa parecida funciona porque isto serve como um incentivo (nos termos da análise do comportamento, serve como um reforçador arbitrário).
Este reforço acaba fazendo com que a criança continue estudando e se sinta estimulada. No entanto, no “mundo real”, ela não vai ganhar sempre estrela e o pai não terá dinheiro infinito para presenteá-la após todo bom comportamento. É por isso que é necessário que a criança, ao estudar, fique sob controle dos reforçadores naturais deste comportamento.
Reforçadores naturais são aqueles naturalmente presentes no ambiente da pessoa. No caso da criança, o reforçamento natural ocorre quando ela consegue ler sozinha um gibi, calcular o dinheiro do lanche, etc. Quanto estes reforçadores passam a fazer efeito, ela não precisa mais dos arbitrários.
Mas isso não vale só para as crianças, mas também para nós: você gosta do seu trabalho ou está somente sob controle de reforçadores arbitrários (como o dinheiro)? Se você não se sente bem no seu dia-a-dia, a resposta pode estar nos reforçadores que o controlam (ou na falta deles)…
Teorias na psicologia: quanto mais complexas melhor?
Infelizmente esse quadrinho mostra uma realidade nos cursos de psicologia. Vemos alguns autores que escrevem muito sobre nada e acabam sendo reverenciados, como se ser mais complexo o fizesse ser mais verdadeiro.
Acredito que o que falta é conhecimento da ciência em geral: um dos objetivos da ciência é explicar como as coisas funcionam (ou por que as pessoas fazem as coisas que elas fazem) buscando regularidades. Estas regularidades tornam um fenômeno mais fácil de ser compreendido, pois quando conhecemos a lei que o governa podemos prever quando e como este fenômeno ocorrerá novamente, assim como eu sei que se eu soltar uma bola no ar ela vai cair no chão por causa da lei da gravidade. Isso simplifica as coisas para nós.
Conhecendo as “leis” que governam o comportamento humano (como as leis do reflexo, do reforço, da extinção, etc) eu posso, a partir delas, compreender e modificar o comportamento.
Ou seja, a ciência do comportamento simplifica estes fenômenos explicando-os em leis que nos facilitam a compreender e agir sobre as pessoas. E facilita a tal ponto que eu sou capaz de explicá-las para amigos, colegas, clientes, alunos e leitores deste blog – a ciência deve ser acessível.
Se uma teoria é complexa a ponto de, para eu aprender o básico dela, eu precisar quebrar a cabeça, ler dezenas de livros e confiar mais na autoridade de quem a criou do que nos resultados promovidos por ela, então sinto muito, não é uma boa teoria.
Análise do Comportamento e Psicopatologia
Este vídeo tem sido compartilhado pela internet e eu o recomendo bastante, tanto para leigos quanto para estudantes de psicologia. Nele a Profª Drª Maura Alves Nunes Gongora (UEL) fala sobre Análise do Comportamento e esclarece algumas dúvidas comuns como: qual a diferença do trabalho do psiquiatra e do psicólogo? Qual o papel da bioquímica nos nossos comportamentos? Como a Análise do Comportamento explica problemas clínicos?
O nascimento de uma palavra
O ser humano, assim como vários outros animais, é especialista em imitar os outros. A imitação é fundamental para a existência de uma cultura, e foi tão importante em nossa evolução que hoje vemos claramente como uns imitam os outros (quem tem filhos ou irmãos mais novos sabe bem do que estou falando).
Quando bebês, não conseguimos falar nem andar, mas fazemos um grande esforço para imitar nossos modelos, geralmente nossos pais. Nesta tentativa emitimos diferentes comportamentos que podem não chegar perto do comportamento-alvo, mas aí outro processo de aprendizagem entra em campo: a modelagem.
O bebê fala “a-a”, “ba-ba”, “ga-ga” e outras sílabas sem sentido, mas quando sem querer ele diz “ma-ma” a mãe tem uma reação diferente. Ela sorri e responde “isso mesmo, mamae!”, brinca com ele e chama todo mundo para ver a nova palavra que seu filho aprendeu a dizer. Isso é reforçar a resposta de dizer “mama”. É a modelagem de comportamento acontecendo.
Isso é o que a teoria diz e nós conseguimos imaginar alguns exemplos a partir do nosso dia-a-dia, mas imagine se pudéssemos ver isso acontecendo na prática. O pesquisador do MIT Deb Roy, pensando nisso, instalou câmeras em toda sua casa e filmou as interações de seu filho bebê por 3 anos seguidos.
Cinco anos depois, ele tem dados incríveis sobre a modelagem do comportamento verbal, como o “gaga” de seu filho se transformando em “water” e outras palavras. Além disso, seus dados também mostram em que cômodos da casa as palavras mais foram ditas, mostrando o contexto em que elas ocorrem. Genial!
Para entender um pouco mais, recomendo assistir à sua apresentação no TED (se o vídeo não abrir aqui, clique no link):
Surdos “sentem a música” e aprendem a ser djs
Uma das coisas que aprendi com B. F. Skinner foi que não existe “talento inato” – tudo que fazemos são comportamentos e, como tal, podem ser treinados. Podemos achar que Ronaldinho Gaúcho nasceu com o talento para jogar futebol mas com certeza ele só apresenta este talento de hoje porque em sua história de vida ele deve ter tido muito mais experiências com futebol do que eu, e por isso joga bem melhor do que eu.
O mesmo raciocínio vale para qualquer outro comportamento. Cada pessoa, em sua história, teve mais ou menos experiências com diferentes habilidades. Já vi gente desistindo de fazer arquitetura ou design por “não saber desenhar”. Mas desenhar é um comportamento, portanto pode ser treinado e desenvolvido. Embora herdemos genes de nossos antepassados (e eles podem nos ajudar ou atrapalhar), eles não determinam nossos comportamentos.
Estou falando disso por causa deste vídeo que encontrei, sobre uma escola de djs para deficientes auditivos:
[youtube_sc url=http://www.youtube.com/watch?v=f4o30C7X8aQ]
Incrível! Embora estes alunos possuam suas deficiências auditivas, isso não os impede de trabalhar com a música, somente altera as condições necessárias para isso. A professora então busca maneiras de adaptar o conteúdo ao aluno, facilitando a sua aprendizagem: ela estimula os outros sentidos, que são o tato (com a vibração da caixa de som) e a visão (com o software de áudio).
Este é só um exemplo de como, se nos esforçarmos, podemos fazer o que quisermos. Ah se todos os professores tivessem essa dedicação…
“Se soubermos que um indivíduo tem certas limitações inerentes, poderemos usar mais inteligentemente nossas técnicas de controle, mas não podemos alterar o fator genético.” – B. F. Skinner, em Ciência e Comportamento Humano (1953)