Rainha de copas na sua cozinha


tomate
Hoje um exemplo para ilustrar o que você tem a ver com evolução (além do simples fato de existir). Basta acompanhar a disputa entre o tomate e um fungo.
As plantas, por mais que não aparentem, também estão sob constante ataque, não só de predadores como de parasitas. E para  proteção contra esses últimos, existe uma espécie de sistema imune. A linha de frente desse “sistema imune” é chamada de imunidade basal e consiste em detectar moléculas que os invasores costumam usar e inativá-las. Os invasores também podem contra-atacar e têm para isso moléculas efetoras, que inativam as proteções das plantas. Daí em diante continua aquela disputa evolutiva que dá nome ao blog, agora numa briga gene-a-gene, com genes das plantas que combatem os efetores e genes dos patógenos que combatem os genes que combatem os efetores, e assim segue.
Fusarium oxysporum é um fungo de solo capaz de infectar centenas de plantas -e de ser usado pelo governo americano como agente biológico no combate à coca na Colômbia, dizem as más línguas- e entre as infectadas estão uma série de plantas de importância para o homem, como algodão, melão, pepino, banana e tomate. A infecção se dá pelo sistema de transporte de água da raiz para as folhas, o xilema, o que costuma causar a morte da hospedeira.
No caso do tomate, a história fica interessante. Algumas linhagens de tomate foram selecionadas na década de 40 por serem resistentes ao fungo, e o gene responsável recebeu o nome de  I-1, I de imunidade, capaze de atacar a proteína efetora Avr1, de avirulência, do fungo. Nos anos 60,  depois do aparecimento de linhagens de fungo capazes de infectar o tomate, portadoras da proteína Avr2, foi desenvolvida outra linhagem de tomate portadora do gene I-2. Novamente o Fusarium voltou a atacar, agora na década de 80, em plantações nos EUA e Austrália, agora usando a proteína Avr3. Novos cruzamentos e surge o tomate atual, portador do gene I-3, que consegue combater a proteína Avr3. O que há de diferente agora? Um grupo de pesquisa holandês demonstrou que a proteína que neutraliza o gene I-3 é a Avr1, que já é combatida pelo gene I-1. Um pouco confuso? A coisa fica assim, o fungo até é capaz de neutralizar o novo gene de defeza da planta, mas a proteína que faz isso já é combatida por outro gene, mais antigo. Dessa forma, o tomate ganha a dianteira nessa corrida armamentista combatendo ambas proteínas, e temos indícios de que desta vez deve demorar para que ele volte a perder.
Obs. Dica do dia: pode demorar, mas geralmente esse ciclo não tem fim…
Abaixo o artigo da revista PLoS, que felizmente é de acesso livre!
Houterman PM, Cornelissen BJC, Rep M (2008) Suppression of Plant Resistance Gene-Based Immunity by a Fungal Effector. PLoS Pathogens 4(5)


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