Henrietta Lacks: Imortal


Henrietta morreu há mais de 55 anos, e apesar disto, existem mais células suas atualmente do que quando ela era viva. Células tumorais extraídas de seu útero são cultivadas até hoje e são responsáveis pela elucidação de muitos mecanismos celulares e outras questões importantes como o desenvolvimento da vacina da pólio.
Em fevereiro de 1951, Henrietta Lacks deu entrada no Hospital Johns Hopkins, em Baltimore, EUA, e foi diagnosticada com um tumor cervical. Uma amostra tecido uterino foi enviada ao pesquisador George Gey que estava na época tentando cultivar tecidos humanos em meio sintético, porém sem sucesso. As células de Lacks no entanto cresciam muito bem, num ambiente ideal se duplicam a cada 24hrs.
As células de Henrietta se mantinham tão bem que começaram a ser enviadas a pesquisadores de todo o mundo, recebendo o nome de células HeLa. Na verdade por serem tão resistentes, fizeram tanto sucesso que os envelopes que circulavam com essas amostras ficaram conhecidos como helagramas.
Se você colher uma amostra de tecido própria, um pedaço da sua pele por exemplo, mantendo num ambiente a 37ºC, com oxigenação controlada e meio nutritivo, suas células vão continuar se dividindo como se ainda estivessem no seu corpo. Porém, elas não passarão da 52ª geração, limite conhecido como limite de Hayflick, devido ao encurtamento dos telômeros, uma espécie de controle celular para impedir que células se dividam sem controle (como o tumor que originou as células HeLa). Acontece que as células HeLa são células chamadas transformadas e são capazes de manter-se em divisão constante, o que permite que essas células sejam cultivadas até hoje.
Muita coisa que se sabe hoje em dia foi descoberta graças à elas. Jonas Salk desenvolveu a vacina da pólio nesse tipo de células -inclusive, em algumas pessoas inoculadas com a vacina pequenos nódulos apareceram na região vacinada, indicando uma possível contaminação com as células HeLa.
De tão resistentes e eficazes, as células de Henrietta acabaram contaminando uma série de culturas de tecido com amostras de outra origem, o que gerou vários problemas e muito embaraço por parte da comunidade científica. O padrão seguro de exposição a raios-X para seres humanos foi determinado com base numa amostra contaminada com células HeLa, naturalmente mais resistentes à esse tipo de radiação, o que invalidou muitos dos testes que haviam sido realizados quando se descobriu a contaminação.
Henrietta morreu cerca de 8 meses após seu diagnóstico, em 4 de outubro de 1951, aparentemente seu tumor foi diagnosticado como epitelial típico e tratado com radiação, o que não funcionou (no seu caso, o necessário seria a remoção cirúrgica do tecido). Sua família só ficou sabendo do uso de suas células em 1975, e apesar das diferentes aplicações e inclusive da comercialização de alguns métodos celulares que envolvem o uso de células HeLa, nunca receberam um centavo.
Atualmente se sabe que o que provavelmente causou o tumor de Lacks foi uma infecção com HPV, o herpes papiloma vírus, conhecido por estar presente em grande parte dos casos de câncer cervical, e que tem marcadores moleculares que podem ser encontrados nas células HeLa. Hoje em dia existem várias outras linhagens celulares, de diferentes tecidos, transformadas ou não, mas nenhuma é tão estudada e utilizada como a linhagem de Henrietta.
Alguns pesquisadores consideram suas células como um organismo à parte, ou mesmo uma outra espédie (devido ao número diferente de cromossomos que elas têm, entre outras coias), batizada de Helacyton gartleri.
Fontes:
SEXO E AS ORIGENS DA MORTE – WILLIAM R. CLARK – ISBN: 8501074004
AS DEZ MAIORES DESCOBERTAS DA MEDICINA – MEYER FRIEDMAN, GERALD WIRILDLAND – ISBN: 8535908684
Para mais:
Wikipedia
Artigo do New York Times sobre Henrietta

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