O estranho caso da mulher sem cerebelo

Uma chinesa de 24 anos recentemente foi ao hospital reclamando de tontura e náuseas. Quando os médicos fizeram exames de imagem se depararam com uma surpresa: o cérebro dela estava faltando o cerebelo!

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O cerebelo é uma região significativa do cérebero, importante para o controle motor e algumas funções cognitivas. Na figura acima, o cérebro da mulher está a esquerda, e um cérebro normal a direita.

A paciente em questão relatou ter tido alguns problemas de coordenação complexa. Ela também só começou a falar aos 6 anos e a andar aos 7. O fato dela ter sobrevivido tanto tempo mostra como o nosso cérebro é adaptável. Em muitos casos de lesões cerebrais, outras áreas do cérebro, com o tempo, “assumem” as funções da área lesionada (ou no caso dela, da área faltando).

A chinesa é uma de nove pacientes conhecidos na história que sobreviveram sem o cerebelo. E o prognóstico é nebuloso, já que algumas pesquisas apontam que pessoas com esta condição tendem a morrer jovens.

***Editado às 23:20, 11/09:

Complementando, o artigo original do caso pode ser lido aqui.

É bem conhecido que o cérebro tem essa capacidade de plasticidade neural, é importante lembrar que em alguns casos graves de epilepsia na infância são tratados com a remoção (ou a desconexão) de um lado inteiro do cérebro. Isso só é possível em crianças pois durante o desenvolvimento o hemisfério restante “assume” as funções que seriam do outro.

Outra história semelhante é a da cientista Jill Taylor que teve um AVC, perdeu várias funções motoras e as recuperou a ponto de escrever um livro sobre sua história. Uma palestra dela está disponível no Youtube.

Artigo original do caso: link
Vi primeiro no Gizmodo.

Como as drogas interferem na percepção do tempo

Este vídeo incrível da BBC mostra dois ratinhos sob efeitos de diferentes drogas e como elas interferem na realização de uma tarefa. O objetivo dos pesquisadores era investigar como a droga interfere na percepção temporal do rato.

O experimento é bem simples: primeiro os ratos são treinados a pressionar uma barra após exatos 12 segundos, ganhando assim uma porçãozinha de comida. Para o teste realizado, um rato foi injetado com substâncias da maconha, outro com cocaína e um terceiro com salina (que não produz efeito nenhum).

O rato injetado com salina continuou fazendo o mesmo trabalho de sempre, pressionando a barra a cada 12 segundos. O injetado com cocaína, além de ter ficado um pouco hiperativo, pressionou a barra com apenas 8 segundos. E o rato injetado com a maconha pressionou a barra só após 16s.

Agora falta distinguir se o rato demorou para pressionar a barra porque teve a percepção do tempo alterada ou porque esqueceu o que tinha que fazer!

Como funciona o cérebro

Neste pequeno vídeo de 6 minutos o neurocientista Greg Gage nos mostra como funciona a eletricidade que percorre nosso cérebro e células nervosas, usando como exemplo uma perna de barata (que ele arranca na hora)!

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Simples, interessante e educativo!

“Novela da vida real” – como lidar com um paciente de saúde mental?

Acabaram de me enviar este vídeo de um caso do programa “Polícia 24 Horas” que mostra uma mulher bastante confusa em sua casa, denunciada por um vizinho:

[youtube_sc url=”http://youtu.be/QijbU97UX98″ fs=”1″]

Eu achei o vídeo interessantíssimo, e, embora uns podem o achar engraçado, a graça passa quando a gente se coloca no lugar da família – imagine como é viver nesta casa. Daí o vizinho diz que ela maltrata os filhos (sem nem imaginar porquê), a mãe diz que ela tem depressão e quando surta fica assim e o policial diz que ela teve cinco depressões pós-parto (???).

Não dá pra gente dizer o que ela tem porque esse é só um pequeníssimo recorte da vida dela, mas um discurso confuso desse não é característico da depressão. De qualquer maneira, dar diagnóstico não é meu objetivo aqui (e nem seria possível).

O que me chamou mais atenção nesse vídeo é algo que pessoas que trabalham em saúde mental vêem com frequência: o despreparo da comunidade em lidar com pessoas com transtornos mentais. A mãe da paciente não sabe dizer ao certo o que a filha tem, não consegue ajudá-la a seguir o tratamento e diz ter dificuldade em lidar com seus surtos. As filhas aparentam estar amedrontadas frente à mãe (talvez por terem sido maltratadas antes) e o policial fala com base em ameaças como “eu não quero voltar aqui” e “você vai perder a guarda dos seus filhos”. Tudo que uma mãe quer ouvir durante um surto.

Mas o policial não tem culpa, nem a família dela. Não é culpa nossa se temos tão pouco investimento na área da saúde. Menos ainda na área da prevenção, pois uma família treinada para lidar com uma pessoa com um transtorno mental evitaria muitas dores de cabeça e quem sabe até algumas internações.

* tinha acabado de escrever este post e lembrei de alguns relatos de pessoas que trabalham em CAPS, dizendo que a presença em atividades voltadas à família, como palestras e orientações é quase inexistente. Oh well…

Como aumentar a serotonina do cérebro sem drogas

A serotonina é uma das principais substâncias químicas presentes em nosso cérebro. Sabemos hoje que ela tem um papel importante na regulação do humor e por isso o tratamento farmacológico para a depressão e outros transtornos psicológicos costuma envolver modificar os níveis serotoninérgicos.

Mas não seria melhor para nós prevenir a depressão do que esperar chegar ao fundo do poço para começar um tratamento? Enquanto não temos vacinas ou medicamentos preventivos, existem algumas atividades que parecem aumentar os níveis de serotonina no nosso cérebro:

  1. Pensar positivo – Estudos estão sendo feitos para verificar como nossos pensamentos influenciam o metabolismo do nosso cérebro. No entanto, não é novidade que a psicoterapia, por exemplo, pode alterar este metabolismo. Tente ver o lado bom das coisas (e pessoas) ao seu redor e não focar somente nos problemas.
  2. Sair de casa – Se expor à luz do sol pode fazer nosso corpo produzir mais serotonina. Curiosamente, em análises post mortem, os níveis de serotonina de pessoas que morreram no verão costumam ser maiores dos que os que morreram no inverno. Sair de casa também acaba sendo uma boa oportunidade para se engajar em novas atividades e conhecer mais pessoas.
  3. Praticar exercícios físicos – Sabe-se que praticar exercícios regularmente tem um efeito antidepressivo e ansiolítico. Os melhores resultados são vistos quando a pessoa está acostumada a fazer exercícios aeróbicos, ou seja, os resultados não vêm da noite para o dia.
  4. Mudar sua dieta – Algumas substâncias podem melhorar o nosso humor no dia-a-dia, como o triptofano e a α-Lactoalbumina (presente no leite). Além disso, uma boa alimentação poderá te fazer se sentir melhor e melhorar a autoestima.



Essas dicas não são novas, mas acho legal ver um artigo sério demonstrando estas afirmações através de referências científicas. Costumo sempre dizer que nenhum comportamento vem “do nada”, portanto, se a pessoa está deprimida ou simplesmente um pouco triste, é importante rever os aspectos do seu dia-a-dia para encontrar as fontes dessa tristeza. Ninguém consegue mudar o que sente sem mudar o que faz.

ResearchBlogging.orgYoung SN (2007). How to increase serotonin in the human brain without drugs. Journal of psychiatry & neuroscience : JPN, 32 (6), 394-9 PMID: 18043762

Cérebro humano perde bilhões de neurônios em nova análise

Nós humanos, sempre nos achando muito especiais, acreditávamos que tínhamos aproximadamente 100 bilhões de neurônios em nosso cérebro. No entanto, uma nova pesquisa liderada por Suzana Herculano-Houzel acabou de diminuir este número para 86 bilhões.

Cérebro humano

14 bilhões de neurônios a menos pode parecer pouco, mas é o equivalente ao cérebro de um babuíno.

“Para chegar a esse número, os pesquisadores utilizaram 4 cérebros de homens com idades de 50, 51, 54 e 71 anos. O método envolveu dissolver as membranas celulares das células nervosas, criando uma mistura homogênea. Pega-se então uma amostra da sopa e conta-se o numero de núcleos celulares neuronais e cria-se uma estimativa para o número total.”

Na verdade, esta diminuição não que dizer que estejamos “mais burros”. Quando nos referimos ao cérebro, tamanho não é documento: o cérebro de uma baleia, por exemplo, possui 200 bilhões células nervosas e pesa 9kg.

O que realmente importa é a complexidade do cérebro e a forma como estas células se interagem. Saber que nós humanos somos capazes de fazer tanta coisa como ir até a Lua com 14 bilhões de neurônios a menos do que acreditávamos ter me faz sentir ainda mais inteligente!

