Morre, aos 91, o psiquiatra Thomas Szasz
Hoje de manhã recebi a triste notícia do falecimento do famoso psiquiatra Thomas Szasz, que morreu em sua casa, no dia 8 de setembro, aos 92 anos.
Ele se tornou famoso pelas suas críticas feitas à psiquiatria, mas ele não era necessariamente contra a psiquiatria, mas sim contra a internação involuntária de pacientes e o excesso de diagnósticos e medicalização. Eu mesmo já legendei alguns de seus vídeos e tenho alguns de seus livros na minha estante.
Sua ideia era de que os chamados transtornos mentais não são o mesmo que doenças cerebrais, principalmente porque não dispomos de uma maneira de observá-los diretamente. Deste modo, o diagnóstico é subjetivo e dizer que alguém tem um transtorno mental seria o mesmo que dizer que seu gosto por filmes é errado ou doentio. Além disso, pior do que criar vários diagnósticos que acabam por rotular as pessoas, seria “tratá-las” com medicamentos psicotrópicos que podem causar tantos efeitos colaterais.
[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=Wv49RFo1ckQ”]
Apesar disso, ele não era contra os medicamentos usados pela psiquiatria. Nem era contra os hospitais psiquiátricos, mas sim aos abusos cometidos pelas más práticas de alguns profissionais da área. O que Szasz defendia era que nenhuma pessoa deveria ser forçada a tomar um medicamento contra a sua vontade, muito menos ser internada em algum hospital psiquiátrico.
Seu mais famoso livro é “O Mito da Doença Mental”, da década de 60, em que ele discorre sobre esses assuntos. No entanto, nos últimos anos ele têm perdido um pouco de sua credibilidade, principalmente ao se unir à Cientologia para a criação do CCHR, a “Comissão dos Cidadãos para os Direitos Humanos”. Inclusive aqui tem uma foto dele com o Tom Cruise.
Apesar de suas derrapadas, não dá pra negar que Szasz foi um homem incrível, de muita inteligência e cujas críticas merecem muita consideração e não serão esquecidas com sua morte. Toda profissão merece um crítico à altura de Szasz para fazer com que seus profissionais repensem o seu modo de atuar. Encerrarei o post com um dos meus vídeos favoritos dele:
[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=uE0mysIHvvg”]
Thomas Szasz entrevistado sobre a psiquiatria
O site australiano All in the Mind realizou este mês uma extensa (e muito interessante) entrevista com o Dr. Thomas Szasz. Ele pode não ser tão conhecido entre as pessoas fora da psiquiatria, mas já escreveu 33 livros como “O Mito da Doença Mental“, “A Fabricação da Loucura” e “Esquizofrenia: O Símbolo Sagrado da Psiquiatria“, é considerado por muitos um dos “cabeças” do movimento da reforma psiquiátrica nos Estados Unidos e é, além de tudo, psiquiatra e professor na State University of New York!
A visão de Szasz é bastante controversa, e alguns até o consideram muito radical, mas seus livros certamente dão muito o que pensar e ele levanta bons questionamentos como a inexistência da mente, das doenças mentais como algo físico e do excesso de prescrições medicamentosas para problemas comportamentais. Assuntos que eu tentarei aprofundar nos próximos posts.
Por enquanto, vou traduzir alguns trechos que mais me chamaram a atenção:
“Thomas Szasz: A palavra chave é comportamental, é por isso que os psiquiatras frequentemente chamam um transtorno mental de transtorno comportamental. Mas o comportamento não é uma doença, não pode ser uma doença, apenas o corpo pode ter uma doença.”
“Thomas Szasz: Como pode a depressão ser diferente da tristeza? Depressão é se sentir mal, sentir fatigado, com falta de esperança, sem ajuda – e são os sentimentos normais de alguém que se encontra em uma situação de vida muito ruim, que de repende perdeu seu dinheiro ou ficou doente, ou tipicamente é um sentimento comum em idosos. Se você vai a um asilo e olha em volta, é um lugar deprimente, e o que é deprimente no lugar é que é todo mundo depressivo.”
Questionado quanto aos medicamentos e sua eficácia, Szasz diz:
Thomas Szasz: Não vejo dificuldade em explicar isso. O comportamento humano, seja normal ou anormal não acontece no vácuo, obviamente ele é mediado pelo modo como o corpo e cérebro da pessoa funciona, e o fato de substâncias químicas afetarem o cérebro em instituições mentais não é mais misterioso do que cerveja, álcool ou outros tipos de bebida afetarem pessoas normais. Elas vão pra casa após um dia de trabalho, se sentem cansadas e deprimidas e tomam alguma bebida e se sentem melhor. Isto não quer dizer que elas estavam doentes antes. Podemos tomar vários tipos de substâncias químicas que afetam nosso comportamento. Isso de maneira alguma prova que o estado anterior era um estado de doença médica.
Desnecessário dizer, recomendo a entrevista a todos os profissionais da área da saúde!
Entrevista com Thomas Szasz: Parte 1 e Parte 2
(Pode-se ouvir a entrevista clicando em “Listen Now” no site principal, ou fazer o download do mesmo clicando em “Download Now”)
Ah, para quem ainda não viu, também recomendo MUITO este vídeo, do próprio Szasz: