Dez dias em um manicômio

Em 1887 a repórter investigativa Nellie Bly resolveu fingir estar sofrendo de transtornos mentais para ser internada no Blackwell’s Island Insane Asylum (“Asilo para Loucos da Ilha de Blackwell”). Este foi o primeiro manicômio da América, inaugurado em 1839 para ser uma instituição modelo, no entanto, pouco tempo depois os primeiros relatos perturbadores sobre o local começaram a surgir.

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Nellie queria verificar a veracidade destes relatos, e assim que entrou no hospital, voltou a agir naturalmente, prestando atenção em tudo que ocorria ao seu redor, mas ainda assim continuou internada. Em seu livro ela descreve os 10 dias que passou na instituição, destacando o que mais a chamou a atenção, como a facilidade que teve em enganar os médicos, o descaso dos mesmos com as pacientes, o frio que passava durante as noites, a comida estragada que era servida e os inúmeros casos de abusos e maus tratos presenciados com os internos.

“My teeth chattered and my limbs were goose-fleshed and blue with cold. Suddenly I got, one after the other, three buckets of water over my head – ice-cold water, too – into my eyes, my ears, my nose and my mouth. I think I experienced the sensation of a drowning person as they dragged me, gasping, shivering and quaking, from the tub. For once I did look insane.”

É um livro muito interessante para os curiosos e profissionais da saúde mental. Algumas observações da autora nos fazem refletir sobre a loucura:

“What a mysterious thing madness is. I have watched patients whose lips are forever sealed in a perpetual silence. They live, breathe, eat; the human form is there, but that something, which the body can live without, but which cannot exist without the body, was missing. I have wondered if behind those sealed lips there were dreams we ken not of, or if all was blank?”

No entanto, para quem já conhece um pouco sobre a história da psicopatologia os relatos de Nellie não são tão inesperados.

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A psiquiatria e a psicologia são ciências muito novas e que, ainda bem, evoluem rapidamente. Imagine que os primeiros escritos de Freud foram publicados na virada do século passado (+-1900) e o primeiro medicamento antipsicótico só foi descoberto em 1952. Hoje você pode buscar psicoterapia ou um medicamento com certa facilidade, mas e a 100 anos atrás?

A tendência da nossa sociedade sempre foi excluir aqueles que incomodavam. Antes do século passado a mesma coisa era feita os que sofriam de transtornos mentais. Não só com eles, mas se “internavam” nestas instituições os pobres, criminosos, as prostitutas, entre outros. Por muito tempo estes locais foram verdadeiros depósitos de pessoas indesejadas. E isso não é tudo: os profissionais precisavam encontrar uma maneira de controlar os “pacientes” agressivos e perigosos. Sem terapia nem medicamentos, a solução muitas vezes foi correntes, tortura e barras de ferro.

“What, excepting torture, would produce insanity quicker than this treatment? . . . Take a perfectly sane and healthy woman, shut her up and make her sit from 6 a.m. to 8 p.m. on straight-back benches, do not allow her to talk or move during these hours, give her no reading and let her know nothing of the world or its doings, give her bad food and harsh treatment, and see how long it will take to make her insane. Two months would make her a mental and physical wreck.”

Felizmente, depois da publicação do livro, foi feita uma investigação no local e a instituição recebeu um aumento de $850.000 no seu investimento.

Para aqueles que tiverem curiosidade em saber mais sobre a história dos manicômios e transtornos mentais, recomendo também o livro “O Séculos dos Manicômios“, do Isaias Pessoti.

A música de Ana

Lembra da banda Silverchair, que fez muito sucesso no final dos anos 90 e início dos 2000? E de um dos seus principais hits, que se chamava “Ana’s Song (Open Fire)”? Pra refrescar a sua memória, vou deixar o clipe aqui pra você dar uma ouvida enquanto lê o resto do post:

[youtube_sc url=”https://www.youtube.com/watch?v=zNK_r2QAXAo”]
Letra da música: Vagalume

O que nem todo mundo sabe é que esta música foi escrita pelo vocalista da banda, Daniel Johns, para o seu transtorno mental. Pois é, a “Ana” a quem ele se refere não é uma pessoa, mas sim a Anorexia. Daniel começou sofreu do transtorno desde maio de 1996 até aproximadamente o ano 2000. Na anorexia, a pessoa sente que está gorda e faz de tudo para emagrecer cada vez mais. Em uma entrevista, Daniel relatou que comia “apenas o suficiente para ficar acordado”.

