O Brasil cobiçado pelos americanos


Pois é, vamos a mais um daqueles boatos…

Quem nunca recebeu um e-mail com uma figura de uma suposta página do livro educacional “Introduction to Geography” de David Norman:

Na figura, um mapa do Brasil falso, podemos ver que a região amazônica está demarcada como uma reserva Internacional – FINRAF que deve ser tratada como patrimônio universal e que passa a ser administrada pelas nações do G-23. Frequentemente em anexo vem essa apresentação de Powerpoint com a tradução do texto e diversas expressões de indignação. Mas vamos aos fatos:

Tal livro, Introduction to Geography extiste, como encontrei neste e neste links na Amazon, porém nenhum dos dois foi escrito por David Norman, e o escritor (ou escritores) também existe, porém nesta busca você vai descobrir que só existem livros sobre dinossauros, arte e alguns outros temas, mas nenhum de geografia. Por fim, não existem também nem a FINRAF nem o G-23. No site Novo Milênio, encontrei o seguinte texto da tradutora profissional de inglês para português Jussara Simões:

“Não vou comentar o texto todo por falta de tempo, mas o último parágrafo (aquele que fica no canto inferior direito da página) contém erros que só seriam cometidos por pessoas que não têm convívio com a língua inglesa, isto é, por estrangeiros ao idioma inglês. Na minha opinião, isso pode indicar falsificação do texto.

O texto apresenta indícios de que foi escrito por algum nativo de língua latina. Contém a palavra “explorate”, que é palavra em desuso nos EUA e a palavra com mais probabilidade de aparecer num texto desses seria “explore”.

O trecho “We can consider that this area has the most biodiversity in the planet” parece tradução literal do português ou do espanhol e “has the most biodiversity in the planet” não tem sentido em inglês.

“The value of this area is unable to calculate” é “o valor dessa área é incapaz de calcular”. Desde quando valor tem capacidade de fazer contas? Se o autor quisesse dizer que “o valor dessa área é incalculável”, deveria dizer que “the value of this area is incalculable” — isso em tradução literal, pois existem diversas maneiras de se dizer isso em inglês.

O verbo “to calculate” exige sujeito pensante, e “value” não pode ser sujeito de “calculate”, além de vários outros detalhes com relação ao uso de “unable” etc. É uma frase impossível em inglês. “the planet can be cert” também não faz sentido. “won’t let there Latin American countries”, idem. Em resumo, o parágrafo inteiro é inglês macarrônico.
Até o momento, já recebi umas 8 respostas, cada uma mais engraçada que a
outra. Uma delas diz que aquele texto mais parece manual de videocassette
chinês!

Esses meus mais de 20 anos traduzindo do inglês para o português pelo menos me deixaram com o faro apurado para o inglês autêntico e para o forjado por quem não sabe. Assim como a gente ri quando um alemão diz “o salsicha’, os ianques estão rolando de rir do inglês daquele texto falsificado. (Em tempo: só repassei para eles o último parágrafo, pois eu não estava interessada em fazer com que meu país virasse alvo de piadas. O parágrafo que enviei não deixa transparecer do que se trata exatamente.)”

Aparentemente trata-se de um boato criado por brasileiros que gerou discussões enormes e acabou envolvendo muitas pessoas, como Michelle Zwede, professora do Brazil Center da Universidade do Texas, que pediu provas para o site que divulgava o mapa e acabou tendo seu nome usado como autora do texto.

O jornal Estadão publicou uma notícia tomando o boato como verdadeiro e posteriormente se retratou, mas não consegui encontrar as reportagens.

Também ficaria indignado se tal notícia fosse verdadeira, assim como ficaria muito impressionado se fosse encontrado um esqueleto gigante ou uma barata de 5kg, mas não é o caso.

para mais leituras sobre como surgiu e como repercurtiu esse boato:
http://www.novomilenio.inf.br/humor/0111f002.htm
http://www.midiaindependente.org/pt/blue/2001/11/11677.shtml

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2 responses to “O Brasil cobiçado pelos americanos”

  1. oi Atila!Isso me lembra um caso recente: o da tal empresa Biotech, querendo internacionalizar a Amazônia. Site bem cuidado, vídeo circulando em emails, encenação de protesto durante a visita de Bush ao Brasil. Tudo não passava de um jogo da Ambev e guaraná Antartica.E o pior é que ainda tem muita gente que acredita que a tal empresa existe de verdade…Um abraçoMiriam

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