Fonte: The Guardian

Enxergando o que o cérebro vê

Esta pesquisa deve ser uma das que mais me impressionou no ano: um grupo de Berkeley reconstruiu vídeos a partir da atividade neuronal de uma pessoa!

Eles apresentavam aos seus sujeitos algumas horas de vídeos aleatórios enquanto uma máquina de RMf (ressonância magnética funcional) monitorava suas atividades cerebrais usando a técnica inovadora dos pesquisadores.

Depois que o aparelho já tinha montado um conjunto de informações sobre o cérebro do sujeito, era apresentado a ele um novo vídeo do Youtube (que ele não havia visto antes) e a partir da atividade cerebral a máquina tentava reconstruir o vídeo. E não é que o resultado ficou parecido?

Clique aqui para ver o resultado de outros três sujeitos.

É claro que não ficou perfeito, mas temos que lembrar que é uma técnica nova e este é só um primeiro passo. O autor do artigo ainda comenta que este método poderá um dia ser usado para assistirmos o sonho ou as alucinações de alguém. Medo!

Eu me pergunto quando poderemos fazer o contrário: enviar sinais elétricos e fazer com que a pessoa veja algo. Quem sabe os filmes e games do futuro não serão assim?

Vi primeiro no Neurobonkers.

ResearchBlogging.orgNishimoto S, Vu AT, Naselaris T, Benjamini Y, Yu B, & Gallant JL (2011). Reconstructing Visual Experiences from Brain Activity Evoked by Natural Movies. Current biology : CB PMID: 21945275

Um ode ao cérebro

Este é o nono vídeo do Symphony of Science, que cria músicas e vídeos baseados em falas e palestras de vários cientistas famosos. Este episódio é dedicado ao cérebro e inclue a participação de Carl Sagan, Robert Winston, Vilayanur Ramachandran, Jill Taylor, Bill Nye e Oliver Sacks.

Um pouco sobre os cientistas (que eu conheço) para você ler enquanto o vídeo carrega:

  • Pessoalmente sou grande fã do Carl Sagan, recomendo muitíssimo a quem não o conhece ler o livro “O mundo assombrado por demônios“.
  • O Ramachandran eu conheci no TED Talks, e gostei bastante de suas apresentações.
  • Jill Taylor é “a cientista que curou seu próprio cérebro“, ela sofreu um AVC seríssimo e recuperou para contar a história em um livro que comentei aqui.
  • Por fim, Oliver Sacks é o neurocientista autor de vários livros interessantíssimos que contam histórias de seus pacientes, como um caso que comentei aqui.
  • Além disso, um de seus livros virou filme: Tempo de Despertar, que confesso que me deixou com uma lagrimazinha no olho!

Com esse elenco sensacional, é claro que o vídeo é divertidíssimo! A mp3 está disponível no site do Symphony of Science.

Viajando na máquina de Ressonância Magnética

20100823_mushroom.jpg A psilocibina, descoberta nos anos 50, é uma substância química presente em certos fungos que pode provocar alterações na percepção e até alucinações. Como no caso de muitas outras drogas alucinógenas, ainda não se sabe descrever exatamente o que se passa no cérebro quando está sob efeito delas.
Quem já passou pela situação de uma tomografia ou ressonância magnética (RMf) sabe que a situação não é muito agradável: ficar 10 a 20 minutos imóvel dentro de uma máquina enorme e barulhenta. Para uma pessoa sob influência de alucinógenos então, pode ser até assustador!
Procurando evitar possíveis “bad trips” e outros efeitos colaterais de ordem psicológica, pesquisadores selecionaram nove sujeitos, aplicaram 2 miligramas de psilocibina nos mesmos e os colocaram em uma máquina de RMf. Só que uma máquina de madeira. O objetivo era verificar se eles conseguiriam fazer o exame sem grandes problemas.
Nesta pesquisa tudo correu bem, portanto aparentemente o caminho está livre para se usar uma máquina de verdade! Pode-se esperar mais notícias sobre a psilocibina no futuro!
20100823_fmrimachine.jpg
Vi primeiro no : NeuroKüz
Carhart-Harris RL, Williams TM, Sessa B, Tyacke RJ, Rich AS, Feilding A, & Nutt DJ (2010). The administration of psilocybin to healthy, hallucinogen-experienced volunteers in a mock-functional magnetic resonance imaging environment: a preliminary investigation of tolerability. Journal of psychopharmacology (Oxford, England) PMID: 20395317

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