” A comida era o inimigo. Eu odiava a sua aparência, o cheiro. Se alguém começasse a falar sobre isso, eu saía da sala.”

Uma curiosidade sobre os transtornos alimentares é que eles raramente aparecem “sozinhos”: muitas vezes eles estão acompanhados de sintomas de ansiedade, depressão, baixa autoestima ou problemas sociais e familiares. Com Daniel não foi diferente, ele teve crises de depressão e chegou a considerar o suicídio em alguns momentos.

Embora tenha buscado tratamento medicamentoso e psicoterápico, Daniel relatou que a melhor maneira dele se expressar era escrevendo músicas. Atualmente a banda Silverchair não existe mais, tampouco o transtorno de Daniel, que segue vivendo da música em carreira solo.

“Eu não sei como saí dessa. Eu acho que me assustei de verdade na segunda ou terceira vez que um médico disse para mim que eu estava morrendo.”

Fontes: Wikipedia e SMH.

Transtorno Obsessivo-Compulsivo: a visão comportamental

Acabei de publicar no Youtube este vídeo do programa TBC News sobre Transtorno Obsessivo Compulsivo com a participação da Profª Drª Ilma Britto (PUC-GO). O programa, voltado para o público leigo, traz algumas informações interessantes sobre o transtorno, mas o que chama mesmo a atenção é o contraste entre a visão da psiquiatra clássica e da Análise do Comportamento.

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=GqgL_qg6G0k”]

A visão da Análise do Comportamento não desconsidera a influência hereditária nem os desequilíbrios químicos cerebrais dos transtornos. Ela complementa esta visão explicando os comportamentos-problema dos transtornos (neste caso as obsessões e compulsões, que seriam os “sintomas” para a psiquiatria) da mesma maneira que explica outros comportamentos ditos normais. Todo comportamento pode ser analisado de acordo com seu ambiente.

Deste modo, a AC se diferencia da psiquiatria por não tratar os transtornos mentais apenas como “doenças” incontroláveis, mas sim como comportamentos que são passíveis de serem analisados e modificados como quaisquer outros. Parece uma visão estranha à primeira vista, mas ela têm produzido bons resultados, e até o psiquiatra disse ao final do programa que recomenda a seus pacientes buscarem a TCC (Terapia Cognitivo-Comportamental).

Entrevista à TV FURG

Esta semana estive em Rio Grande (RS) para ministrar uma palestra na XXI Semana Acadêmica de Medicina da FURG. No dia 03/10, antes da palestra, participei de uma entrevista à FURG TV, em que falamos sobre vários temas como terapia familiar, suicídio, desastres naturais, psicopatologia e blogs.

O vídeo da entrevista já está disponível no Youtube:

[youtube_sc url=”http://www.youtube.com/watch?v=dUQnkyL0x0Q”]

Os transtornos da moda

Ontem publiquei um texto lá no site Comporte-se, vou deixar um pedacinho dele aqui e vocês podem ler o resto clicando no link que deixei no final! 🙂

Os transtornos da moda

Costumo brincar em sala de aula dizendo que um ou outro transtorno está “na moda”. Embora seja só uma brincadeira, ela só é engraçada por que tem um fundinho de verdade.

Um exemplo é a depressão, um transtorno tão comum que têm sido chamado de “o resfriado” das doenças mentais (Keller, 1994). Segundo a OMS (citado por Azevedo et al., 2009) ela é a quarta “doença” mais diagnosticada no mundo, sendo que um sexto da população poderá apresentar alguma manifestação depressiva. 

Podemos fazer alguns esforços para tentar compreender os motivos que fazem um certo transtorno entrar ou sair de moda. De acordo com o Behaviorismo Radical, só se pode compreender um fenômeno comportamental se o analisarmos levando em conta os três niveis de seleção do comportamento: a filogênese, a ontogênese e a cultura. Pretendo neste texto discutir como cada um deles interfere no desenvolvimento ou manutenção de um transtorno.

