É suborno presentear um bom aluno?
Imagino que essa dúvida passe pela cabeça de muitos pais e professores: eu posso dar estrelas ou presentes para o bom aluno? Será que desta maneira eu não estaria “subornando” a criança e ensinando ela a se comportar só para ganhar presentes? A resposta é fácil: sim, você pode presentar o bom aluno, mas com certas ressalvas, que explicarei a seguir.
A criança pode até gostar de ir à escola, mas ela gosta muito mais da hora do recreio e de brincar com os amigos do que de ter que aprender cálculos matemáticos e regras gramaticais. A prática de se “presentear” os bons alunos com estrelas, pontos, ou coisa parecida funciona porque isto serve como um incentivo (nos termos da análise do comportamento, serve como um reforçador arbitrário).
Este reforço acaba fazendo com que a criança continue estudando e se sinta estimulada. No entanto, no “mundo real”, ela não vai ganhar sempre estrela e o pai não terá dinheiro infinito para presenteá-la após todo bom comportamento. É por isso que é necessário que a criança, ao estudar, fique sob controle dos reforçadores naturais deste comportamento.
Reforçadores naturais são aqueles naturalmente presentes no ambiente da pessoa. No caso da criança, o reforçamento natural ocorre quando ela consegue ler sozinha um gibi, calcular o dinheiro do lanche, etc. Quanto estes reforçadores passam a fazer efeito, ela não precisa mais dos arbitrários.
Mas isso não vale só para as crianças, mas também para nós: você gosta do seu trabalho ou está somente sob controle de reforçadores arbitrários (como o dinheiro)? Se você não se sente bem no seu dia-a-dia, a resposta pode estar nos reforçadores que o controlam (ou na falta deles)…
O nascimento de uma palavra
O ser humano, assim como vários outros animais, é especialista em imitar os outros. A imitação é fundamental para a existência de uma cultura, e foi tão importante em nossa evolução que hoje vemos claramente como uns imitam os outros (quem tem filhos ou irmãos mais novos sabe bem do que estou falando).
Quando bebês, não conseguimos falar nem andar, mas fazemos um grande esforço para imitar nossos modelos, geralmente nossos pais. Nesta tentativa emitimos diferentes comportamentos que podem não chegar perto do comportamento-alvo, mas aí outro processo de aprendizagem entra em campo: a modelagem.
O bebê fala “a-a”, “ba-ba”, “ga-ga” e outras sílabas sem sentido, mas quando sem querer ele diz “ma-ma” a mãe tem uma reação diferente. Ela sorri e responde “isso mesmo, mamae!”, brinca com ele e chama todo mundo para ver a nova palavra que seu filho aprendeu a dizer. Isso é reforçar a resposta de dizer “mama”. É a modelagem de comportamento acontecendo.
Isso é o que a teoria diz e nós conseguimos imaginar alguns exemplos a partir do nosso dia-a-dia, mas imagine se pudéssemos ver isso acontecendo na prática. O pesquisador do MIT Deb Roy, pensando nisso, instalou câmeras em toda sua casa e filmou as interações de seu filho bebê por 3 anos seguidos.
Cinco anos depois, ele tem dados incríveis sobre a modelagem do comportamento verbal, como o “gaga” de seu filho se transformando em “water” e outras palavras. Além disso, seus dados também mostram em que cômodos da casa as palavras mais foram ditas, mostrando o contexto em que elas ocorrem. Genial!
Para entender um pouco mais, recomendo assistir à sua apresentação no TED (se o vídeo não abrir aqui, clique no link):
Tecnologias na educação: as máquinas de ensinar de Skinner
Muito se fala hoje do poder das novas tecnologias na educação. Assisti há pouco tempo uma psicopedagoga falando sobre o impacto das novas tecnologias no ensino e como os professores devem se adiantar e usar os celulares e notebooks a seu favor na sala de aula. O número de cursos à distância também tem crescido muito, graças à Internet.
Bem bacana mas um questionamento que levanto é: adianta usar as tecnologias para fazer o mesmo que era feito sem ela? De que adianta eu apresentar minha aula no powerpoint da mesma maneira que faziam com o giz? Ou enviar uma lista de exercícios por e-mail que eu poderia entregar ao aluno diretamente na sala de aula?
As novas tecnologias de ensino podem nos ser favoráveis se encontrarmos novas metodologias que não eram possíveis (ou eram mais difíceis de serem aplicadas) sem elas. B. F. Skinner, lá na década de 60, desenvolveu as “máquinas de ensinar”, que junto ao ensino programado, se mostrou muito a frente de seu tempo.
Resumindo brevemente as máquinas eram programadas com vários exercícios que deveriam ser respondidos por cada aluno. Cada resposta correta era corrigida na mesma hora (reforço imediato) e cada aluno resolvia os módulos (grupo de exercícios) em seu tempo. Simples e eficaz. O professor passa a ser um monitor, tirando dúvidas e explicando apenas o necessário para cada módulo. Mas quem melhor para explicar isso do que o próprio Skinner?
Alguns cursos à distância se assemelham com as tarefas divididas em módulos, mas a maioria das escolas de ensino fundamental, médio e superior ainda podem melhorar muito. Sem dúvida hoje está muito mais fácil e barato fazer este tipo de trabalho. Só falta o investimento.
Skinner, B. (1965). Review Lecture: The Technology of Teaching Proceedings of the Royal Society B: Biological Sciences, 162 (989), 427-443 DOI: 10.1098/rspb.1965.0048
Educar com ou sem palmadas?
Uma notícia meio que virou polêmica nos últimos dois dias no Jornal Hoje: um projeto de lei que visa proibir as chamadas “palmadas educativas”. Vários profissionais deram suas opiniões no programa e, insatisfeito com todas elas, resolvi agora dar a minha.
Primeiro a pergunta clássica: palmadas funcionam? A resposta é sim. Mas não como os pais esperam. Gritos, palmadas e castigos são diferentes tipos de punição, que exercem bem sua função que é suprimir um certo comportamento indesejado da criança. Mas estas punições também tem efeitos colaterais como a eliciação de respostas emocionais negativas na criança, a supressão de outros comportamentos, o próprio punidor passa a ser visto como algo ruim, além de que a criança pode querer continuar a fazer coisas que o punidor não deixa, talvez até pelo simples ato de desafiar.
Ou seja, a criança não aprende nada, só que o punidor é um chato, que deve temê-lo e que o comportamento inadequado deve ser feito às escondidas. Daí de quem é a culpa quando o garoto cresce e foge de casa pra usar drogas?
Punimos tanto no dia a dia porque para nós ela parece funcionar a curto prazo: uma palmada faz sim com que a criança pare aquele comportamento indesejado. Mas só a punição não dá certo a longo prazo.
As pessoas estão vendo o problema pelo ângulo errado: a melhor maneira de se educar uma criança não é controlando o comportamento indesejado, mas sim o desejado. Ao invés de punir quando ela faz algo errado, tente reforçar aquele adequado. Quando a criança está quieta, brinca com os amigos ou faz a tarefa, os pais (e professores) devem parabenizá-la, reconhecer o trabalho bem feito, mostrar carinho, ou seja, sinalizá-la que aquele é o comportamento correto que, a longo prazo, ele certamente aumentará de frequência. Quando os comportamentos adequados aumentam de frequência sobra menos tempo para os inadequados ocorrerem.
Sim, a solução é simples assim, mas infelizmente parece que a maioria das pessoas estão acostumadas a usar apenas punição. Tanto que agora o governo quer simplesmente punir os pais que usam da força, mas planejar campanhas, cursos e workshops sobre como melhorar educação para os filhos ninguém quer fazer.
Para pais, psicólogos e curiosos recomendo a leitura: Eduque com Carinho, de Lidia Weber