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O delírio do “Show de Truman”

Entre os transtornos que mais gosto de estudar estão os transtornos psicóticos, e o que mais me fascina neles são os delírios: crenças e afirmações do paciente que não condizem com a realidade, embora ele acredite que seja verdade.

Não é raro encontrar pessoas que apresentam delírios de perseguição, dizendo que foi implantado um chip dentro dela ou que câmeras escondidas estão a filmando. Recentemente li no blog Mind Hacks sobre um caso de um rapaz que trabalhava para um reality show e acreditava que estava no próprio programa.

O Sr. D. trabalhava em um reality show quando foi hospitalizado depois de causar perturbação de ordem pública. Enquanto trabalhava na produção do programa, ele passou a acreditar que ele seria um dos personagens: “Eu achei que fosse um participante secreto do programa. Eu achava que estava sendo filmado e estava convencido de que era um participante e que o programa iria me revelar mais tarde.” Ele também acreditava que seus pensamentos estavam sendo controlados por uma equipe de filmagem paga pela sua família. Nas duas semanas antes de sua admissão, ele experienciou sono reduzido, dificuldade na fala, irritabilidade, paranoia e hiper-religiosidade. O paciente tinha o diagnóstico de transtorno bipolar e já havia sido hospitalizado duas vezes antes, devido a episódios maníacos.

O artigo que apresenta este caso também inclui vários outros do que o autor chama de o “delírio do Show de Truman”, em que a pessoa acredita estar fazendo parte de um programa de televisão, assim como no filme. Uma boa notícia é que o artigo está disponível gratuitamente neste link (em inglês).

Fonte: Mind Hacks

ResearchBlogging.org Gold J, & Gold I (2012). The “Truman Show” delusion: Psychosis in the global village. Cognitive neuropsychiatry PMID: 22640240

“Novela da vida real” – como lidar com um paciente de saúde mental?

Acabaram de me enviar este vídeo de um caso do programa “Polícia 24 Horas” que mostra uma mulher bastante confusa em sua casa, denunciada por um vizinho:

[youtube_sc url=”http://youtu.be/QijbU97UX98″ fs=”1″]

Eu achei o vídeo interessantíssimo, e, embora uns podem o achar engraçado, a graça passa quando a gente se coloca no lugar da família – imagine como é viver nesta casa. Daí o vizinho diz que ela maltrata os filhos (sem nem imaginar porquê), a mãe diz que ela tem depressão e quando surta fica assim e o policial diz que ela teve cinco depressões pós-parto (???).

Não dá pra gente dizer o que ela tem porque esse é só um pequeníssimo recorte da vida dela, mas um discurso confuso desse não é característico da depressão. De qualquer maneira, dar diagnóstico não é meu objetivo aqui (e nem seria possível).

O que me chamou mais atenção nesse vídeo é algo que pessoas que trabalham em saúde mental vêem com frequência: o despreparo da comunidade em lidar com pessoas com transtornos mentais. A mãe da paciente não sabe dizer ao certo o que a filha tem, não consegue ajudá-la a seguir o tratamento e diz ter dificuldade em lidar com seus surtos. As filhas aparentam estar amedrontadas frente à mãe (talvez por terem sido maltratadas antes) e o policial fala com base em ameaças como “eu não quero voltar aqui” e “você vai perder a guarda dos seus filhos”. Tudo que uma mãe quer ouvir durante um surto.

Mas o policial não tem culpa, nem a família dela. Não é culpa nossa se temos tão pouco investimento na área da saúde. Menos ainda na área da prevenção, pois uma família treinada para lidar com uma pessoa com um transtorno mental evitaria muitas dores de cabeça e quem sabe até algumas internações.

* tinha acabado de escrever este post e lembrei de alguns relatos de pessoas que trabalham em CAPS, dizendo que a presença em atividades voltadas à família, como palestras e orientações é quase inexistente. Oh well…

Análise do Comportamento e Psicopatologia

Este vídeo tem sido compartilhado pela internet e eu o recomendo bastante, tanto para leigos quanto para estudantes de psicologia. Nele a Profª Drª Maura Alves Nunes Gongora (UEL) fala sobre Análise do Comportamento e esclarece algumas dúvidas comuns como: qual a diferença do trabalho do psiquiatra e do psicólogo? Qual o papel da bioquímica nos nossos comportamentos? Como a Análise do Comportamento explica problemas clínicos?

Uma solução para a fobia de agulhas

Você sabia que 10% da população mundial tem fobia de agulhas? Eu não estou falando de um simples medo, mas de fobia: a sensação de taquicardia (batimento acelerado do coração), sudorese (suor em excesso) e hiperventilação (respiração acelerada podendo gerar sensação de falta de ar) só de chegar perto de uma agulha. Muitos dizem que preferem morrer a tomar uma injeção (alguns devem ter morrido mesmo por não terem tomado alguma injeção importante).

Embora nossa história de vida modele a pessoa que somos, nunca devemos esquecer que todos nós da espécie humana compartilhamos centenas de milhares de anos de evolução, portanto alguns medos e prazeres são comuns a todos por terem sido importante para a espécie durante a evolução, como o gosto pelo açúcar e o medo de barulhos estranhos na escuridão da noite.

agulha

O tão comum medo de agulhas pode ter parte de sua origem em nossa evolução, em que foi necessário evitar dentes, garras, presas e armas pontiagudas. Em nossa história particular, se tivermos experiências desagradáveis com agulhas esse medo pode se tornar exagerado (fobia) e até se generalizar para outros estímulos associados, como seringas, médicos, jalecos e hospitais.

A terapia comportamental tem um histórico brilhante no tratamento de fobias, com suas técnicas de relaxamento e de dessensibilização. No entanto, estas técnicas podem custar tempo (e dinheiro). Para quem não quer seguir este caminho uma alternativa parece estar próxima: as microagulhas.

Com um décimo da largura de um fio de cabelo, a microagulha não atinge os nervos abaixo da pele, portanto não causa dor. Elas se dissolvem na pele e aparentemente ativam o nosso sistema imunológico de maneira mais eficaz que as injeções tradicionais.

Estas microagulhas ainda estão em fase de testes e devem entrar em circulação só daqui a alguns anos e não substituirão todas as injeções (por exemplo, não servem para coletar amostras de sangue), mas já quebram um galhão pra quem tem fobia de agulha.

Fonte: Cosmos Magazine

Curso Online de Fundamentos em Terapia Comportamental – Turma II

Em função do sucesso do I Curso de Fundamentos em Terapia Comportamental promovido pelo InPA em outubro de 2011, está sendo lançada a segunda turma, agora como um Curso Online de Verão no final de Janeiro.

É uma excelente oportunidade para alunos e profissionais da Psicologia ou outras áreas terem contato com a aplicação dos princípios fundamentais da Análise do Comportamento na clínica. Toda a parte conceitual do curso é trabalhada por meio de exemplos e estudos de caso clínicos trazidos pelos tutores ou pelos próprios alunos, de modo a desenvolver no participante competências comportamentais essenciais para a atuação neste contexto. São elas:

  • Interpretar processos Comportamentais a partir dos Princípios Básicos da Análise do Comportamento;
  • Coletar dados e realizar Diagnóstico Comportamental;
  • Realizar Análise Funcional do Comportamento;
  • Interpretar casos clínicos através da Análise Funcional
  • Elaborar intervenção fundamentada nos princípios da Análise do Comportamento a partir do Diagnóstico Comportamental e da Análise Funcional
  • Reconhecer e utilizar aspectos importantes da relação terapêutica na Clínica Comportamental

O curso possui uma carga horária total de 18 horas (12 horas/aula + 6 horas de leitura) e é totalmente online, portanto é possível assistir de qualquer lugar do país, necessitando apenas de uma conexão com a internet. Cada módulo terá um texto-base, que será disponibilizado para leitura em até uma semana antes da aula. O aluno deverá ler o texto e responder duas questões a respeito, as quais serão corrigidas pelo tutor durante a aula.

Para maiores informações e inscrição, entre em contato pelo e-mailead@inpaonline.com.br ou acesse o site do InPA, clicando aqui.

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